DIÁRIO DA CHINA

Mulheres do mundo, uni-vos

Seja na China ou no Brasil, a luta feminina por equidade de gênero ainda tem um longo caminho a percorrer e tem como maior desafio a superação da estrutura patriarcal

Créditos: Reprodução internet - Guardas Vermelhas num comício durante a Revolução Cultural.
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"As mulheres conseguem segurar a metade do céu", disse Mao Zedong, o líder revolucionário chinês. A sentença resume a visão maoísta sobre o feminismo, que pretende firmar a igualdade entre homens e mulheres e coloca o enfoque da libertação feminina na entrada das chinesas no mercado de trabalho e na contribuição efetiva para a construção do socialismo chinês. 

Às vésperas de completar 73 anos, a República Popular da China tem progressivamente integrado a causa feminina ao desenvolvimento nacional. As mulheres estão presentes no mercado de trabalho desde a vitória comunista da Guerra de Libertação Popular, que conhecemos como Revolução de 1949. 

Há até exemplos de posições de destaque, como a vice-presidenta do Conselho de Administração e diretora financeira da maior empresa privada da China, a gigante de tecnologia Huawei, Meng Wabzhou, que é filha do fundador, Ren Zhengfei. Ou as taikonautas Liu Yang e Wang Yaping.

Xinhua - Wang Yaping, primeira chinesa a caminhar no espaço 

No topo dos espaços políticos de poder, há apenas uma mulher: a vice-presidenta Sun Chunlan. Já em cargos de assessoramento no meio político a presença feminina chama a atenção, como diretora geral do Departamento de Informação do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, que também atua como porta-voz da chancelaria do país. Há ainda forte atuação feminina no meio acadêmico. 

A luta feminina na China enfrenta o mesmo desafio encarado por nós, brasileiras: a estrutura patriarcal e a divisão social do trabalho, que coloca sobre os nossos ombros, dentro dos nossos úteros e em nossas mãos a responsabilidade reprodutiva, do cuidado com os filhos e com a casa.

Assim como nos países ocidentais, a China tem elaborado políticas públicas para garantir os direitos femininos. Por meio do principal evento político do país, o Congresso Nacional do Partido Comunista da China (CPCCh), que realizará a 20a edição no próximo dia 16 de outubro, por exemplo, as mulheres chinesas obtiveram conquistas. 

Em novembro de 2012, durante o 18º CPCCh, pela primeira vez foi definida a adesão à política estatal básica de igualdade entre homens e mulheres e proteção dos direitos e interesses legítimos de mulheres e crianças. Desde então os direitos e interesses legais das mulheres são totalmente garantidos. 

Em 2015, foi implementada a Lei Anti-Violência Doméstica, que estabeleceu uma rede de proteção para vítimas de violência doméstica. Em 2016, foi promulgado o Esboço do Décimo Terceiro Plano Quinquenal de Desenvolvimento Econômico e Social Nacional, que preconiza a eliminação da discriminação e do preconceito contra as mulheres e a proteção legal dos direitos e interesses legítimos das mulheres, como emprego e férias. 

Em 2019, o governo chinês emitiu um aviso sobre a regulamentação adicional do recrutamento e promoção do emprego feminino e passou a exigir que as mulheres não sejam impedidas de procurar emprego ou recusadas a contratar mulheres em razão do gênero.

A causa da saúde materno-infantil tem avançado. Em 2018, havia 3.080 instituições de saúde materno-infantil, 807 maternidades e cerca de 640 mil profissionais de saúde materno-infantil em todo o país. De 2009 a 2018, um total de 85 milhões de mulheres receberam exames gratuitos de câncer do colo do útero e 20 milhões receberam exames gratuitos de câncer de mama. A licença maternidade para as mulheres aumentou de 56 dias em 1951 para 90 dias em 1988 para 98 dias em 2012.

A maioria das mulheres aumentou a renda e saiu da pobreza. A Federação das Mulheres da China promoveu ainda mais a "Ação de Alívio da Pobreza para Mulheres" e, durante o período do "13º Plano Quinquenal", cinco milhões de mulheres pobres foram ajudadas a aumentar a renda e se livrar da pobreza. 

As mulheres representam mais de 60% da força de trabalho rural da China. Um grande número de fazendas familiares e cooperativas agrícolas fundadas por mulheres surgiram nas áreas de plantio e criação de especialidades, processamento de produtos agrícolas, agricultura de lazer e comércio eletrônico.

No início de 2020, a emergência sanitária imposta pela pandemia da Covid-19 mostrou a força e a solidariedade das mulheres chinesas. Das 40 mil equipes médicas de toda a China que foram para a província de Hubei ajudar durante a crise, um terço eram mulheres. 

Wikimedia Commons - Família composta por um filho em um parque de Beijing

Há avanços, sem dúvida, mas ainda persistem os desafios, sobretudo no que diz respeito à maternidade e à equidade no mercado de trabalho e na ocupação de cargos de lideranças. Depois de 35 anos da política do filho único, abolida em 2013 em razão do envelhecimento da população e do desequilíbrio de gênero, o governo chinês passou a permitir até dois filhos por família e, em 2021, até três filhos. 

O fato é que até agora a tarefa reprodutiva é exclusivamente feminina, homens ainda não conseguem engravidar. Em pleno século XXI, nós mulheres queremos ser o que queremos e não o que esperam que sejamos. Queremos ser presidentas, executivas, astronautas, cientistas, mães, donas de casa e o que mais a gente desejar. 

Então, há uma questão concreta tanto na China quanto mundo afora: nenhuma política pública será capaz de nos limitar ao trabalho reprodutivo. Para além de equidade salarial, direitos para a saúde, garantia de segurança, o que queremos é nos libertar da estrutura patriarcal. Essa é a nova era das mulheres, livres e senhoras de si. Afinal, seguramos a metade do céu. 

Até domingo!