Eduardo Bolsonaro nacionalista? Me engana que eu gosto — por Yuri Ferreira
Eu não me esqueço: Braga Netto tentou vender ideia revivida por Eduardo Bolsonaro e não passou de bravata
O ano era 2020: o general Braga Netto, hoje preso por tentativa de golpe de Estado, ocupava o posto de ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro.
O militar apresentou o plano 'Pró-Brasil'. A ideia era reconstruir o país com grandes obras de infraestrutura, retomando o modelo neodesenvolvimentista do PAC de Lula, mas com outro nome para não dar muita bandeira.
Nas redes, muitos admiravam-se: "veja, é a guinada nacionalista do governo Bolsonaro". Tão impossível que era, desapareceu. Ninguém lembra dessa história. O plano era natimorto. Mas eu lembro.
A verdade é que muita gente do chamado campo "nacionalista", que agrega alguns ciristas e outros aduladores de Plínio Salgado, tem sonhos molhados com a ideia de que, um dia, bolsonarismo poderia fazer uma transição a uma espécie de nacionalismo soberano.
Bolsonaro poderia reencarnar o ditador Geisel e utilizar o orçamento do país para dar um salto de desenvolvimento com obras públicas e investimentos em tecnologia. Não rolou:
O discurso voltou agora com Eduardo Bolsonaro, que fez um vídeo elogiando o Império, a República Velha, a Era Vargas, Kubitschek e até contemporizando João Goulart, além, é claro de valorizar a ditadura.
O objetivo é claro: para tentar se desviar das críticas de que está tramando um plano contra a soberania nacional, posa de nacionalista.
É, de maneira lógica, uma estratégia para 2026 — no projeto pessoal de Eduardo, que quer tomar o lugar do pai — de se mostrar como um defensor do povo brasileiro e não como um entreguista, realidade inegável que certamente será usado na campanha do ano que vem pelo campo democrático contra os golpistas.
O problema é que todo esse nacionalismo e soberanismo aparente dos bolsonaristas sempre misteriosamente desaparece. Basta um sorriso de Trump ou uma pressão da Faria Lima que tudo isso se esvai.
Era factualmente impossível que Braga Netto tivesse um plano neodesenvolvimentista em seu governo porque ele era comandado por Paulo Guedes.
É politicamente impossível para Eduardo tentar conseguir transformar sua imagem de lambe-botas dos Estados Unidos por fazer um vídeo falando de Getúlio Vargas.
Na disputa histórica pela soberania do Brasil, o bolsonarismo está no mesmo campo ideológico da UDN. É uma corja de serviçais e lacaios dos EUA.
Ah, mas o governo Lula é neoliberal! Se posam as críticas — muitas delas válidas — acerca das prioridades econômicas do governo Lula, é impossível compará-las com as de Bolsonaro.
Ah, mas na campanha! Na hora do pegapacapá, quem paga a banda escolhe a música. E o dinheiro do bolsonarismo, oriundo do agro, da Faria Lima e do centrão, vai silenciar rapidamente quaisquer sonhos de desenvolvimentismo que eles porventura ensaiem apoiar.
Ah, mas a extrema direita global é antineoliberal! Uma coisa é a Europa, outra é o Brasil. Alhos e bugalhos.
Os arroubos pontuais de nacionalismo por parte de Braga Netto, Eduardo Bolsonaro e os que mais vieram são sintomas raros da doença entreguista que eles mesmos encarnam.