A inspiração para escrever normalmente me chega quando estou em viagem. E em uma delas, fui conhecer a pequena Lübeck, uma cidade de aproximadamente 200 mil habitantes, menor do que o Jabaquara, e que tem, no entanto, três prêmios Nobel!
Sim, dois nasceram lá: Thomas Mann, o escritor (Literatura em 1929), e Willy Brandt, o político (Paz em 1971). O terceiro viveu e morreu na cidade: Günter Grass – alguém aí ouviu falar?? – (Literatura em 1999).
Te podría interesar
É pequenininha, mas já foi a Rainha da Liga Hanseática, aquele grupo de cidades independentes e ligadas pelo comércio no Norte da Europa, durante a Idade Média. Seu centro histórico medieval foi tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. De fato, esse foi o primeiro conjunto urbano completo a ser declarado patrimônio da Humanidade, em 1987.
Como vocês podem imaginar, trata-se de uma cidadezinha hiper fotogênica, cheia de ângulos curiosos, que mistura prédios góticos, barrocos, clássicos e renascentistas.
Um desses espaços cinematográficos é uma cafeteria chamada Niederegger. Fico imaginando sua expressão de "ué" porque aí no Brasil esse nome não diz nada, mas aqui na Alemanha é sinônimo de "marzipan". Trata-se da principal confeitaria alemã que produz essa guloseima docíssima.
Para quem não sabe, marzipan foi uma invenção oriental, para ser mais precisa, da Pérsia (atual Irã, que é maravilhoso), com uma certidão de nascimento que remonta aos anos 900, de uma receita que juntava amêndoas e açúcar, dois produtos exóticos inexistentes no Ocidente, e oferecido para fins medicinais.
Desconhecidos até quando os cruzados cruzaram o continente e foram para o Oriente, massacraram uns tantos e contrabandearam essas preciosidades para a Europa.
O produto vinha em caixinhas chamadas "mataban", e daí para nomear seu conteúdo como mazapane, massepain ou marzipan (dependendo da língua do bárbaro que tinha a sorte de provar o doce) foi um pulo.
No norte da Europa, eram os navios das cidades associadas da Liga Hanseática que transportavam essas caixinhas, que eram vendidas como remédios e apenas para os farmacêuticos, únicos autorizados a comprar e vender açúcar.
Lá pelas tantas criaram uma nova profissão chamada "confeccionadores", autorizados a confeccionar os doces... e viraram os confe(c)teiros!
Vocês podem imaginar como isso era caro e acessível apenas para a nobreza europeia. Parece que foi na corte de Luís XIV, o Rei-Sol, que virou moda essa ideia de reproduzir figuras (imagem de frutas, animais, flores e objetos vários) em marzipan. Mas só quando o açúcar passou a ser produzido em grande escala (olha nós aqui) e seu preço baixou, que o doce saiu dos castelos e começou a ser consumido pelas camadas médias da população da Europa, isso lá no século XIX.
Mas voltemos ao passeio pela cidade, cheia de ruelas tortas e paradas para foto. Aviso, porém, que um cuidado deve ser tomado: nunca use uma torre de igreja como ponto de referência... existem sete igrejas com muitas torres espalhadas nesse pedacinho parado no tempo e, se bobear, você vai se perder e demorará séculos para achar o caminho de volta!
Abraços!
*Esther Rapoport é graduada em História pela Universidade de São Paulo, mas se dedicou nos últimos 40 anos à indústria do Turismo, tendo trabalhado em diversas empresas do setor além de oferecer palestras e cursos para profissionais do turismo e viajantes curiosos, interessados em ampliar seu repertorio sobre a História dos mais variados destinos do planeta. Mora atualmente na Alemanha
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum