Após uma reportagem da Rádio CBN mostrar que muitos evangélicos acreditam na mentira de que a esquerda quer fechar as igrejas, essa fake news de mais de 30 anos voltou com força nas redes bolsonaristas. No entanto, um olhar para o passado revela que, ao contrário do que afirmam alguns pastores em cultos, o governo de Lula (PT) facilitou a abertura de igrejas.
“Tem três coisas que demonstram que um país vive em democracia: a liberdade política, a liberdade religiosa e a liberdade sindical”, disse o então presidente Lula no final de 2003, seu primeiro ano de mandato, ao sancionar a lei que fez correções jurídicas no Código Civil, permitindo que as igrejas deixem de ser simples entidades de classe como clubes de futebol ou outras organizações não religiosas.
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"A partir de agora é livre o direito de criar uma igreja e praticar uma religião", disse o então presidente Lula à época. "O Estado está proibido de tomar qualquer decisão que proíbe o funcionamento das entidades religiosas", afirmou, por sua vez, o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, naquela ocasião.
A inclusão do artigo no Código Civil agradou representantes de entidades religiosas. Tanto que, no ato de assinatura da lei, muitos pastores que hoje propagam fake news contra Lula e o PT aplaudiram o então presidente e reagiram com largas risadas quando Lula mencionou, já naquela época, a fake news sobre suposto desejo da esquerda de fechar as igrejas.
“Durante muitos e muitos anos, eu encontrava com pastores Brasil afora que perguntavam: ‘Lula, é verdade que, se você ganhar as eleições, você vai fechar as igrejas evangélicas?’ Vocês sabem disso. E quis Deus, que no primeiro ano do meu governo, a última lei que eu sanciono no ano de 2003 é exatamente para dizer que aqueles que me difamaram, agora vão ter que pedir desculpas não a mim, mas a Deus e à sua própria consciência”, disse o ex-presidente.
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Os dados dos censos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2000 e 2010 mostram como essa ação do governo teve efeito. Nesses 10 anos, o total de evangélicos no Brasil subiu de 26,2 milhões para 42,3 milhões.
No censo de 2000, o IBGE identificou a citação de 1200 novas igrejas, de acordo com essa reportagem antiga do jornal Folha de S. Paulo. Agora, depois de décadas de crescimento, "o IBGE calcula que anualmente são abertas 14 mil igrejas evangélicas no país", segundo o estudo Fé Pública, de 2019, e que pode ser consultado aqui.