POLÍTICA ECONÔMICA

Fernando Siqueira: "Juros altos fazem parte da estratégia para frear o Brasil", Por Luiz Carlos Azenha

Depois que o golpe midiático-jurídico-parlamentar derrubou Dilma, em 2016, os governos Temer e Bolsonaro aprofundaram o desmonte da Petrobras em plena era do pré-sal e tornaram o Banco Central “independente”

Fernando Siqueira é diretor administrativo da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet).Créditos: Divulgação - Clube de Engenharia
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Para o diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), Fernando Siqueira, a manutenção da alta taxa de juros pelo Banco Central do Brasil está inserida no projeto geopolítico dos Estados Unidos de evitar uma potência concorrente no continente americano.

A afirmação foi feita em audiência pública sobre a taxa de juros na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.

Durante sua fala, Siqueira fez uma cronologia histórica a partir da Rodada Uruguai, que durou de 1986 a 1994 e resultou na criação de uma Organização Mundial do Comércio que priorizou os interesses de Washington.

Não por acaso, Fernando Collor teria sido escolhido para implementar as diretrizes do Consenso de Washington no Brasil, depois de derrotar Lula nas primeiras eleições presidenciais pós ditadura militar, em 1989.

Collor elegeu-se prometendo abrir o mercado brasileiro a produtos estrangeiros. Ele se referia aos automóveis produzidos no Brasil então como “carroças”.  Collor acabou com a reserva de mercado na informática, que foi criada com o intuito de desenvolver tecnologia nacional no setor.

Em outra concessão aos Estados Unidos, Collor participou pessoalmente da cerimônia de fechamento de um poço supostamente construído para fazer testes nucleares na serra do Cachimbo, no Pará.

Com a queda de Collor, sempre de acordo com Siqueira, foi no governo de Fernando Henrique Cardoso que os Estados Unidos conseguiram emplacar todos os seus objetivos estratégicos para frear o competidor da América do Sul.

Assim que assumiu, FHC igualou as empresas estrangeiras às nacionais, permitindo assim que explorassem sem limites as riquezas minerais, inclusive com financiamento do BNDES; quebrou o monopólio da cabotagem, favorecendo o escoamento dos minérios; privatizou por R$ 3,3 bi a Companhia Vale do Rio Doce, que teria reservas minerais em seu portfólio de R$ 13 trilhões; privatizou a Telebras por R$ 13 bilhões, depois de ter colocado R$ 20 bi no saneamento da empresa; em consequência, foi privatizado o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebras em Campinas, que em tese poderia ter criado um projeto nacional e autônomo de telefonia celular.

Siqueira lista ainda a quebra do monopólio do gás canalizado — que permitiu à Shell comprar a Comgás, maior distribuidora do Brasil —, o fim do monopólio da União sobre o petróleo e a retirada da Petrobras como operadora única como outros ataques à soberania nacional.

Para o diretor da AEPET, o fato de que a National Security Agency (NSA) dos Estados Unidos espionou diretamente a Petrobras e a presidenta Dilma Rousseff — conforme denúncia de Edward Snowden — demonstra que existe um mecanismo de longo prazo para atacar a soberania brasileira.

Depois que o golpe midiático-jurídico-parlamentar derrubou Dilma, em 2016, os governos Temer e Bolsonaro aprofundaram o desmonte da Petrobras em plena era do pré-sal e tornaram o Banco Central “independente”.

Juros altos servem à tarefa de enfraquecer o Estado brasileiro, sustenta Siqueira. Por isso a reticência do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em promover uma baixa significativa na maior taxa de juros do planeta. Investidores internacionais estão entre os que mais lucram ao receber os juros de títulos brasileiros.

Nem o Banco Central, nem o Ministério da Fazenda mandaram representantes à audiência realizada no Congresso.

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