CRÔNICA

Primos à distância – Por Esther Rapoport

Me faz tão bem viver, mesmo que apenas virtualmente, essas relações, que resolvi continuar pensando neles e fui para o Google ver o que se fala sobre o tema. Seguem as minhas descobertas

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Resolvi escrever este capítulo depois de horas de conversa, nos últimos dias e semanas, com meus primos e primas.

Me sinto ainda embalada pelo carinho e afeto que transbordam em mim após essa terapia digital, essa troca de notícias, fofocas e declarações de amor com eles(as), primos(as) queridos(as) espalhados(as) pelo Brasil: em São Paulo, Atibaia, Rio, Teresópolis, Petrópolis e Recife.

Sempre adorei meus primos e primas, e nesse momento de distanciamento, com um oceano real e psicológico que existe entre nós e do deserto afetivo onde me encontro, fico particularmente feliz de ter e manter esses laços de amizade, de afinidade e de histórias comuns.

E parei de pensar nessa relação que não é nem de irmãos nem de amigos, mas de algo que une vínculos familiares, histórias parecidas, compartilhamento de experiências passadas com lembranças comuns, mas com um certo distanciamento saudável de não ter tido que dividir os mesmos pais nem o mesmo quarto. Uma distância perfeita.

Me faz tão bem viver, mesmo que apenas virtualmente, essas relações, que resolvi continuar pensando neles e fui para o Google ver o que se fala sobre o tema. Seguem as minhas descobertas.

A origem da palavra é latina, como já esperava, mas é mais complexa:

“Irmão”, que em latim a gente acha que é “frater”, na verdade era “frater germanus”, ou seja, “irmão verdadeiro”, filhos do mesmo pai e mesma mãe. Depois “frater” foi sequestrado pela Igreja e cada língua neolatina foi criando sua variante (hermano, fratello, frere, irmão...).

Mas se existia um “irmão verdadeiro” era porque existia um outro tipo de irmão, que ainda era consanguíneo, mas não dos mesmos pais: “consobrinus”, traduzindo: sobrinhos juntos, e para os de primeiro grau, “consobrinus primus”, depois apenas “primus”.

E do “con” + “so”, que seria de soror (irmã... essa explicação é longa e fica para outra hora), os franceses criaram o “cousin”, que o Inglês medieval adotou quase igual, os itálicos transformaram em “cugino”, os dinamarqueses “kusine”, os poloneses “kuzyn”. E assim as crianças começaram a brincar de médico com seus “primus”!

Do ponto de vista genético, aprendi que existe um coeficiente de parentesco ou coeficiente de consanguinidade, que mede o percentual de DNA compartilhado entre os membros de uma família. Por exemplo, para irmãos gêmeos (univitelinos) o fator é 100%. Já entre pais e filhos é 50%, claro, 50% vem de cada um dos genitores. É o mesmo percentual entre irmãos, e vira 25% na relação avós-netos ou tios-sobrinhos. E finalmente 12,50% entre primos irmãos (filhos dos irmãos - 1º grau).

Depois fui pesquisar primos famosos e encontrei vários:

Whitney Houston era prima-irmã de Dionne Warwick. Suas mães (Emily "Cissy" Drinkard e Lee Drinkard) eram irmãs.

A atriz Lauren Bacall era prima de Shimon Peres, que foi Primeiro-Ministro e Presidente de Israel. O sobrenome de nascimento da Bacall era Perske, como o de Shimon, Perski. Seus pais, William e Yizhak, eram irmãos.

Nicolas Cage, Sofia Coppola e Jason Schwartzman, três atores, são primos-irmãos. Seus avós eram Italia e Carmine Coppola e tiveram três filhos. A mãe de Jason se chamava Tália Coppola, era irmã do pai da Sofia, Francis Coppola, e do pai de Nicolas, August Coppola.

Já a Brooke Shields é prima em segundo grau da Glenn Close. O avô da Glenn era irmão da bisavó da Brooke.

No Brasil tem vários primos famosos, por exemplo, Bruno Mazzeo e Marcos Palmeira. O pai deste, Zelito Viana, era irmão do Chico Anysio.

A mãe da Preta Gil, Sandra Gadelha, é prima da Patrícia Pillar e de Liber Gadelha, que é o pai da Luiza Possi. Moral da história, as três são primas em graus diferentes.

Amaury Júnior é primo-irmão da também jornalista Renata Ceribelli, enquanto Mel Lisboa e Rafinha Bastos descobriram só agora que são primos, então nem me interessei muito pela história deles.

Agora esse afeto entre primos às vezes vira amor profundo e, como a Bíblia não proíbe essa relação, muitos primos subiram juntos no altar. Entre os mais famosos temos:

Albert Einstein e Elsa Lowenthal. Como tudo era muito relativo na vida de Einstein, ele se casou com alguém relativamente super prima, já que era prima em segundo grau por parte de pai e prima-irmã por parte de mãe. Inclusive seu nome de solteira era Einstein. Lowenthal era o sobrenome do primeiro marido dela, de quem se separou para anos depois se tornar amante do primo, que estava casado com sua primeira esposa, de quem se divorciou para contrair núpcias com a prima. Uma história relativamente complicada.

Charles Darwin se casou com a prima Emma Wedgwood, cerimônia oficializada pelo outro primo, o reverendo John Allen Wedgwood. Imagino que a lista de convidados para a festa foi enxuta!

Tem a história de Maria Bárbara, nascida em Gehren, Alemanha, que foi a primeira esposa de Johann Sebastian Bach. Era filha de Johann Michael Bach, que era irmão de Johann Christoph Bach, primo-irmão de Johann Ambrosius Bach, pai de Johann Sebastian Bach. Ela e seu marido eram primos de terceiro grau, numa família sem nenhuma criatividade para dar nomes! Detalhe curioso, ela morreu em Carlsbad (Tchecoslováquia na época), Estação de Águas e local preferido da nossa bisavó Sofia Gandelman, mãe da Esther Rapoport, Gandelman de solteira, para longas temporadas de veraneio.

Edgar Allan Poe foi outro que se casou com uma prima, Virginia Clemm, e ela tinha apenas 13 anos no momento do matrimônio. Uma história mantida em suspense por algum tempo.

E não poderia terminar esse capítulo sem falar dos primos mais iluminados da História de uma parte grande da humanidade: Sidarta Gautama, que se casou com a prima Yashodhara, aos 16 anos de idade (ambos). Aos 29 anos, ele resolveu sair do seu palácio para voltar apenas depois de encontrar a iluminação e se tornar Buda.

Então termino este capítulo do mesmo modo em que comecei: iluminada! Sim, porque o afeto sempre ilumina.

Abraços!

*Esther Rapoport é graduada em História pela Universidade de São Paulo, mas se dedicou nos últimos 40 anos à indústria do Turismo, tendo trabalhado em diversas empresas do setor além de oferecer palestras e cursos para profissionais do turismo e viajantes curiosos, interessados em ampliar seu repertorio sobre a História dos mais variados destinos do planeta. Mora atualmente na Alemanha

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