Citado pelo advogado Roberto Bertholdo, que disse em entrevista ao Fórum Onze e Meia que uma ex-deputada o acusou de ter sido o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco, executada em março de 2018 juntamente com o motorista Anderson Gomes, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) permanece calado.
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O silêncio do filho "02" de Jair Bolsonaro (PL) é gritante e revela que o vereador falastrão, estrategista do gabinete do ódio, teme que a ex-deputada, citada por Bertholdo na entrevista, decida revelar agora o que ele "fez no verão passado", como ela já prometeu um dia.
Bertholdo afirmou que uma ex-parlamentar o teria procurado, no primeiro ou no segundo ano do governo Bolsonaro, com provas de que o filho do então presidente seria o mandante da morte da vereadora.
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"Ela me procurou algumas vezes dizendo que o mandante do crime da Marielle era o Carlos Bolsonaro. Foram várias vezes. Eu falava 'você tem provas?'. Ela falou: 'tenho'", relatou Bertholdo.
Nas redes sociais, o advogado afirmou que "caso eu venha a ser chamado para falar na Justiça, por obrigação legal, terei que falar e repetirei tudo o que eu disse, pois tudo é verdade".
"O que eu posso assegurar até agora é que essa [ex-]deputada repetiu esta história inúmeras vezes, inclusive na presença de outros parlamentares, de um membro do Judiciário e de empresários amigos (portanto tenho testemunhas). Ela também contou que essa história - de que o Carlos teria sido o mandante do crime - foi levada por ela para conhecimento do então ministro da Justiça Sergio Moro, que, por sua vez, não tomou nenhuma providência", reiterou Bertholdo.
Apuração desta Fórum identificou que a ex-deputada citada se trata de Joice Hasselmann, que também não se pronunciou sobre o caso.
Alvo do gabinete do ódio, como denunciou à CPMI das Fake News em 4 de dezembro de 2019, Hasselmann, no entanto, já declarou que sabe o que o clã "fez no verão passado".
Em entrevista ao ICL há cerca de um mês, Joice fala de uma conversa com Bertholdo sobre "algo grave que aconteceu no Rio de Janeiro, mas não foi sobre a Abin paralela". No entanto, revela - talvez por medo - não ter provas.
"Na verdade minha conversa com o Bertholdo foi sobre algo do qual eu sei mas não tenho a mínima prova então não tinha como eu autorizá-lo a falar. Contei para ele e para mais algumas pessoas. É algo grave que aconteceu no Rio de Janeiro, mas não foi sobre a Abin paralela", disse na ocasião.
O histórico de denúncias da ex-parlamentar, que foi líder de Bolsonaro no Congresso até 17 de novembro de 2019, mostra que Joice Hasselmann deve ser ouvida por investigadores sobre o caso. E seria de extrema importância ao país que ela resolvesse falar - e mostrar provas - sobre o que sabe do clã Bolsonaro.
Bebianno sabia - e morreu
O temor da ex-deputada de revelar o que sabe sobre o Carlos Bolsonaro tem justificativa. Alçada à liderança do governo, Joice era muito próxima ao ex-secretário-geral da Presidência Gustavo Bebianno, que atuou como coordenador da campanha de Bolsonaro em 2018.
Bebianno foi escorraçado do governo em fevereiro de 2019, como a primeira vítima do gabinete do ódio. À época, Joice classificou a exoneração como "ferida" e se antecipou ao que aconteceria com ela própria.
"Tivemos ali um ferimento, é uma ferida na relação Congresso/governo porque os líderes começaram a me dizer o seguinte: poxa vida, então a gente vai ser tratado assim também? Será que a gente vai ser tratado, vai ser fritado em praça pública?", disse antes de conversa com o ex-secretário no hotel onde ele morava.
Em entrevista ao Roda Viva em 3 de março de 2020, Bebianno revelou o embrião da "Abin paralela", que estava sendo montada por Carlos Bolsonaro.
"Um belo dia o Carlos Bolsonaro aparece com um nome de um delegado federal e três agentes que seriam uma Abin paralela. Isso porque ele não confiava na Abin", disse Bebianno, 11 dias antes de ser encontrado morto.
Ainda segundo o ex-secretário, ele e o general Santos Cruz afirmaram a Bolsonaro que eram contra a ideia.
"O general Heleno (chefe do gabinete Institucional da presidência) foi chamado. Ficou preocupado. Mas ele não é de confronto e o assunto acabou comigo e o general Santos Cruz. Nós aconselhamos o presidente a não fazer aquilo porque também seria motivo de impeachment".
Questionado se o delegado seria o então futuro diretor da Abin Alexandre Ramagem, Bebianno preferiu não responder. “Eu lembro o nome do delegado. Mas não vou revelar por uma questão institucional e pessoal”, afirmou.
Em sua última declaração, publicada na madrugada do dia 14 de março na coluna de Mônica Bergamo, Bebianno afirma com todas as letras: "Todos que tentam trabalhar terminam alvejados pelas costas. O Brasil ainda vai enxergar quem são Bolsonaro e seus filhotes".
Santos Cruz
Na entrevista bombástica ao Fórum Onze e Meia, Bertholdo afirma ainda que a ex-parlamentar federal teria revelado a ele que recebeu informações do general Santos Cruz acerca do assassinato de Marielle.
Ao ser indagada por Bertholdo sobre quais seriam as provas para acusar Carlos Bolsonaro como mandante do assassinato da vereadora, a ex-deputada diz que "quem sabe dessas provas é o general Santos Cruz".
Ministro-chefe da Secretaria de Governo, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz foi o segundo alvo do gabinete do ódio a partir de uma declaração defendendo a regulamentação das redes sociais, em abril de 2019, para evitar que postagens virassem “arma nas mãos de grupos radicais”.
Sob a artilharia nas redes comandada por Carlos, com quem disputava o comando da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência, Santos Cruz foi demitido por Bolsonaro em 13 de junho de 2019.
O estopim para a demissão foi o print de mensagem de WhatsApp em que o então ministro criticava Bolsonaro, "o desequilibrado do filho dele" e o "frouxo do Fábio" - em referência a Fabio Wajngarten, que assumiria a Secom em junho de 2020.
Seis meses após a exoneração de Santos Cruz, investigação da Diretoria de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal revelou que a mensagem distribuída nas redes sociais era falsa, conforme alegava o militar.
À Fórum, Santos Cruz disse que o relato de Bertholdo é "totalmente dissociado da realidade e totalmente descabido". Adicionou que "isso é coisa fantasiosa e irresponsável".
Resta um
Diante da morte de Bebianno e da negativa - em princípio - de Santos Cruz, cujo filho é alvo da investigação da PF sobre a Abin paralela -, Joice Hasselmann é a única em condições de fazer emergir a denúncia feita por Bertholdo na entrevista ao Fórum Onze e Meia.
Procurada, a ex-deputada, que foi alvo de uma das campanhas mais atrozes do gabinete do ódio - quem não se lembra da Peppa? -, resolveu não se pronunciar até o momento. O espaço nesta Fórum segue aberto.
Joice Hasselmann, que já classificou Carlos Bolsonaro como "um psicopata capaz de qualquer coisa", poder ser a responsável por tirar, de vez, o véu sobre um dos crimes mais bárbaros já ocorridos no Brasil - que segue sem definição.
Com a palavra: Joice Hasselmann.