Naturalmente sempre haverá quem defenda a resiliência da extrema-direita e do bolsonarismo, mas seria um caso agudo de cegueira não enxergar que as duas CPIs tocadas pela oposição, a do MST e a do 8 de Janeiro, têm sido um desastre para ela. Quer dizer, possivelmente haja um dia ou outro melhor, mas essa última terça-feira foi uma hecatombe.
O espetáculo que vimos, com bolsonaristas raivosos, como o infame deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, o neo-olavete Marco Feliciano, o pequeno cínico Nicolas Ferreira, velho cínico Eduardo Girão, entre outros, atacando um foto-jornalista profissional da Reuters, com 25 anos de experiência (apesar de jovem), jeito humilde e sincero, foi um marco na história dos suicídios políticos.
Os jornalistas que cobriam a CPI nem conseguiram ficar quietos, tamanha a indignação que sentiam ao ver um colega ser agredido furiosamente, com mentiras sórdidas, despudoradas e absurdas.
É preciso ser muito valente para mobilizar o país inteiro contra si com tanta energia. Só depois não venha o senhor deputado Ramagem chorar no banheiro ou tentar fugir para Miami, como faz seu chefe político.
A tese dos bolsonaristas é que o fotógrago Adriano Machado era um "infiltrado" petista, a mando de Lula (ou do Dino, tanto faz), e que teria "combinado" tirar a foto do bolsonarista chutando uma porta próxima à sala do presidente da República, no dia 8 de janeiro.
Ele explicou mil vezes que não combinou coisa nenhuma, que estava posicionado de forma discreta, silenciosa, ali atrás, apenas tirando fotos. Disse também que bolsonaristas, ao perceberem sua presença, exigiram, em tom de ameaça, que apagasse as fotos. Ele o fez. Em seguida, um dos bolsonaristas aperta sua mão. Os bolsonaristas da CPMI, cínicos, amarrados às fake news que eles mesmos ajudaram a espalhar, fingiram não acreditar em nenhuma das explicações do jornalista.
"Ah, me desculpe, mas o clima era de fraternidade com você", é a versão maluca dos bolsonaristas, apesar dos relatos de que inúmeros jornalistas, inclusive da Reuters, teriam sido agredidos no 8 de janeiro. E por que cargas d'água, Machado precisaria "combinar" um chute na porta, se havia centenas, milhares, de outras imagens de bolsonaristas quebrando tudo, no Palácio, no Congresso e no STF? Qual a tese dos bolsonaristas? De que a cena teria sido montada? E as milhares de outras cenas? Foram combinadas também?
O dia de ontem mostrou os bolsonaristas da CPMI do 8 de janeiro completamente desorientados.
Na CPI do MST, idem. A liderança nacional do MST, João Pedro Stédile, deu uma aula magna para os deputados e para o país. O relator da CPI, Ricardo Salles, desesperado com o desempenho absolutamente brilhante, magnético, do depoente, se recusou a passar a palavra para os deputados, monopolizando o microfone por horas. A postura apenas irritou os parlamentares, inclusive da sua própria base.
E na quarta (16), acordamos com a notícia de que a nova pesquisa nacional Quaest mostra que a aprovação do presidente Lula literalmente explodiu!
Segundo a Quaest, com 2.029 entrevistas presenciais, realizadas entre os dias 10 a 14 de agosto, o presidente Lula conquistou sua maior aprovação desde o início do governo, que atingiu a marca recorde de 60%.
A desaprovação, por sua vez, caiu para 35% (estava em 40% em junho), e o número de indecisos se mantém muito baixo, em 5%.
Na estratificação por região, está claro que Lula conquistou o Sudeste e o Sul. A mudança nessas regiões é notável.
No Sul, por exemplo, a aprovação de Lula subiu 11 pontos e chegou a 59%.
No Sudeste, a aprovação de Lula vem crescendo de maneira muito firme, chegando a 55%.
Na análise por escolaridade, o desempenho de Lula melhorou em todas as faixas. Lula agora também é bem avaliado entre eleitores mais educados, tanto com ensino médio (56% de aprovação), como aqueles com ensino superior (53% de aprovação).
Essa melhora de Lula entre eleitores mais instruídos tem significado estratégico para o presidente, porque são pessoas com mais influência nas redes sociais e na opinião pública.
Também é significativo que Lula tenha melhorado sua performance em todas as faixas de renda. Entre os mais pobres, com renda familiar até 2 salários, atingiu 68% de aprovação, o que é um patamar impressionante. Provavelmente nenhuma outra liderança política na história do país foi tão querida entre os mais pobres.
Mas é muito bom para Lula que ele tenha também crescido na classe média, tanto nessa parcela mais humilde (e mais numerosa), com renda familiar entre 2 a 5 salários, na qual ele agora tem 56% de aprovação, como entre os mais ricos, com renda superior a 5 salário, onde o petista pontuou 49%.
Outra excelente notícia para Lula, naturalmente, é a melhora entre os evangélicos, um setor que deu muita dor de cabeça para o campo democrático nas eleições, mas que agora, pelo jeito, começa a cair na real. Segundo a Quaest, 50% dos evangélicos agora aprovam o trabalho do presidente Lula.
Os dados estratificados pelos votos no segundo turno mostram que os eleitores de Lula se mantêm absolutamente magnetizados pelo presidente: a aprovação de Lula entre quem votou nele é de 93%.
Mas Lula também está penetrando no bolsonarismo, onde ele já tem 25% de aprovação entre eleitores de Bolsonaro no segundo turno.
Outro dado importante é a forte e crescente aprovação de Lula, de 58%, entre todos aqueles que não foram votar ou que votaram em branco em 2022.
A avaliação geral do governo também melhorou bastante, chegando a 42% de positivo, 29% de regular, e apenas 24% de negativo.
Por fim, um dos gráficos que ajudam a dar consistência a toda a pesquisa é o que traz a pergunta sobre a economia do Brasil. Em conformidade com alta aprovação do presidente Lula, temos um percentual crescente de eleitores achando que a economia melhorou (34%), e uma parcela cada vez menor, por sua vez, achando que piorou (23%).
A íntegra da pesquisa pode ser baixada aqui.
Conclusão
Podemos retomar a nossa teoria da gravidade, que nos foi útil em análises durante o processo eleitoral de 2022.
A alta da popularidade de Lula, confirmada em mais uma pesquisa, aumenta a sua força gravitacional, ou seja, ajuda o presidente num momento particularmente delicado de seu governo, que é o seu esforço para realizar uma bem sucedida reforma ministerial, que lhe permita consolidar uma grande base parlamentar de apoio.
Quanto à oposição, a pesquisa cai como uma bomba, em que está imensamente fragilizada, por seus próprios erros, como investir tanta energia, recursos, tempo, numa guerra que ela já perdeu, como é o caso da CPMI do 8 de janeiro.