A China se manifestou nesta terça-feira (24) sobre o anúncio de cessar-fogo entre Israel e Irã feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no dia anterior.
Durante coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores em Pequim, o porta-voz Guo Jiakun afirmou que o governo chinês acompanha de perto os desdobramentos no Oriente Médio e reiterou seu apelo por uma solução pacífica para o conflito.
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“Não queremos ver uma escalada das tensões e esperamos que um cessar-fogo seja efetivamente alcançado o quanto antes. Os fatos já demonstraram que meios militares não trazem paz. O caminho correto para resolver as questões é por meio do diálogo e da negociação”, declarou Guo.
O porta-voz também exortou as partes envolvidas a retomarem o mais rapidamente possível o processo político.
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“A China está disposta a trabalhar com a comunidade internacional e a se empenhar pela paz e pela estabilidade no Oriente Médio”, concluiu.
Trump reage a possível violação do cessar-fogo
Trump criticou duramente Israel e Irã nesta terça-feira por terem realizado ataques mesmo após o anúncio do cessar-fogo, feito por ele no dia anterior. A reação do ex-presidente evidenciou a fragilidade do acordo, que buscava encerrar 12 dias de combates intensos e mortais na região.
Em declarações repletas de palavrões dirigidas a repórteres, Trump afirmou estar “nada feliz” e acusou Israel de ter atacado o Irã “logo depois de fecharmos o acordo”. Disse ainda que os dois países “não sabiam o que estavam fazendo”.
Segundo um funcionário da Casa Branca, Trump telefonou pela manhã ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e foi “firme e direto” ao exigir o cumprimento imediato da trégua.
O gabinete de Netanyahu alegou que o Irã violou o cessar-fogo ao lançar mísseis logo após a entrada em vigor do acordo, e que o Exército israelense retaliou atingindo um sistema de radar próximo a Teerã.
As Forças Armadas iranianas negaram qualquer violação, e o próprio comunicado israelense indicou que a retaliação foi limitada — o que sugere que ambos os lados, embora reivindiquem vitória, buscam preservar a trégua.
Em postagem na Truth Social, Trump declarou que Israel “não vai atacar o Irã” e que “todos os aviões vão dar meia-volta e retornar para casa”.
As declarações ocorreram pouco antes de Trump deixar Washington rumo a Haia, na Holanda, onde participará da cúpula da OTAN. Caso se sustente, a trégua poderá ser apresentada como um feito diplomático do ex-presidente, em meio a um conflito que ameaçava escalar ainda mais.
No fim de semana, Trump havia ordenado bombardeios contra instalações nucleares iranianas, o que levou Teerã a retaliar com mísseis contra uma base americana no Catar. Os projéteis foram interceptados, mas o episódio levou Trump a anunciar repentinamente o cessar-fogo — uma decisão que pegou até membros de seu próprio governo de surpresa.
Petróleo iraniano e comércio com a China
Após o anúncio da trégua, Trump comemorou a retomada do comércio de petróleo iraniano com a China. Em publicação na Truth Social, escreveu:
“A China agora pode continuar comprando petróleo do Irã. Espero que também comprem bastante dos EUA. Foi uma grande honra para mim tornar isso possível!”
A declaração ocorre num momento em que a China se consolida como o principal comprador de petróleo iraniano, sendo responsável por cerca de 13,6% das importações globais de petróleo cru realizadas por Pequim neste ano. Estima-se que o país adquira 1,38 milhão de barris diários da commodity iraniana — volume que representa aproximadamente 16% de todas as importações chinesas de petróleo em 2024.
Essa dependência torna a China particularmente vulnerável a interrupções no fornecimento causadas por tensões geopolíticas no Oriente Médio. Ainda assim, Pequim mantém um portfólio diversificado de fornecedores — entre eles, os Estados Unidos.
A China também importa petróleo dos EUA, embora esse comércio tenha oscilado nos últimos anos, principalmente devido às disputas comerciais entre as duas maiores economias do mundo.
Entre 2016 e 2018, antes da guerra tarifária, a China chegou a ser um dos maiores compradores de petróleo bruto estadunidense, com picos de importação de até 400 mil barris por dia em 2017 — impulsionada pela revogação da proibição de exportações dos EUA em 2015.
O cenário mudou radicalmente durante a guerra comercial entre 2018 e 2020, quando as compras chinesas despencaram, chegando a quase zero em meados de 2019, em meio às tarifas e retaliações impostas por ambos os lados.
Com o Acordo Comercial da Fase 1, assinado em 2020, a China se comprometeu a aumentar a aquisição de produtos energéticos dos EUA, o que gerou uma recuperação temporária nas importações em 2020 e 2021.
A partir de 2022, no entanto, o comércio voltou a enfrentar dificuldades — tanto pela concorrência com produtores sancionados, como Irã, Rússia e Venezuela (que oferecem preços mais baixos), quanto por razões políticas. Apesar disso, o petróleo dos EUA continua sendo adquirido em volumes menores, sobretudo por refinarias chinesas interessadas em diversificação de fontes.