ANÁLISE

O que a pesquisa Atlas mostra sobre o governo Lula e o cenário político

Série histórica mostra consolidação de dois segmentos do eleitorado; margem de manobra política para elevar popularidade é estreita, mas existe

Créditos: Ricardo Stuckert/PR
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Os resultados da pesquisa Atlas divulgada neste sábado (15) trazem algumas reflexões sobre o governo Lula 3 e o cenário político atual, bem distinto das duas primeiras gestões do atual presidente. Um panorama que conta com a extrema direita como importante força de atuação é algo relativamente novo e a margem de manobra para elevar a popularidade de uma gestão nacional é mais estreita. Mas existe.

A mídia corporativa alardeou, nos títulos que noticiaram o levantamento, que Lula tinha atingido a pior avaliação da série histórica do instituto em relação a seu desempenho pessoal. Mas se trata, na prática, de uma variação de apenas dois ponto percentuais em comparação com a pesquisa anterior, realizada em maio. Ou seja, mesmo com um noticiário negativo e ataques feitos em relação à condução econômica do governo, problemas na relação com o Congresso Nacional e pautas reacionárias no Legislativo, a aprovação se manteve a mesma.

Na verdade, desde o início da medição da popularidade de Lula pelo instituto, em 2023, as oscilações foram pequenas. Quando foi realizada a primeira pesquisa, em 10 e 11 de janeiro de 2023, no início do mandato, 51,1% aprovavam o desempenho do presidente quando o governo entrava apenas na sua segunda semana, índice praticamente igual ao de hoje (51%). A desaprovação era de 41,6%, pouco menos de 6 pontos percentuais abaixo da marca atual.

Isso demonstra algo que outros levantamentos também apontam, há uma consolidação de dois segmentos do eleitorado que não mudarão suas opiniões em relação à política com facilidade. É possível dimensionar isso olhando para as avaliações de ótimo/bom (41,3%) e ruim/péssimo (38,4%) que havia naquele começo de gestão. A questão principal talvez esteja no segmento que via o governo àquela altura como regular, 14,3%. É o grupo que pode mudar o pêndulo para um ou outro lado.

Onde o governo vai bem. E onde vai mal

O levantamento traz avaliações sobre as principais áreas do governo e a mais bem avaliada é a de relações internacionais. São 53% dos entrevistados que julgam o desempenho como ótimo/bom no setor, contra 44% que acham ruim/péssimo. 

Se é um dado positivo, também é preciso analisar que quase ninguém vota em um presidente por conta de sua desenvoltura diplomática. O desafio do governo, para valorizar o trabalho no setor, é reforçar algo que tem sido feito de forma pontual: ressaltar que a boa interlocução e a presença brasileira no exterior podem atrair investimentos para o Brasil. Nem sempre as pessoas associam a mudança de postura na área, em comparação com o isolacionismo da gestão anterior, com novas possibilidades de geração de trabalho e emprego.

Por outro lado, é um motivo de atenção a atuação na redução de pobreza e políticas sociais, marcas ligadas fortemente à própria imagem de Lula, ter uma avaliação de ótimo/bom (45%) abaixo do índice de ruim/péssimo (49%). Nos dois primeiros mandatos do atual presidente foi justamente esta área que lhe deu boa parte do seu capital político para superar crises como a do Mensalão, permitindo ainda que fizesse sua sucessora.

Há ainda problemas crônicos, como o da segurança pública, onde o ótimo/bom (27%) é metade do índice de ruim/péssimo (54%), sendo a área mais mal avaliada. Aqui entra não só o desconhecimento de parte da população em relação às responsabilidades de cada ente da federação como uma pauta que tem sido, cotidianamente, cultivada pela extrema direita e pela direita conservadora com o populismo penal apontado como solução mágica.

Também é um ponto de destaque a área de responsabilidade fiscal e controle de gastos, onde o índice de ótimo/bom chega a 39% e o de ruim/péssimo alcança 54%. Aqui é um ponto pisado e repisado por veículos de mídia que analisam (ou não) a questão jogando toda a responsabilidade nas costas do Executivo, desconsiderando o aumento do poder e do volume de recursos empenhados pelo Legislativo em emendas impositivas, os elevados gastos do Judiciário e a desoneração (que beneficia grupos midiáticos) que não entra em qualquer conta como "gasto".

Mais do que uma questão de comunicação, o governo precisa atentar para iniciativas políticas nestas áreas e não ter medo do debate. A reação da sociedade civil contra a PEC do Estupro sinaliza que é possível a mobilização do campo progressista em torno de bandeiras que lhe são caras.