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Ações da família Cid nos EUA apontam para tentativa de manter bens em sigilo - Por Luiz Carlos Azenha

Pai e filhos atuavam conjuntamente em defesa e tirando proveito de sua relação próxima com Jair Bolsonaro

Bolsonaro e Mauro Cid.Créditos: Alan Santos/PR
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Em 20 de fevereiro de 2019, pouco depois de Jair Bolsonaro assumir o poder, o presidente contrariou posições que defendia anteriormente e entregou ao Congresso o projeto de reforma da Previdência, que garfou alguns anos de trabalho dos brasileiros.

Àquela altura, o general Mauro Cesar Lourena Cid, que dirigira o Departamento de Educação do Exército, havia assumido o cargo de chefe da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Miami, com um salário equivalente a R$ 50 mil mensais.

Colega de turma de Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras, Cidão deixou o filho Mauro Cesar Barbosa Cid num cargo-chave do governo federal: o de ajudante-de-ordens, o faz tudo nos bastidores do Planalto.

No dia 21 de fevereiro de 2019 — da entrega ao Congresso da reforma da Previdência —, o Escritório do Tesoureiro e Coletor de Impostos do condado de Riverside, na Califórnia, registrava um truste batizado com o nome de “Cid Family Trust”.

Na definição oficial, “um truste é uma relação fiduciária na qual um fiduciário dá a outra parte, conhecida como administrador, o direito de manter o título de propriedade ou ativos em benefício de terceiros”.

Na Califórnia, a diferença entre fazer um testamento e montar um truste é a privacidade. Em várias jurisdições dos Estados Unidos, os termos de um testamento são públicos. O truste pode ser usado, por exemplo, para esconder o nome de beneficiários ou para evitar que os bens sejam alcançados por medidas judiciais.

O principal bem colocado sob administração do truste da família Cid foi uma mansão avaliada em R$ 8,5 milhões onde vive um dos filhos do general, Daniel, irmão de Mauro. Uma outra casa comprada por Daniel, avaliada em R$ 2,2 milhões, também foi incorporada ao truste.

Daniel também está sob investigação da Polícia Federal. Especialista em segurança digital na Califórnia, ele disseminou fake news sobre a epidemia de Covid numa página que ficava fora do alcance de autoridades brasileiras.

Ouvido pela Polícia Federal, confessou que, a pedido do irmão Mauro Cid, tinha usado a página para espalhar links que continham arquivos em PDF que Jair Bolsonaro queria disseminar.

Foi o caso da cópia de um inquérito sigiloso da Polícia Federal que supostamente “provava” que o sistema eleitoral brasileiro poderia ser fraudado.

Bolsonaro falou sobre o tema em uma de suas lives semanais e indicou o link onde o inquérito poderia ser acessado.

O episódio é alvo de inquérito em andamento no Supremo Tribunal Federal.

Em outras palavras, pai e filhos atuavam conjuntamente em defesa e tirando proveito de sua relação próxima com Jair Bolsonaro.

As suspeitas sobre as transações financeiras da família Cid nos Estados Unidos estão relacionadas à cronologia das ações que adotaram.

Mauro Cid assumiu o posto de ajudante-de-ordens em 13 de dezembro de 2018, antes mesmo da posse de Bolsonaro. O cargo é subordinado ao Gabinete de Segurança Institucional, dirigido pelo general Augusto Heleno.

Semanas depois, o pai assumiu o cargo em Miami.

Em fevereiro de 2019, a família Cid criou o truste na Califórnia. E em 11 de junho de 2020, de acordo com denúncia do jornalista Lúcio de Castro, Daniel Cid criou uma empresa num paraíso fiscal dos Estados Unidos.

Delaware garante blindagem quase absoluta às empresas registradas em sua jurisdição.

Apesar de registrada em Delaware, o endereço de correspondência da empresa de Daniel Barbosa Cid é em Weatherford, Texas. Fica numa empresa que oferece caixas postais com “segurança e privacidade”.

Em junho deste ano, o general reformado Lourena Cid recebeu salário de R$ 42.212,55, sendo mais de 18 mil de “gratificação natalina”. Preso, o tenente-coronel Mauro Cesar, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, recebeu R$ 30.288,24, inclusive mais de 13 mil de “gratificação natalina”.