Um ano sem cercadinho. Um ano sem Gabinete do Ódio. Um ano sem “cuestão”, “talquei” e “no tocante”. Um ano sem ministra que diz ter visto Jesus na goiabeira. Um ano sem chanceler que acredita em “globalismo”. Um ano sem ministro do Meio Ambiente que defende “passar a boiada” na Amazônia. Um ano sem MEC atuando contra a Educação. Um ano sem ministro da Economia dublê de Caco Antibes. Um ano sem ataques a professores vindos do Palácio do Planalto. Um ano sem assessor da Presidência que faz gesto supremacista. Um ano sem motociata (estilo Mussolini na Itália fascista). Enfim, um ano sem o desgoverno Bolsonaro.
Como diz um famoso canto de torcidas de futebol: “O Brasil voltou!”. Temos presidente de novo. Com Lula, voltamos a ser respeitados internacionalmente. Deixamos a “Terra Plana” e retornamos à “Terra Geoide”. Vacinas não mais transformam pessoas em jacarés. Nazismo voltou a ser de extrema direita (e não “de esquerda”). Ciência e universidade voltaram a ter mais credibilidade do que o grupo do zap (com direito a aumento no valor de bolsas de estudo de mestrado e doutorado da Capes e do CNPq). Não por acaso, o assunto mais buscado do ano no Google foi, justamente, a posse do presidente Lula para seu terceiro mandato. Só isso já foi suficiente para 2023 ser um ano (bem) mais tranquilo do que os anteriores.
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Não que o bolsonarismo tenha desaparecido. Longe disso. Logo em 8 de janeiro, os seguidores do “mito” saíram dos grupos de WhatsApp para tentar um golpe de Estado em Brasília, sob a alegação de “fraude” nas urnas na eleição presidencial do ano passado. Deram com os burros n'água. Outro revés para a extrema direita foi a inelegibilidade de Jair Bolsonaro até 2030, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante um evento com embaixadores em julho de 2022 (no qual atacou as urnas eletrônicas, sem provas de que elas não seriam seguras).
Como não poderia deixar de ser, indivíduos ligados à extrema direita (anônimos, famosos e “quase” famosos”) protagonizaram situações esdrúxulas ao longo do ano. No podcast “O Poder nos Bastidores”, o jornalista esportivo Rica Perrone relatou, com orgulho, que ofendeu um entregador de aplicativo.O empresário Alexandre Correa culpou o PT por sua falência financeira e pelas agressões à esposa, a apresentadora Ana Hickmann.
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Em depoimento prestado ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, o ex-juiz Sérgio Moro cometeu erros crassos de português. Por sua vez, Bruno Monteiro Aiub, mais conhecido como Monark, abandonou o Brasil, alegando ser “perseguido” pelo ministro Alexandre de Moraes (para tristeza de seus amigos do PCO). Já o influencer Renato Cariani foi alvo de Operação da Polícia Federal por tráfico de produtos químicos usados para produzir crack. Típico “cidadão de bem”.
Se, por aqui, o saldo político, entre altos e baixos, foi positivo, no cenário internacional a situação foi muito pior, com a intensificação do genocídio do povo palestino por parte do Estado de Israel e do aumento das tensões entre Azerbaijão e Armênia na região de Nagorno-Karabakh.
Na América do Sul, tivemos a eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina, a rejeição da população chilena à proposta de uma nova Constituição, a eleição de Daniel Noboa como o presidente mais jovem da história do Equador e o referendo venezuelano sobre a criação de um estado em Essequibo. Na África, a onda de golpes militares de caráter nacionalista e anticolonial trouxe esperança de tempos melhores. Já no continente europeu, os destaques dos noticiários foram a continuidade da guerra Rússia/Ucrânia, a adesão da Croácia à zona do Euro, o falecimento do filósofo italiano Antonio Negri e o ataque a tiros em uma tradicional universidade de Praga, que deixou mortos e feridos.
No universo tecnológico, 2023 foi marcado pelo avanço da Inteligência artificial (IA), considerado o “termo mais notável do ano” pelo dicionário britânico Collins. Nos esportes, as “pipocadas” da seleção brasileira feminina na Copa do Mundo e do Botafogo no Campeonato Brasileiro foram os assuntos mais comentados. Por outro lado, Bia Haddad apresentou um desempenho positivo em competições internacionais de tênis (algo que não ocorria desde a época de Maria Esther Bueno).
No cenário cultural, tivemos a bem-sucedida turnê dos Titãs com a formação clássica da banda, o novo disco dos Rolling Stones, o sucesso de público e as polêmicas envolvendo o filme “Barbie” e as perdas de Rita Lee, Tina Turner e Carlos Lyra.
Conforme dados divulgados pelo Google, neste ano, as personalidades mais pesquisados pelos brasileiros no principal site de buscas na internet foram Kayky Brito, Larissa Manoela, Ana Hickmann, Daniel Alves e Sidney Sampaio. Entre os acontecimentos mais procurados virtualmente, estiveram a Copa do Mundo Feminina, o submarino desaparecido da empresa OceanGate Expeditions com cinco milionários a bordo, a Guerra em Israel e Gaza, o Eclipse solar e o terremoto na Turquia ocorrido em fevereiro.
Outros destaques do ano foram a onda de calor no Brasil, o transplante cardíaco do apresentador Fausto Silva, o recorde de casos de ataques em escolas brasileiras, a (merecida) outorga do título “doutor honoris causa” aos Racionais MC's, aprovada pelo Conselho Universitário da Unicamp, a CPI dos Atos Antidemocráticos, as ofensas xenófobas contra paulistas feitas pela chefe da Assessoria Especial do Ministério da Igualdade Racial, Marcelle Decothé, o afundamento da mina da Braskem em Maceió, a aprovação da privatização da Sabesp na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a escolha de Dilma Rousseff como “Mulher Economista de 2023” por “legado e expertise”, as indicações de Zanin e Dino para o Supremo Tribunal Federal, a promulgação da Reforma Tributária e o esvaziamento de manifestações bolsonaristas país afora (que fase!).
E assim finalizamos o primeiro ano do terceiro mandato presidencial de Lula sem igrejas fechadas, sem perseguição a cristãos, sem bêbes recebendo mamadeiras eróticas, sem banheiro unissex, sem kit-gay, sem doutrinação comunista nas escolas, sem marxismo cultural, sem ideologia de gênero e sem confisco de propriedades privadas. Quem sabe, em 2024, a ditadura comunista do PT, enfim, seja implantada.
Parafraseando a grande pensadora contemporânea Lívian Aragão, mais conhecida pelo aposto “filha do Didi”, no próximo ano (bissexto), todos teremos 366 dias para aumentar nossa produtividade. O sol nascerá para todos. Nessa lógica meritocrática, só não vai ter um feliz 2024 quem realmente “não sair do lugar” e “não se esforçar o suficiente”.