8 de março, Dia Internacional da Mulher. Aqui na China, há homenagens por toda a parte. Na capital financeira, Shanghai, a Torre da Pérola Oriental foi iluminada de rosa nesta quinta-feira (7). Nos grupos de WeChat - o WhatsApp chinês - do qual faço parte pululam mensagens de felicitações.
Longe de mim querer desdenhar das homenagens festivas e sinceras que recebemos nesta data e colocar água no chopp da turma. Agradeço cada uma delas de coração. Mas nossa batalha, das mulheres, para sermos além de "o outro" é diuturna e se realiza em cada um dos dias de nossas vidas e não apenas no dia 8 de março.
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Hoje é dia de honrar nossas antepassadas, que há séculos constroem o caminho infinito da busca pela equidade de gênero. Há apenas um século conquistamos o direito ao voto na Brasil e em outros países da América Latina.
O direito de decidir sobre nossos corpos ainda está em construção. No Brasil, o tema aborto é um tabu cuja discussão foi cooptada, deturpada e esculhambada pela pauta moral e fundamentalista religiosa que infecta nosso debate público.
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Na Argentina, país vizinho pelo qual cultivo imenso carinho e respeito, a eleição do presidente que se aconselha com um cachorro morto coloca em xeque as conquistas recentes das hermanas de decidirem sobre os próprios corpos.
Até mesmo a dita "maior democracia do mundo", os EUA, registra retrocessos nessa questão. Por lá o controle feminino sobre o direito de decidir quando e como ser mãe regrediu em meio século com a ascensão da extrema direita.
Semana passada um lufo de esperança veio da França, que foi o primeiro país a incluir o direito à interrupção da gravidez na constituição nacional.
Por outro lado, o país berço da democracia liberal burguesa segue perseguindo muçulmanas e suas vestimentas. A impressão que passa é a de que na roda do feminismo ocidental e liberal não há lugar para todas as mulheres e suas diferentes lutas.
Pela primeira vez em meus 50 anos, acompanho em tempo real, por meio de registros nas redes sociais, um massacre perpetrado pelo estado sionista e genocida de Israel contra o povo palestino em Gaza.
As principais vítimas do tipo mais vil de violência são justamente as mulheres e seus filhos. Quando sobrevivem aos bombardeios, tentam superar a fome, a sede, a desnutrição, a falta de abrigo e as violações cruéis de seus corpos e memórias.
Nem mesmo a intimidade de roupas íntimas de mulheres palestinas mortas merecem respeito por parte dos sionistas, que posam para fotos em suas redes sociais fazendo chacota e com sorrisos sádicos e psicopatas com calcinhas e sutiãs de suas vítimas.
Há ainda conflitos armados neste momento na Síria, no Sudão, no Iêmen. Há fome e desespero em várias nações mundo afora. E há a resistência de mulheres que tentan superar os horrores desse mundo insano e injusto.
Os efeitos da barbárie climática atinge, em especial, nós, mulheres, principalmente as mais vulneráveis e pobres.
Na divisão sexual do trabalho imposta pelo modo de produção capitalista, cabe a nós, mulheres, gerar vidas e cuidar dos afazeres domésticos. Há pelo menos um século fomos às ruas e conquistamos nossos espaços no mercado de trabalho.
O caminho inverso, de modo geral, não foi feito pelos homens. Por isso, acumulamos as obrigações de gerar renda em casa e de cuidar do bem-estar das nossas famílias.
Por tudo isso e muito mais, dia 8 de março é dia de luta e não de celebrar. Luta por dignidade, equidade e justiça.
Uma frase proferida pelo líder revolucionário chinês Mao Zedong sempre ecoa em minha memória nesta data: "As mulheres conseguem segurar a metade do céu". A outra metade que carregamos é a do inferno de um mundo que insiste em nos deixar para trás.
Força na luta, mulheres.
Beijinhos de Beijing