Bolsonaro só tem uma chance de se reeleger: colocando o país em uma absoluta guerra nas ruas. O indulto desta quinta-feira (21) ao deputado Daniel Silveira, um dos seus aliados de primeira hora, que foi condenado por 10 a 1 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 8 anos e 9 meses de prisão, é uma jogada neste sentido.
Bolsonaro, como bem analisou o advogado Marco Aurélio de Carvalho para esta Fórum, sabe que a medida é inconstitucional por muitos motivos, mas principalmente porque o caso não tramitou em julgado. Ou seja, ele não pode indultar alguém que sequer foi condenado de fato. Mas isso é o que menos importa. Ele quer fornecer às suas milícias, tanto as digitais quanto as que mataram Marielle e participaram do esquema de rachadinha dos seus filhos, a gasolina que elas desejam para incendiar o país e derrotar suas instituições.
E neste caso o Supremo é um alvo perfeito para o presidente que se deseja ditador. Ao confrontá-lo, Bolsonaro diz para o seu público que está enfrentando o sistema que não lhe deixa governar. E que para poder fazer o que precisa no país terá que ter um segundo mandato, quando aí sim, com mais poder, poderá se impor como um Führer e salvador da família e da pátria.
A novidade neste episódio é que Bolsonaro parece não estar sozinho nesta arriscada estratégia que pode levar o país a uma crise institucional sem precedentes. A declaração de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, dizendo que a Casa vai cumprir a decisão do presidente, pode jogar o Congresso também contra o Judiciário. O que poderia fazer o Supremo que decidiu por maioria absoluta dos seus ministros (10 votos) pela prisão, multa e cassação do mandato do deputado se Executivo e Legislativo decidirem lhe enfrentar? Se porventura, ao mesmo tempo, o presidente pedir que as Forças Armadas saiam em defesa da sua decisão, como os ministros do Supremo poderiam reagir?
O isolamento do Supremo neste caso seria a cartada perfeita de Bolsonaro para dar escalada à sua decisão. A sociedade civil é quem pode impedir que isso aconteça, porque se depender do centrão e dos deputados que mamam no orçamento secreto, esse será o desfecho dessa história.
Os próximos dias serão decisivos para o destino dessas eleições. É isso que está em jogo. Bolsonaro aposta em vários cenários, mas em todos o caos se faz presente. Tanto ganhar numa eleição tumultuada, como buscar na confusão até o adiamento do próprio pleito.
Lula tem que aproveitar essa crise para se aproximar mais do centro político e daqueles eleitores moderados que não querem o incêndio do país. Ao mesmo tempo tem que encarar de forma firme Bolsonaro para não se tornar um picolé de chuchu. O povão quer uma pessoa que se mostre mais forte do que Bolsonaro para substituí-lo. O povo não quer um presidente bundão. E também por isso Bolsonaro sempre vai para o pau.
A leitura do cenário e a movimentação de cada peça a partir de agora que estamos a menos de seis meses da eleição das nossas vidas têm que ser cirúrgicas.