INVESTIGAÇÃO

Mauro Cid detalhou esquema para repasse em dinheiro de joias vendidas ilegalmente

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro revelou que US$ 86 mil foram entregues em espécie ao ex-presidente após a venda ilegal de joias do acervo presidencial; delação aponta estratégia para ocultar origem dos valores e evitar rastreamento bancário

Mauro Cid e Jair Bolsonaro.Créditos: Reprodução/Redes Sociais
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Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), revelou em delação premiada um esquema detalhado de venda ilegal de joias e repasse dos valores ao ex-presidente. De acordo com os documentos, cerca de 86 mil dólares foram entregues a Bolsonaro em espécie, evitando o sistema bancário. A movimentação foi realizada ao longo de vários meses, utilizando intermediários e diferentes locais para dificultar a rastreabilidade.

A operação envolveu a comercialização de itens de luxo pertencentes ao acervo presidencial nos Estados Unidos. Segundo Cid, após a venda, os valores eram retirados de forma fracionada e repassados diretamente a Bolsonaro por meio de intermediários, incluindo seu próprio pai, o general Mauro César Lourena Cid. A estratégia tinha como objetivo não só garantir que os valores chegassem ao ex-presidente sem deixar registros, mas também evitar qualquer fiscalização sobre a origem dos recursos.

Entrega inicial de valores

Mauro Cid afirmou que ao voltar ao Brasil entregou US$ 18 mil a Bolsonaro. "QUE ao retomar ao Brasil entregou os U$ 18 mil ao ex-Presidente JAIR BOLSONARO; QUE apenas retirou os custos que teve com passagem aérea e aluguel do veículo". Esse primeiro montante teria sido fruto de uma primeira venda das joias e foi repassado de maneira direta ao ex-presidente.

Saque fracionado de US$ 68 mil

A delação também descreve a estratégia para evitar o rastreamento bancário. "QUE o COLABORADOR ajustou com seu pai, General MAURO CESAR LOURENA CID, que o saque dos U$ 68 mil ocorreria de forma fracionada e entregue à medida que alguém conhecido viajasse dos Estados Unidos ao Brasil; QUE o dinheiro seria entregue sempre em espécie de forma a evitar que circulasse no sistema bancário normal". Esse modelo de movimentação foi pensado para evitar qualquer tipo de comunicação com instituições financeiras, garantindo que as quantias fossem transportadas de forma segura e discreta.

Repasses diretos a Bolsonaro

Os primeiros repasses ocorreram ainda em 2022, quando 30 mil dólares foram entregues a Bolsonaro em Nova York. "QUE na cidade de Nova York, LOURENA CID entregou cerca de U$ 30 mil (trinta mil dólares) em espécie a JAIR BOLSONARO, por meio do COLABORADOR". Esse repasse teria sido realizado pessoalmente, sem intermediários bancários, e sem qualquer tipo de recibo ou documentação.

Em seguida, no final daquele ano, 10 mil dólares foram levados ao Brasil e entregues ao ex-presidente em Brasília. "QUE no final do ano de 2022, LOURENA CID veio ao Brasil para um evento da APEX, na cidade de Brasília; QUE nesse momento ele trouxe cerca de U$ 10 mil (dez mil dólares), em espécie, e entregou a JAIR BOLSONARO por meio do COLABORADOR". Essa entrega foi organizada de forma a parecer um simples encontro de rotina, para não levantar suspeitas.

No início de 2023, Bolsonaro recebeu mais 20 mil dólares em Miami, diretamente das mãos do general Lourena Cid. "QUE no final de fevereiro de 2023, o ex-Presidente JAIR BOLSONARO visitou LOURENA CID em sua residência na cidade de Miami/FL, nos Estados Unidos, oportunidade em que o pai do COLABORADOR entregou a JAIR BOLSONARO a quantia de U$ 20 mil (vinte mil dólares), em espécie; QUE o dinheiro foi entregue em mãos a OSMAR CRIVELATTI, assessor que acompanhava JAIR BOLSONARO". Esse montante foi transportado dentro de uma pasta para evitar exposição.

O restante do valor foi transferido em março de 2023, já em território brasileiro. "QUE o restante do valor foi repassado quando do retorno de LOURENA CID ao Brasil em março de 2023; QUE LOURENA CID repassou o restante do valor ao COLABORADOR, que por sua vez entregou ao ex-Presidente JAIR BOLSONARO, por meio de seu assessor OSMAR CRIVELATTI; QUE os valores foram repassados em sua totalidade ao ex-Presidente". Essa última movimentação consolidou o esquema e garantiu que Bolsonaro recebesse a totalidade dos recursos obtidos com as vendas das joias.

Investigações em andamento

A venda das joias, que deveriam integrar o patrimônio público, está sob investigação da Polícia Federal. As autoridades apuram se Bolsonaro teve participação direta na decisão de alienar os bens e na organização da logística para recebimento do dinheiro. Além disso, a investigação busca identificar se houve outros repasses semelhantes e se há uma estrutura maior de movimentação de recursos em espécie envolvendo ex-assessores e familiares do ex-presidente.

Os desdobramentos da investigação podem levar a novas frentes de apuração sobre ocultação de patrimônio e enriquecimento ilícito por parte do ex-presidente e de sua equipe mais próxima. Caso fique comprovado que Bolsonaro sabia da origem ilícita do dinheiro e que o utilizou para fins pessoais, ele pode enfrentar acusações de crimes como lavagem de dinheiro e peculato.

A defesa de Bolsonaro nega qualquer irregularidade e afirma que os valores repassados não tinham origem ilícita. Seus advogados alegam que não há provas concretas que vinculem o ex-presidente a um esquema de ocultação de patrimônio e que a delação de Mauro Cid deve ser vista com cautela, já que foi feita em troca de benefícios judiciais.

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