CRÔNICA

Europa e a diversidade – Por Esther Rapoport

"Neste planeta superintegrado, não é possível construir muros separando as pessoas, porque a diversidade que o movimento humano porta consigo é sempre construtiva, mesmo carregando questões e dificuldades em seu bojo"

Campanha da rede de supermercados alemã Edeka onde se lê: "A Alemanha seria mais pobre sem a diversidade".Créditos: Reprodução
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Domingo de chuva, fico em casa para descansar e escrever.

Quero comentar hoje sobre duas propagandas que abordam dois temas que me interessam muito: imigrações (História) e diversidade cultural (viagens). São temas apaixonantes e também polêmicos, porque permitem as mais variadas leituras e opiniões.

A primeira publicidade é de uma rede de supermercados alemã, chamada EDEKA. Uma de suas lojas, que fica em Hamburgo, diante do crescimento do fascismo e da xenofobia na Europa e no mundo, deu uma resposta muito didática: esvaziou suas prateleiras de produtos não alemães. Vocês não podem imaginar o pouco que sobrou, praticamente nada, sem café, nem chá, nem chocolate, nem batata, milho ou tomate, nenhuma fruta, sem bebidas, nada de macarrão, arroz ou feijão, pouca carne, nenhuma pizza. E espalharam, em todas as prateleiras e gôndolas, plaquinhas explicando: agora só vendemos produtos alemães, e completam: Este supermercado é pobre sem diversidade.

Foi impactante, virou notícia em toda a Europa e atingiu o objetivo de mostrar que, neste planeta superintegrado, não é possível construir muros separando as pessoas, porque a diversidade que o movimento humano porta consigo é sempre construtiva, mesmo carregando questões e dificuldades em seu bojo.

Mas hoje eu vi uma nova publicidade de uma empresa aérea, a SAS, que é escandinava, ou seja, reúne as bandeiras de Noruega, Suécia e Dinamarca.

No vídeo, uma voz em off pergunta o que é completamente escandinavo, as respostas em vários idiomas são iguais: nada!

A democracia é grega, o moinho de vento turbinado se baseia na tecnologia milenar persa, as bicicletas são alemãs, o pão sueco é, na verdade, turco, assim como as famosas almôndegas suecas. O anis é chinês, aquela rosca doce, conhecida como "danish", é austríaca, o clipe é norte-americano, assim como os primórdios do empoderamento feminino. A conclusão da narração é de que a Escandinávia foi trazida de fora, pedaço por pedaço, desde seus ancestrais vikings, e conclui: somos viajantes e estamos sempre ansiosos pelas novidades que ainda estão para chegar...

Eu ia dizer: coronavírus?? Mas deixa quieto, como eu disse, um tema complexo demais para se discutir em apenas uma página!!

Se você quiser, pode ver estas propagandas no YouTube:

Edeka: https://www.youtube.com/watch?v=-fHOIZKSUCc
SAS: https://www.youtube.com/watch?v=efmld1zF4EY

A SAS, por causa deste anúncio, recebeu uma saraivada de críticas e ameaças de fascistas e teve que publicar uma outra versão do comercial.

Pois é, 100 anos depois a gente se vê novamente às voltas com o fascismo crescendo em todos os lugares...

Não passarão!

Abraços!

*Esther Rapoport é graduada em História pela Universidade de São Paulo, mas se dedicou nos últimos 40 anos à indústria do Turismo, tendo trabalhado em diversas empresas do setor além de oferecer palestras e cursos para profissionais do turismo e viajantes curiosos, interessados em ampliar seu repertorio sobre a História dos mais variados destinos do planeta. Mora atualmente na Alemanha

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum