CLEBER LOURENÇO

Mauro Cid diz em delação que buscou o PL, de Costa Neto, para financiar a intentona golpista

Fontes ligadas à investigação suspeitam que o coronel mencionado por Cid seja Flávio Botelho Peregrino, assessor e braço-direito de Braga Netto.

Créditos: Agência Senado / Presidência da República
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A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid revelou novos detalhes sobre a articulação para o financiamento de manifestantes que viajaram a Brasília em atos contra o resultado das eleições de 2022. Segundo Cid, o general Walter Braga Netto orientou que ele verificasse com o Partido Liberal (PL) a possibilidade de custear deslocamento e hospedagem para essas pessoas.

Em seu depoimento, Cid afirmou que buscou um "coronel responsável pelo partido", cujo nome ele não se recorda, para discutir o financiamento. O oficial teria analisado um documento impresso contendo detalhes da logística e informado que o partido não poderia utilizar recursos para esse fim.

Após receber a negativa do PL, Cid relatou que voltou a falar com Braga Netto, que garantiu: "Vou dar um jeito, vou seguir por outros caminhos." Pouco tempo depois, o general entregou a Cid uma sacola de vinho contendo dinheiro em espécie, mencionando que os recursos vieram do agronegócio. Cid então repassou os valores ao major Rafael de Oliveira no Palácio da Alvorada.

Fontes ligadas à investigação suspeitam que o "coronel responsável pelo partido" mencionado por Cid seja o coronel Flávio Botelho Peregrino. Peregrino, que foi assessor e braço-direito de Braga Netto, foi um dos alvos da Polícia Federal (PF) na Operação Contragolpe, deflagrada no final de 2024, que investigou a tentativa de subversão da ordem democrática.

O arquivo denominado "Copa 2022", citado por Cid em sua delação, continha um plano detalhado dos custos operacionais, incluindo deslocamento aéreo, locomoção terrestre, alimentação e eventuais gastos com celulares. Segundo o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, ele acessou o arquivo apenas uma vez e não se recorda da senha para fornecê-la às autoridades.

A Operação Contragolpe revelou um esquema maior de financiamento e articulação que envolvia diversos setores políticos e econômicos. Investigações apontam que recursos privados foram utilizados para custear o transporte e manutenção de manifestantes, além de apoio logístico para ações que buscavam questionar o resultado eleitoral e gerar instabilidade política. A atuação de militares da reserva e aliados políticos indica uma possível coordenação estratégica entre grupos que se recusavam a aceitar a transição democrática.

Os investigadores avaliam se Braga Netto teve apoio de empresários do setor do agronegócio para financiar a operação, conforme sugerido por Cid em seu depoimento. A Polícia Federal segue rastreando movimentações financeiras que possam confirmar essa versão. Relatórios preliminares apontam que valores em espécie foram movimentados por intermediários, dificultando o rastreamento dos recursos.

Sobre a possibilidade de responsabilização do PL pelo conhecimento da articulação, o professor de direito eleitoral da FGV/SP, Fernando Neisser, avaliou que o partido dificilmente enfrentaria sanções legais. Segundo ele, "não existe um dever geral imposto a todas as pessoas, ainda que dirigentes de partidos, de relatar qualquer crime de que tenham conhecimento e do qual não façam parte." Neisser explicou que essa obrigação só se aplica a alguns servidores públicos em situações específicas, o que não se enquadraria no caso do PL.

A defesa de Braga Netto ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso. O PL, por sua vez, também não comentou as alegações de que o partido foi sondado para financiar a operação. A investigação continua em andamento no Supremo Tribunal Federal sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

Paralelamente, setores políticos monitoram os desdobramentos do caso, considerando a possibilidade de impacto em futuras eleições. A influência de militares na política e a utilização de recursos privados para fins políticos seguem como pontos centrais do debate sobre a estabilidade democrática. O desenrolar das investigações pode abrir novas frentes de apuração, incluindo possíveis conexões internacionais no financiamento de ações voltadas à desestabilização do processo eleitoral.

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