Dizem que o apressado come cru. Os que cozinham sabem disso. Os que cozinham galo sabem muito mais. É uma carne dura, difícil, mas, ao final, quanto sabor!
Os franceses têm no galo seu prato nacional, "coq au vin" (galo ao vinho) — o que não deixa de ser estranho e um tanto autofágico, já que o galo é o símbolo da França.
Mas, tergiverso. Hoje é Dia dos Pais, que este ano finalmente vão poder comemorar ao lado dos filhos com esperança no futuro, após longos seis anos trevosos, especialmente os últimos quatro, que nos levaram a pensar até que poderia não haver futuro para o país.
Para comemorar este Dia dos Pais, a receita vem do ministro do STF e ainda presidente do TSE, Alexandre de Moraes. É o famoso Galo a Alexandre de Moraes.
Vou logo avisando que a receita é demorada, mas, como já disse anteriormente, o resultado é delicioso, de lavar a alma.
O galo já vem sendo cozido por Alexandre de Moraes há uns dois anos. Em 7 de setembro de 2021, após o galo cantar de galo, Alexandre, sem que ninguém soubesse, nos bastidores da cozinha, depenou o galo e colocou-o para cozinhar em fogo baixo. Mas, antes, tostou-o ainda inteiro no fogo para tirar resquícios de pena — 30 ou mais anos.
O galo, deve-se avisar, é cozido com a cabeça. Embora seja pequena e de cérebro irrelevante e nauseabundo, ela é fundamental para a feitura do prato, já que, quando a cabeça do galo está totalmente cozida e ele não canta mais, o prato está pronto.
Sabendo disso, Alexandre de Moraes vem o tempo todo acompanhando o lento processo de cocção do galo, deixando-o cocoricar, pois sabe que, quanto mais cocorica, mais saborosa a refeição fica.
Difícil para o ministro é controlar a pressa dos comensais (o povo brasileiro), que não aguentam mais o cocoricar do galo e querem que o ministro coloque um ponto final na receita.
Mas, aqui entra a parte boa da notícia. O ministro viu num Rolex de ouro com diamantes que a hora do galo ficar pronto está próxima. O ponto certo, ensina Alexandre de Moraes, é aquele em que a maioria dos defensores da liberdade do galo aceitam seu destino sem dar um pio, quando os comensais poderão enfim se deliciar.
O ministro sabe que o Brasil inteiro vive essa ansiedade.
— Eu também — diz o ministro. Não vejo a hora de executar esse galo. Vai valer a pena.
*Antonio Mello, escritor, blogueiro do Blog do Mello, autor do romance ELA e publica uma crônica todo domingo aqui na Fórum.