Bem mais que mais uma narrativa criada pela mídia liberal, a reportagem da Folha de S.Paulo em parceria com Glenn Greenwald sinaliza, nos bastidores, o realinhamento de setores golpistas – os mesmos de sempre – que atuam novamente para levar ao poder a política econômica neoliberal em um neofascismo "soft", com bolsonaristas, mas sem Jair Bolsonaro (PL).
Antes de analisar as denúncias vazias da reportagem, que mostram sobretudo a insatisfação de funcionários com as demandas do chefe em um grupo de WhatsApp, é importante analisar o contexto e os atores envolvidos nessa nova trama golpista.
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Alexandre de Moraes: o alvo
Formado nas cadeiras da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Moraes foi alçado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo golpista Michel Temer (MDB) após ser levado para o Ministério da Justiça.
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Nas eleições de 2022, Moraes esteve à frente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e teve atuação fundamental para barrar o golpe articulado por Bolsonaro para permanecer no poder.
A atuação se deu, especialmente, por meio da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED). Lançado por Edson Fachin em 2019, o órgão é subordinado à presidência da Corte eleitoral e foi chefiado por Frederico Alvin, servidor do TSE, até agosto de 2022.
Alvim foi exonerado em agosto de 2022 por Alexandre de Moraes, que colocou em seu lugar Eduardo Tagliaferro, engenheiro e perito de crimes cibernéticos de sua confiança.
Tagliaferro foi detido por violência doméstica contra a esposa no dia 8 de maio de 2023 em Caieiras, região metropolitana de São Paulo. Durante a prisão, a arma com que ele havia disparado foi apreendida. O celular dele também ficou 6 dias sob a responsabilidade da polícia de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos).
No dia 9 de maio, um dia após a prisão, Tagliaferro foi exonerado por Moraes “devido sua prisão em flagrante por violência doméstica e aguardará a rigorosa apuração dos fatos”.
Contrariado, Tagliaferro argumentou à polícia "que jamais colocaria a integridade da família em risco" e que o disparo da arma durante a agressão à esposa teria sido acidental.
Folha e Glenn Greenwald
Defensora da "Ditabranda" e cúmplice do lavajatismo, a Folha de S.Paulo tem um longo histórico de criação de "reportagens" para lançar bases para golpes e/ou fortalecer a burguesia, especialmente a financeira paulista.
No fim de abril, a Folha e a mídia liberal sinalizaram adesão à narrativa golpista de "perseguição" bolsonarista, levada à internacional fascista por Eduardo Bolsonaro (PL) e propagada por Elon Musk na rede X por meio do chamado "Twitter Files Brazil".
Após aderirem à frente ampla para restabelecimento da democracia, Folha, Globo e Estadão sinalizaram o realinhamento às forças golpistas no dia 20 de abril deste ano.
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Na data, véspera do ato convocado por Jair Bolsonaro no Rio para propagar a tese vitimista de perseguição pela "ditadura do Judiciário", os jornalões divulgaram editoriais e reportagens sobre a "censura" de Moraes à "liberdade de expressão".
Em um balão de ensaio – jargão jornalístico para classificar informações plantadas com efeito de potencializar algum fato ou evento –, a Folha de S.Paulo colocou na manchete de seu site que "Malafaia põe STF sob pressão de religião em investigações contra Bolsonaro".
A narrativa na rede X também selou a aproximação entre o ex-The Intercept Brasil Glenn Greenwald e o bilionário Elon Musk, que financia e incita golpes contra governos progressistas que afrontam seus interesses, especialmente na área de mineração, pelo mundo.
Pivô da Vaza Jato, Greenwald se colocou como porta-voz "isento" da internacional fascista contra a "ditadura de Moraes" no Brasil.
Tarcísio, Temer e a pressão sobre Moraes
Em meio a encontros com Luciano Huck e afagos da Globo – que vê no capitão da reserva uma alternativa "limpinha e cheirosa" para a terceira via –, Tarcísio se aproximou de Michel Temer em São Paulo para fazer pressão sobre Moraes para soltura de membros da organização criminosa bolsonarista, especialmente os egressos das fileiras militares.
Um ano após a apreensão de Tagliaferro pela polícia comandada por ele, o governador de São Paulo participou ativamente do lobby para soltar o coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro preso por participar da trama golpista.
Segundo Malu Gaspar, em sua coluna no jornal O Globo no dia 18 de maio de 2024, a decisão de Moraes de soltar Câmara – braço direito do tenente-coronel Mauro Cid – se deu após Tarcísio, Temer e o comandante do Exército, Tomás Paiva, procurarem o ministro dizendo que ele "precisava começar a 'calibrar' suas decisões para diminuir os ataques a ele mesmo e ao Supremo por parte da extrema direita".
Ainda segundo a jornalista, "a soltura de Câmara também entrou no 'pacote' que envolve a absolvição do senador Jorge Seif (PL-SC) no processo que julga a sua cassação no TSE.
"Em troca, o governador descartou nomear um desafeto de Moraes para comandar a Procuradoria-Geral do Estado e colocou no posto um procurador aprovado pelo ministro", segue Malu Gaspar.
A jornalista faz referência à nomeação de Paulo Sergio Oliveira e Costa, ex-diretor da Escola Superior do MP-SP, para a Procuradoria-Geral do Estado. Terceiro na lista tríplice, o novo PGE teria forte ligação e foi indicado a Tarcísio por Moraes.
Temer e Bolsonaro
A colunista d'O Globo ainda afirma que o "lobby" para pressionar Moraes a libertar os bolsonaristas se deu a partir de uma reunião com o advogado Eduardo Kantz, que faz a defesa de Marcelo Câmara.
"Toda a pressão funcionou, e Moraes executou um recuo tático – que, além de operar uma guinada radical na posição do relator do caso Seif, também levou à soltura do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, no último dia 3 [de abril de 2024]", diz.
Com trânsito no meio militar, Eduardo Kantz também é advogado do capitão de corveta Marcela da Silva Vieira, que foi preso nas investigações sobre o furto de joias da Presidência.
Chefe de gabinete adjunto de Documentação Histórica da Presidência – responsável, entre outros, pelas joias e presentes – durante o mandato de Bolsonaro, Marcelo Vieira foi nomeado para a função por Michel Temer em 2017.
Conversas vazadas
Segundo a apuração da Fórum, o vazamento das conversas de assessores de Moraes para Glenn Greenwald e Folha teria sido realizado na capital paulista.
Os diálogos estariam no celular de Tagliaferro. Não se sabe, no entanto, se o próprio ex-assessor de Moraes vazou o conteúdo para vingar sua demissão ou se foi entregue por alguma "fonte" – como citado pelo jornal – que teve acesso ao conteúdo enquanto o iPhone 14 dele estava em poder da polícia de Tarcísio.
Glenn teria procurado a Folha para a publicação para dar mais credibilidade às "denúncias", que até o momento se tratam de um amontoado de conversas entre subordinados de Moraes.
O próprio jornal cunhou a expressão "fora do rito" por não haver ilegalidade comprovada nas conversas já divulgadas.
Com a Folha, Glenn pretende levar o caso à mídia liberal. A "reportagem" já teve repercussão no Jornal Nacional e no Estadão, além de veículos ligados à própria Globo.
Por outro lado, o factoide já ganhou a adesão de Elon Musk para propagar a narrativa nas redes sociais. O clã Bolsonaro também aproveitou a narrativa vazia para incendiar a horda extremista, que se encontrava em brasa.
Com a mídia liberal ao lado, Glenn, Temer, Tarcísio e a horda bolsonarista sabem que não precisam de provas, mas de convicções – como já foi feito em casos emblemáticos, como do triplex que levou Lula à prisão ou das "pedaladas fiscais", que resultaram no golpe contra Dilma.
Ao que tudo indica, o conluio golpista tem como objetivo colocar em marcha um novo golpe para eleger em 2026 um governo fascista neoliberal sem Bolsonaro.
Moraes, que já fez parte das linhas golpistas, está sendo pressionado: ou volta às origens ou será atropelado pela caravana que busca um novo golpe logo ali adiante.