A disputa pela prefeitura de Goiânia ganhou contornos nacionais por marcar um racha no campo da direita e extrema direita com os olhos voltados para as eleições de 2026.
De um lado, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que não esconde sua pretensão presidencial. De outro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que alimenta a esperança de se candidatar, ainda que esteja inelegível, e, caso não consiga concorrer, pretende bancar alguém que esteja sob sua órbita.
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O segundo turno na capital goiana tem o empresário Sandro Mabel (União Brasil), apoiado por Caiado, e o ex-deputado estadual Fred Rodrigues (PL), apadrinhado do deputado federal Gustavo Gayer (PL), que conta com o suporte do ex-presidente. Segundo levantamento da AtlasIntel divulgado na terça-feira (22), Mabel tem 50,7% das intenções de voto e Rodrigues aparece com 46,6%. O levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais.
Para se ter uma noção da importância do pleito, o Poder360 informa que Bolsonaro vai acompanhar a apuração na cidade ao lado do candidato do PL. Aliados apontam que Caiado tem tratado a eleição, especialmente após o acirramento com o ex-presidente, como se fosse sua própria disputa.
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Pandemia e eleições presidenciais
O clima entre Bolsonaro e Caiado azedou de vez durante a campanha do primeiro turno. Em 25 de setembro, durante um comício em Goiânia, o ex-presidente não citou nominalmente o governador, mas retornou a uma rusga entre ambos ocorrida na pandemia da covid-19, em 2020. Os dois, na ocasião, chegaram a romper por discordarem sobre as medidas para conter a disseminação do coronavírus no início da crise sanitária.
"Nós, na pandemia, fizemos o que tinha que ser feito. Fui contra governadores que falavam ‘fiquem em casa, a economia a gente vê depois’. Governador covarde! Governador covarde! O vírus ia pegar todo mundo, não tinha como fugir do vírus", disse Bolsonaro em um palanque que tinha Gayer e Rodrigues. Parte do público gritou o nome de Caiado quando foi feita a referência ao "governador covarde".
Em entrevista à Folha concedida na semana seguinte, o governador goiano voltou à carga, rebatendo o (ex?) aliado falando de si na terceira pessoa. "Ronaldo Caiado é um homem que Deus o poupou do sentimento do medo", bradou, assumindo sua pré-candidatura à presidência da República.
"Sou candidato em 2026 até porque colhi uma experiência muito grande com cinco mandatos de deputado federal, um mandato do senador e, agora, dois mandatos de governador", disse ele.
PT e Romeu Zema
Apesar de não mencionar o PT, Caiado fala sobre a importância de unir forças contra a suposta inexperiência de Rodrigues, buscando cativar o eleitorado da Delegada Adriana Accorsi, candidata petista que ficou na terceira colocação. Em nota, o partido afirmou haver um "dever cívico de derrotar a extrema-direita" representada por Fred Rodrigues. Mesmo assim, é improvável a formação de uma aliança na formação de um eventual governo de Sandro Mabel.
Obviamente isso tem sido explorado por Bolsonaro. “O que nos surpreendeu, segundo eu vi em vários órgãos de imprensa, o Caiado acertou, aceitou o apoio do PT ao Sandro Mabel. Ou seja, quem diria o Caiado da UDR [União Democrática Ruralista], que fala grosso, gosta de ranger os dentes, mas aceitou o apoio do PT. Agora, o PT não apoia de graça. Alguma coisa foi acertada", disse o ex-presidente após participar de um almoço em prol da reeleição de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo.
Quem tentou entrar na briga em apoio a Bolsonaro foi o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Em 15 de outubro, ele foi a Goiânia participar da campanha do candidato do PL e sua presença foi ironizada pelos aliados do governador goiano já que o candidato apoiado por Zema em Belo Horizonte, o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) sequer foi para o segundo turno. É uma tentativa do mineiro de se cacifar perante o bolsonarismo, buscando formar chapa ou mesmo ser o presidenciável ungido pelo ex-presidente hoje inelegível.
Tudo indica que os interesses do campo que vai da direita à extrema direita serão mais difíceis de conciliar em 2026, ainda mais com Bolsonaro fora da disputa, mas querendo manter sua influência e ditar sua agenda. Os resultados em Goiânia apontarão um vencedor e um derrotado no domingo (27), dado o envolvimento direto tanto do ex-presidente quanto do governador na disputa.