OPINIÃO

Por que a CPI dos Evangélicos pode ser um tiro no pé? – Por pastor Zé Barbosa Jr

Em primeiro lugar é preciso que se diga o que eu não estou dizendo: não há, da minha parte, nenhuma “passada de pano” aos “pastores superpoderosos”

Escrito en OPINIÃO el

Em primeiro lugar é preciso que se diga o que eu não estou dizendo: não há, da minha parte, nenhuma “passada de pano” aos “pastores superpoderosos”. Penso que deva ter uma investigação séria sobre o enriquecimento ilícito de megapastores e as imensas táticas de lavagem de dinheiro, evasão fiscal e tudo aquilo que permita que charlatães vivam nababescamente às custas do povo sofrido que enche suas igrejas, mas...

Penso que a ideia que viralizou nas redes nos últimos dias de uma “CPI das Igrejas Evangélicas”, movimento claramente em resposta à absurda CPI que queriam instaurar contra o Padre Júlio Lancellotti, é um grande “tiro no pé” de parte da militância de esquerda, principalmente nas redes sociais. E tento explicar o porquê desse meu pensar nesta coluna. Analisemos:

Em primeiro lugar, o que nos motiva neste momento? O ódio? A vingança? Parece que não percebemos que tudo o que “eles” querem é exatamente isso: que vivamos no estado de reação, sendo pautados pelos absurdos deles e, reagindo desta forma, legitimando todo discurso de “perseguição religiosa” que eles já incutiram no imaginário popular. A fala perversa do Deputado Eli Borges, líder dessa aberração chamada Bancada Evangélica, de que há uma “igrejofobia” no Brasil é prova disso. Eles estão nos chamando para o jogo deles, no campo deles, e com a bola deles. Se entrarmos nessa, perdemos e perdemos feio!

Em segundo lugar, e não menos importante, e também reforçando a ideia de que estamos jogando o jogo que eles nos colocam, está a banalização do instrumento a ser utilizado: uma CPI. Não é à toa que as CPIs estão cada vez mais descredibilizadas e cansativas, utiliza-se de um recurso que deveria ser último e com elementos muito bem delimitados como se fossem uma coisa do dia adia, como se a instalação de uma CPI fosse uma ação ordinária e corriqueira das Câmaras legislativas. Isso só reforça a atuação da direita que, a qualquer movimento ou implicância, instaura uma CPI e nos obriga ao show de horrores que eles adoram promover para engajamento em suas redes sociais e, consequentemente, a eterna campanha eleitoral em que vivem.

Diria ainda que uma “CPI das Igrejas Evangélicas”, ainda mais se assim fosse denominada, serviria exatamente para aquilo que eles tanto almejam: a generalização do movimento evangélico no Brasil, reforçando ainda mais o discurso daqueles que se arvoram representantes dessa massa, que nem de longe é homogênea. É exatamente na diversidade dos evangélicos que está parte da “salvação” da esquerda. A luta interna dos cristãos progressistas, que acontece há anos longe dos holofotes e das mídias é o que faz com que essa fatia da sociedade brasileira não esteja de todo perdida. Generalizar os evangélicos só ajuda no crescimento do discurso e do poderio da extrema-direita que quer se garantir como representante total desse seguimento.

E quanto aos pastores milionários (que, acredite, são muito poucos em relação a enorme massa de pastores, pastoras, missionários e missionárias pobres, trabalhadores e honestos/as nestes país) e igrejas que manipulam a fé do povo? Que sejam investigadas, E PUNIDAS pelos órgãos competentes. Que a Receita Federal faça uma varredura fiscal nesses empresários da fé, que o Ministério Público investigue e determine investigações nos casos de abuso financeiro e exploração da fé alheia e que a Polícia Federal investigue os vários crimes cometidos por essa gente que vão desde lavagem de dinheiro de políticos e do tráfico, exploração do trabalho análogo à escravidão, abusos sexuais e tantos outros. A fé não pode, definitivamente, ser utilizada para o enriquecimento desses bandidos e a exploração aviltante dos mais pobres.

O que não podemos é, por conta das “vísceras”, entramos no jogo perverso deles, de julgar o todo pela parte, da banalização das CPI’s e, consequentemente, enfraquecimento, criminalização e descrédito da política, o que transforma o espaço que sempre foi de luta ideológica em campo aberto para aventureiros “outsiders” que representam o que há de pior nesses ambientes nefastos de manipulação e exploração populares. No fim das contas, tudo que eles querem é essa CPI, que só lhes dará mais palco, publicidade e, consequentemente, mais dinheiros das muitas ofertas que virão por conta da “perseguição”.

Por essa e outras é que penso que essa efervescência raivosa (e até entendo a raiva contra quem quis perseguir, por exemplo, o Padre Julio) é um tiro no pé. Repito: é jogar no campo deles, com as regras deles, com a bola deles. É urgente que pensemos outros caminhos de enfrentamento e ação, pois o jogo de 2024 e 2026 já começou faz tempo, e, se não ficarmos atentos, podemos perder o pouco que conseguimos reaver em 2022... Nada a temer senão o correr da luta!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.