Matança por engano? Disputa entre milicianos, aliados a traficantes?
Esta parece ser a mais forte hipótese na investigação sobre o bárbaro crime que tirou a vida de três médicos de São Paulo – que estavam no Rio para um congresso de ortopedia. Às suas famílias, toda solidariedade.
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A atrocidade fratura ainda mais a nossa sociedade, onde armas, tiros e mortes fazem parte do cotidiano.
Também ontem, uma família de ciganos foi chacinada em Jequié. Deságua o Rio de sangue na Bahia.
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Em meio à perplexidade, as execuções sumárias vão se tornando comuns. Há "escritórios do crime" com amparo oficial, o tráfico de armas é lucrativo negócio, matar e morrer são "naturalizados".
A impunidade e a cultura do ódio alimentam esses crimes. Dentro desse contexto, são todos crimes políticos, ainda que sem motivação partidária.
O Rio virou "unidade miliciana da Federação". Um "estado miliciano", onde se mata à vontade em avenida movimentada, iluminada, cheia de câmeras de monitoramento. Quem monitora?
Aqui e ali, polícia e milícia trocam de funções. Tem policial miliciano e miliciano policial, num imbricamento criminoso. A polícia sabe o que a organização criminosa faz, e vice-versa. E fica tudo como está.
Traficantes e milicianos – estes com a simpatia "histórica" de poderes corrompidos – que antes eram concorrentes, agora fazem "alianças" de negócios e controle territorial. Até onde a brutalidade chegará?
É certo também que as polícias, quando querem, com ciência e inteligência, desvendam delitos e capturam delinquentes, mesmo os protegidos por altos muros. O problema é saber quando querem...
As instituições do Estado não podem ficar capturadas pelas forças da destruição, da crueldade, da morte. Isso é necropolítica, degradação letal.
Não adianta também, por melhor que seja a intenção, anunciar mais verbas federais para compra de armas e blindados. Já vimos esse filme.
Marielle e Anderson foram assassinados durante intervenção federal na Segurança Pública no Rio, sob o comando do general Braga Netto, que depois viria a ser ministro da confiança de Bolsonaro.
O motivo alegado da intervenção: combater a violência e o tráfico de drogas na cidade. Funcionou? O resultado mais visível dessa guerra às drogas foi o enorme número de mortes de jovens e negros das favelas e periferias.
Basta de mortes de inocentes.
*Chico Alencar é escritor, professor de História e deputado federal eleito pelo PSOL-RJ