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Young Royals: série da Netflix chega ao fim com dura crítica à monarquia

A trama acompanha a história do príncipe herdeiro da Suécia, que se apaixona pelo colega plebeu da escola

Young Royals: série da Netflix chega ao fim com dura crítica à monarquia.Créditos: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el


Para que serve uma monarquia? Bom, para os povos que vivem fora da Europa a resposta é fácil: colonização, saques de riquezas, toda sorte de genocídios e imposição, a partir de vários mecanismos, de modos de vida. Mas, e para o povo europeu, a existência, em pleno 2024, de famílias reais, ainda possui algum sentido? Essa é a tônica da crítica proposta pela série "Young Royals", produção da Netflix Suécia, que acaba de estrear a sua terceira e última temporada.

A trama de "Young Royals" (2021) acompanha a vida do príncipe herdeiro da Suécia, Wilhelm (Edvin Ryding), que, ao chegar no internato Hillerska, frequentado pela elite do país, se apaixona pelo plebeu Simon (Omar Rudberg), que é de origem latina e frequenta a renomada instituição de ensino graças a uma bolsa.

O castelo encantado não tolera bixas

De pronto, a trama de "Young Royals" pode parecer a versão LGBT+ dos clássicos contos de amor sobre a paixão entre o príncipe e a plebeia, que já possui milhares de versões nos mais variados formatos culturais, porém, a produção sueca vai além e usa das sexualidades não heterossexuais, das pessoas negras e não brancas que vivem no país para tensionar em torno da questão: para que serve a monarquia?

A história de Wilhelm e Simon segue todo o script inicial do conto de fadas sobre o amor do príncipe pelo plebeu, no entanto, o jovem de "sangue comum" desta trama é um imigrante oriundo da América Latina e militante da juventude socialista: aqui será desenhada a fronteira definitiva para os dois jovens, pois, o herdeiro do "sangue azul" acredita que pode transformar os protocolos reais para ficar com o seu grande amor, e o jovem latino e socialista também acredita que pode corromper o sistema por dentro. Mas, basta o amor deles se tornar "oficial" para os dois rapazes entenderem que o castelo encantado não aceita bixas.

Quem primeiro se dá conta da encruzilhada é Simon, principalmente quando o momento da formatura se aproxima e a vida real lembra que é preciso trabalhar e compor a renda mensal de casa, muito distante de seu amado, que deverá iniciar a sua preparação para assumir o trono... mas a monarquia se coloca contra o amor deles? De jeito nenhum, mas Simon teria de abrir mão de sua identidade e vida pública.

Monarquia, Estado e revolução

Por mais que representantes contemporâneos das monarquias tenham feito uma série de pedidos de desculpas por colonizações, genocídios, apoio à criminalização das LGBT+, a estrutura monárquica não comporta mudanças, ela é feita de tradição e reprodução, caso contrário deixaria de existir. Há um momento marcante em que Simon explica isso para Wilhelm, ao dizer para o príncipe herdeiro que não desistiu dele, mas sim da monarquia.

"Young Royals" chega ao fim com extrema originalidade por justamente não cair no conto do "castelo encantado que recebe o príncipe e o plebeu", pelo contrário, a trama desenvolvida por Lisa Ambjörn, Sofie Forsman e Tove Forsman foi profundamente perspicaz ao colocar os elementos como príncipe herdeiro gay, imigração e socialismo para questionar a existência da monarquia e como esta não cabe mais no mundo atual.

Dessa maneira, "Young Royals" se mostra superior à produção da Prime Video, "Vermelho, Branco e Sangue Azul" (2023), que narra a história do príncipe herdeiro do Reino Unido que se envolve com o filho da presidenta dos EUA, aqui o conflito é unicamente como levar adiante o amor sem afetar as instituições, no caso da produção sueca, se dá justamente o contrário: para preservar a amizade e o amor é necessário deixar para trás a instituição monarquia.

Cabe destacar o timing - que foi um lance de sorte - de lançamento da temporada final de "Young Royals": justamente quando a Família Real do Reino Unido vive outra crise e que a população que a sustenta fica às escuras sem saber o que se passa. O que se passa no Palácio de Buckingham?

Além de toda a crítica à instituição monarquia, a série "Young Royals" também traz à tona a revolução sexual em curso no chamado mundo ocidental: assim como a monarquia, a produção também quer afirmar que as tradicionais normas sexuais - mas as de classe também! - precisam ser deixadas para trás... A produção também sabe que a sua história está alocada na guerra cultural travada na Europa e nas Américas: de um lado aqueles que querem reforçar as normas sexuais e, onde houver, o poder monárquico; de outro, os grupos que buscam a transformação total de todas as instituições. O caminho segue em aberto.

 

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