Além de ter apontado uma redução de três pontos na distância entre o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que foi de 12 para 9 pontos percentuais, a pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (23) também trouxe outros números importantes na disputa pela prefeitura da capital paulista. E são dados que podem ser explorados nesta reta final da campanha.
O levantamento mostra que 28% dos eleitores tiveram problemas de falta de luz nas últimas duas semanas na cidade, enquanto 72% disseram que não foram afetados pelo apagão.
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Entre aqueles que relataram ter sido prejudicados pelo fornecimento de energia elétrica, há empate técnico entre Nunes, que aparece com 40%, e Boulos, que tem 39%. No segmento dos que não sofreram com a falta de luz, o candidato à reeleição lidera por 45% a 33%.
Quando questionados sobre a responsabilidade pelo apagão, a maioria (61%) aponta a concessionária Enel como a principal responsável pelas quedas de energia na cidade de São Paulo. Em seguida estão o governo municipal (10%), o governo federal (9%) e o governo e o governo estadual (6%). E 4% apontam que não há culpado ou atribuem a responsabilidade ao clima.
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O modelo da Enel
Os números sugerem que o apagão vivido por parte da cidade de fato afetou o humor do eleitorado e ainda pode ser mais bem explorado pela campanha de Boulos.
Se o candidato do PSOL atribuiu de forma acertada parte da responsabilidade do cenário ao prefeito, quando incluiu a questão da poda de árvores e da falta de uma zeladoria eficiente na capital paulista, faltou dizer que a Enel, tida como a grande culpada pela população paulistana, não nasceu "do nada". É fruto de um modelo privatista apoiado por Ricardo Nunes que se disse, de forma orgulhosa, à frente de um "governo liberal" em vários debates no primeiro e segundo turno.
E o prefeito dá munição para isso. Em uma sabatina a uma emissora de rádio nesta segunda-feira, o emedebista elogiou a privatização da Sabesp, e relacionar o tema à Enel não é difícil, já que é a mesma fórmula que encarece tarifas e piora os serviços. Lembrando ainda que outra pesquisa Quaest, de abril, mostrava que 61% dos paulistanos eram contrários à venda da companhia paulista de abastecimento de água, e apenas 29% eram favoráveis.
Há ainda exemplos de privatização de serviços feitas pela atual gestão municipal, incluindo os serviços funerários, associados a preços abusivos, ineficiência e irregularidades.
A essa altura, é possível carregar mais no tom político e trazer a privatização e seus defensores para o centro, com o péssimo desempenho de uma concessionária sendo reconhecido pela população. E mostrar suas consequências. Se não resultar na vitória no domingo, ao menos uma pauta cara à esquerda e aos movimentos sociais estará no centro do palco.