No dia seguinte à execução dos médicos na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, o quiosque estava funcionando normalmente. Vídeos que circulam na internet mostram os clientes sentados e consumindo. O jornalista Guga Noblat, que estava no Rio hospedado a 600 metros do local do crime, foi um dos que divulgou as imagens. “Vida que segue no quiosque onde assassinaram três médicos no Rio de Janeiro. Um uber me contou que poucas horas depois do tiroteio, o quiosque já voltou a atender clientes”, escreveu.
Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia desta sexta (6), o deputado federal Reimont (PT-RJ) refletiu se era o caso de o quiosque já estar aberto e funcionando. Será uma naturalização da barbárie?
“Eu me reportei à morte de Ayrton Senna, quando, naquele momento, a corrida automobilística deveria ter sido parada, o mundo tinha que ter parado, porque a gente sabia o que estava por trás de tudo aquilo. Fico pensando que a banalização da vida acontece de uma maneira tão profunda e nós precisamos resgatar o valor da vida, qualquer que seja ela, a vida nossa, a vida do semelhante, a vida do planeta, a vida que pulsa em nós, que pulsa na criação”, afirmou.
“Fico pensando, esse congresso [Congresso de ortopedia em que os médicos participariam] tinha clima para continuar? É um pouco isso, parece uma coisa absurda, mas não é absurda, porque a mesma reflexão em relação ao quiosque, no dia seguinte tinha que estar funcionando? Ou a gente começa a repensar a nossa história humana, a nossa relação humana, a nossa relação planetária, ou então a gente vai caminhar para a barbárie”, lamentou.
Para o deputado, o que aconteceu na madrugada desta quinta (7), quando os médicos Perseu Ribeiro Almeida, Marcos de Andrade Corsato e Diego Ralf Bomfim morreram e Daniel Sonnewend Proença foi baelado, foi uma barbárie e ele relaciona com o crescimento de grupos criminosos na cidade.
“Os grupos paramilitares, os grupos criminosos, sejam eles do tráfico de drogas, sejam eles das milícias, ampliaram muito o seu poderio na cidade. E esse poderio aumentado na cidade traz insegurança para todos nós, nós que vivemos no Rio, sabemos os riscos que corremos, mas a gente acaba encontrando os nossos escapes. A gente tem algumas regras de conduta, regras de convivência, a gente frequenta aqui, frequenta ali, em alguns horários aqui, em outros horários ali, mas o povo que vem para o Rio de Janeiro, as pessoas que olham o Rio de Janeiro de longe pensam que em cada esquina, em cada poste, atrás de cada poste, atrás de cada prédio, tem uma pessoa armada nos assaltar a qualquer momento. Isso não é verdade. Só que quando acontece um caso como este, que aconteceu na Barra da Tijuca, toma uma proporção gigante, por vários motivos, e nós não queremos aqui hierarquizar, a gente tem também a morte dos meninos nas favelas, as operações policiais que usam muito pouco de inteligência, a gente também tem muita morte de policial, muito policial matando, muito policial morrendo”, comentou.
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