O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, André Ceciliano, pré-candidato do PT ao Senado, mantém uma aliança com o governador do Estado, Cláudio Castro (PL), considerado o mais bolsonarista dos governadores, e trafega com desenvoltura no bolsonarismo. A proximidade com Castro é correspondente ao antagonismo e antipatia de Ceciliano em relação ao candidato da aliança PT-PSB ao governo, Marcelo Freixo.
Ao longo dos meses, Ceciliano tem justificado sua proximidade com Castro pela necessidade de uma relação “institucional” com o governador, pelo fato de ser presidente da Assembleia Legislativa. A proximidade "institucional" parece ser insuficiente para explicar as cenas públicas de afeto entre os dois. Circulam nas redes sociais fotos de Ceciliano beijando Castro e em abraços calorosos. O presidente da Assembleia justifica os gestos afirmando que é seu “jeito de ser”. No entanto, não há registro de beijos de Ceciliano em Freixo.
Não há registro de uma crítica sequer de Ceciliano a Castro, nem mesmo quando o governador, no fim de maio, referiu-se às pessoas assassinadas por policiais durante a chacina do Jacarezinho como “vagabundos”. Na Chacina do Jacarezinho foram mortos 27 moradoras e moradores e um policial.
Apesar de Ceciliano afirmar sua relação meramente protocolar com Castro, ele seria, segundo políticos do Rio, o padrinho do secretário de Obras do estado, Rogério Brandi. Ceciliano nega, afirmando sequer conhecer o secretário. Mas Brandi afirmou recentemente à Coluna do Estadão ter "relação de amizade de anos" com o presidente da Assembleia petista e que, por conta disso, tem “procurado atender a todos os pleitos do parlamento estadual".
Veja fotos de Ceciliano com Castro que circulam nas redes sociais:
Em diversas entrevistas, Ceciliano tem alardeado a existência de um suposto voto “Lula-Castro” no Rio e não esconde sua simpatia pela fórmula que segundo ele, seria “natural”. Ceciliano não se contenta com declarações sobre o tema, mas começa a participar ativamente de um movimento de uma “aliança” única no país entre o bolsonarismo e o PT. Ele é presença confirmada num evento que acontece em 30 de julho, promovido por Marco Antônio Cabral (MDB), filho do ex-governador Sérgio Cabral e que trafega na área Castro-Bolsonaro. Ao lado de Ceciliano, na foto da convocação, Castro e seu pré-candidato a vice, Washington Reis.
Veja a convocação:
A relação de Ceciliano estende-se a outros líderes do bolsonarismo no Rio, como o próprio filho de Jair, o senador Flávio Bolsonaro (PL-Rio) e o deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB).
Rodrigo Amorim ficou conhecido por, ao lado de Daniel Silveira e Wilson Witzel, na campanha de 2018, ter partido ao meio uma placa com o nome de Marielle Franco. Veja abaixo foto de divulgação de encontro de Silveira e Amorim, no gabinete do segundo, segurando sorridentes metade da placa emoldurada -nela, lê-se parte do sobrenome de Marielle Franco e a expressão “Direitos Humanos”. Note que ao fundo, emoldurado, está um fuzil -e a foto do senador Flávio Bolsonaro.
Amorim e Ceciliano participaram, há cerca de um mês, de um programa da Rádio Tupi, no Rio. Há um vídeo de trechos da entrevista. Neles, os dois chamam-se mutuamente de “irmão” e Ceciliano faz uma referência claramente amável a Flávio Bolsonaro.
A gravação circulou em redes de ativistas de esquerda e gerou reações na direção do PT.
Veja:
Não se encontra nas redes de Ceciliano ou nos arquivos da Assembleia Legislativa do Rio uma crítica ao governador Cláudio Castro. Nem mesmo nas seguidas chacinas ocorridas nas favelas e periferias do Rio ao longo do seu curto governo. Castro é detentor de uma marca macabra: com pouco mais de um ano no poder, desde maio de 2021, Castro (PL) é responsável por três das cinco chacinas mais letais da história do Rio de Janeiro. Nenhuma crítica de Ceciliano.
A conquista de Ceciliano da Presidência da Assembleia Legislativa do Rio é um mistério. Não há precedente de um parlamentar de esquerda presidir uma Assembleia controlada pela direita -no caso, pela extrema direita.
O PT tem apenas dois deputados estaduais no Rio. Toda a esquerda e centro-esquerda somadas têm mais 10 (PSOL, PSB, PDT, PCdoB e PV). Mesmo assim, Ceciliano é presidente. Um mistério.