A versão demo da canção “Now and Them”, deixada por John Lennon em uma fita cassete com a inscrição “for Paul” já circula há muitos e muitos anos e não é novidade alguma pra quem acompanha a banda inglesa The Beatles.
Nunca achei a canção grandes coisas e duvidava que dali fosse sair algo bom, como foi o caso de “Real Love” e, sobretudo, a linda “Free as a Bird”, as duas lançadas na série “Anthology”, de 1995.
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A promessa dos Beatles remanescentes, Ringo Starr e Paul McCartney, é que a canção seria lançada de maneira simbólica como a última da banda, ao lado de uma versão de “Love me Do” – o primeiro single do grupo, de 1963. Um ciclo que se fechava.
Emoções à parte, coisa que os Beatles, principalmente McCartney, sempre foram especialistas em proporcionar, havia a expectativa, enfim, do que poderia virar aquela demo de Lennon um tanto mal gravada e muito simples.
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Cerca de 15 minutos após seu lançamento mundial, nesta quinta-feira (2) de novembro, feriado de finados, ligo todo o equipamento em alto e bom som e já sou o ouvinte número 18 milhões e pouco a ouvir a canção. A sala então se enche do mais puro e característico modelo musical que tem me acompanhado desde a infância.
Lá estão os quatro juntos novamente e, o que é melhor, o som genial que sempre produziram mais uma vez se repetia diante da minha mudez estupefata. A voz de Lennon, vinda direto dos anos 1970; a guitarra de George Harrison de 1995; e Ringo e Paul reunidos em 2022, conseguiram a proeza de serem os Beatles mais uma vez. A última vez.
Inteligência Artificial
A inteligência artificial limpou os ruídos da demo de Lennon até seu canto se tornar claro e cristalino. O mesmo com os solos de Harrison, que havia rejeitado a demo em 95 tamanha a sujeira sonora. McCartney e Ringo fizeram o resto, ou seja, o bom trabalho de sempre.
Somado a isso tudo, foram anexadas cordas arranjadas por Giles Martin, filho do lendário produtor George Martin. No final das contas, estava tudo ali. A mágica dos Beatles revista, revisitada e recriada mais uma vez.
Ouvi uma dezena de vezes. Tudo na gravação se encaixa perfeitamente. Violões acústicos, os vocais típicos, que ora lembram “Because”, ora outras canções mais simples, o piano que Paul substituiu e emulou como se o lendário parceiro tivesse ali tocando.
O primeiro instrumento colocado na gravação foi o velho baixo Hofner, que McCartney mais uma vez criou suas linhas melódicas que tanto caracterizaram seu som ao longo dos anos. No final das contas, entra o que talvez seja uma das coisas mais emocionantes de toda a gravação, a levada de bateria de Ringo, com suas batidas nos tons tons, sua condução firme e única.
No fim, o amor que se recebe é o mesmo que sempre se deu. São, de fato, os Beatles juntos novamente, com toda a sua majestade.
Ouça a demo de Lennon abaixo:
E a versão final dos Beatles: