CAMINHO SEM VOLTA

Em sua última entrevista, John Lennon confirmou: Seu casamento com Yoko pôs fim aos Beatles

Entrevista publicada no mês e ano em que Lennon foi assassinado

Créditos: Foto: Simon Harriyott
Escrito en CULTURA el

John Lennon e Yoko Ono deram uma entrevista sensacional à Playboy, que foi publicada na edição de dezembro de 1980 da revista, ano e mês do assassinato de Lennon, dia 8.

Nela, Lennon abriu o jogo. Falou de suas afinidades e diferenças com cada um dos Beatles. Disse o que pensava deles como pessoas e musicalmente. Contou como foram compostas algumas das mais famosas canções do grupo e, finalmente, assumiu que foi seu casamento com Yoko Ono que pôs fim definitivo aos Beatles.

LENNON: Eu era um Beatle, mas as coisas começavam a mudar. Em 66, pouco antes de a gente se conhecer, fui a Almería, Espanha, para fazer o filme How I Won the War (Ah, Que Delícia de Guerra). Fez muito bem a mim. Fiquei seis semanas. Lá escrevi Strawberry Fields Forever. Me deu tempo para pensar, longe dos outros. Daí para a frente, passei a procurar um caminho para seguir, mas não tinha o ímpeto de pular para fora do barco por minha conta e empurrá-lo para longe. Quando me apaixonei por Yoko, meu Deus, foi uma coisa diferente de tudo o que eu tinha conhecido. Foi indescritível.

PLAYBOY: Apaixonar-se por Yoko e deixar os Beatles são duas coisas interligadas?

LENNON: Como eu disse, eu já tinha começado a querer sair [dos Beatles], mas quando conheci Yoko é como quando você conhece sua primeira mulher. Você deixa os amigos do bar. Você não vai mais jogar futebol. Você não vai mais jogar sinuca ou bilhar. Talvez alguns caras façam isso na sexta-feira à noite ou algo assim, mas uma vez que eu encontrei a mulher, eles passaram a ser apenas os velhos amigos da escola. "Those wedding bells are breaking up that old gang of mine.” [referência a uma canção de Gene Vincent, que fala da separação da turma a partir do momento em que os rapazes vão se casando]. Casamos três anos depois, em 1969. Esse foi o fim da turma. A diferença é que os rapazes eram bem conhecidos e não eram apenas uns caras locais no bar. Todo mundo ficou muito chateado com isso. Teve muita merda jogada na gente. Muita coisa odiosa.

YOKO: Até hoje. Acabei de ler que Paul disse: "Compreendo que ele queira estar com ela. Mas por que tem de estar com ela todo o tempo?"

LENNON: Yoko, você ainda tem de carregar essa cruz? Isso foi anos atrás.

YOKO: Não, não e não. Ele disse isso recentemente. Fui para a cama com o cara de quem eu gostava e, de repente, na manhã seguinte, vejo aqueles três irmãozinhos lá na minha frente.
 

Problemas com Paul


LENNON: Sempre achei que havia algumas insinuações de Paul em Get Back. Quando estávamos no estúdio, gravando, cada vez que ele cantava "Get back to where you once belonged" [Volte para o lugar que foi seu um dia], ele olhava para Yoko.

PLAYBOY: Você está brincando.

LENNON: Não, mas talvez ele diga que eu sou paranoico. Houve um período em que Paul chegava em casa, e simplesmente batia. Eu o deixava entrar. Até que lhe disse: "Por favor, telefone antes. Não estamos mais em 1956 e abrir a porta não é a mesma coisa". Ele ficou irritado com isso, mas eu não o disse por mal. Só queria dizer que a gente ficava o dia inteiro cuidando do bebê e que, de repente, chegava um cara batendo à porta...

PLAYBOY: Foi a última vez que você viu Paul?

LENNON: Sim, mas eu não queria isso.

PLAYBOY: Então, falemos do trabalho de vocês juntos. Como funcionava a parceria Lennon-McCartney?

LENNON: Bem, talvez se pudesse dizer que ele oferecia a claridade, o otimismo, enquanto eu sempre tendia para a tristeza, um cortante pessimismo. Houve um período em que eu pensei que não escrevia melodias, que Paul fazia todas, e eu, só rocks diretos e estridentes. Mas é claro que, quando me lembro de In My Life, ou mesmo coisa velha como This Boy, vejo que também sabia fazer melodias. Paul tinha muita técnica, podia tocar um monte de instrumentos. Ele dizia: "Por que você não mudou isto aqui? Você já usou esta nota cinquenta vezes". Mas era eu quem desenvolvia, levava em frente uma canção — que, em geral, Paul começava.
 

O que pensava dos Beatles se reunirem novamente


PLAYBOY: Não acha que seria interessante — nada transcendental, só interessante — vocês se reunirem, com essas novas experiências, e promoverem esse cruzamento de talentos?

LENNON: Não seria interessante trazer Elvis de volta para seus anos iniciais? Mas não quero tirá-lo do túmulo. Os Beatles não existem e não podem existir de novo. John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Richard Starkey podem fazer um concerto, mas não serão mais os Beatles, porque não temos mais 20 anos. Não podemos ser o que não somos. Teremos de ser crucificados outra vez? De andar sobre as águas de novo, só porque um bando de idiotas não assistiu à cena na época, ou não acreditou naquilo que via? Nunca. Não dá para voltar para uma casa que não existe mais.

Leia a entrevista completa, cheia de informações para os beatlemaníacos, na Playboy.

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