Feminicídio

Caso do sargento que matou esposa tem nova linha de investigação surpreendente

Amanda Fernandes Carvalho, de 42 anos, foi assassinada pelo marido, Samir Carvalho, em uma clínica médica de Santos, no litoral paulista

Escrito em SP el
Jornalista e redator da Revista Fórum.
Caso do sargento que matou esposa tem nova linha de investigação surpreendente
O sargento da PM Samir Carvalho assassinou a esposa Amanda Fernandes Carvalho. Reprodução e Reprodução/Instagram

O caso de feminicídio que chocou o litoral paulista apresentou, nesta quinta-feira (8), um desdobramento surpreendente. O sargento da Polícia Militar (PM), Samir Carvalho, assassinou a esposa, Amanda Fernandes Carvalho, dentro de uma clínica médica, nesta quarta (7), em Santos.

A novidade, de acordo com informações da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), é que a PM vai investigar os agentes que atenderam à ocorrência e não evitaram o crime.

A tragédia ocorreu na Avenida Pinheiro Machado, no bairro Marapé. Amanda morreu no local e a filha do casal, de 10 anos, precisou ser socorrida e encaminhada a um hospital da cidade, pois foi baleada e ficou ferida.

A SSP-SP divulgou uma nota para informar que a PM instaurou Inquérito Policial Militar para “apurar rigorosamente a conduta dos agentes acionados para atender uma ocorrência que evoluiu para feminicídio e tentativa de homicídio em uma clínica de saúde”.

Ainda conforme a SSP-SP, policiais foram acionados, via Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), para atender um caso de “desinteligência” na clínica. No local, encontraram Amanda e a filha trancadas em um consultório e um policial militar de folga [Samir] do lado de fora.

“Após o policial mostrar que não estava armado, a porta foi aberta. O autor entrou e atirou na mulher e na filha”, descreveu a secretaria.

A pasta destacou, também, que o sargento foi preso logo em seguida e encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes, em São Paulo.

O boletim de ocorrência (BO), obtido pelo G1, apontou que quatro policiais militares integravam as equipes que atenderam ao caso, registrado como violência doméstica, feminicídio e tentativa de homicídio na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). Além disso, a Polícia Civil instaurou inquérito para investigar as circunstâncias do crime.

A delegada do 2º DP, Débora Lázaro, informou que Samir desferiu cerca de dez facadas em Amanda, depois de efetuar disparos de ama de fogo. “Consta que havia um punhal cravado no corpo da vítima”, indicou a SSP-SP.

O que aconteceu

O BO destacou que testemunhas [não especificadas] ouvidas pela Polícia Civil relataram que Samir chegou à clínica minutos após Amanda e a filha. Ele teria permanecido na recepção com as duas por um período até a vítima ir com a criança ao banheiro.

Ainda conforme testemunhas, Amanda aparentava tranquilidade no momento em que voltou para a recepção. Porém, logo em seguida, ela se afastou de Samir e, discretamente, pediu para a recepcionista acionar a polícia porque estava sendo ameaçada pelo marido.

Depois, Amanda entrou na sala do médico proprietário da clínica junto com a filha, alegando que o marido estava armado e fazendo ameaças de morte. Por isso, o profissional trancou a porta do consultório, colocou cadeiras para evitar a passagem e chamou a polícia.

Duas equipes, com quatro policiais, chegaram ao local quando mãe e filha ainda estavam fechadas na sala. O BO apontou que os agentes “constataram” que Samir não estava armado, porque ele levantou a camisa. Além disso, apresentava “temperamento calmo”.

Os policiais relataram que pediram para Samir se afastar da porta. Entretanto, logo após o médico abrir, ouviram uma sequência de tiros. “Ao adentrarem o recinto, os PMs localizaram o autor, que se rendeu sem resistência. A arma foi apreendida e a ocorrência foi conduzida para registro formal”.

O BO não mencionou onde estava o armamento de Samir quando ele alegou estar desarmado.

Vítima já havia sofrido ameaças e agressões

Amanda Fernandes já vivia um histórico de violência por parte de Samir e, inclusive, havia sido ameaçada de morte por ele outras vezes. A informação é de um amigo e sócio da empresa de comércio exterior que Amanda possuía.

Segundo o amigo, que optou pelo anonimato, o casamento de quase 15 anos não ia bem havia alguns anos. “Sempre houve esses problemas de agressões físicas. Toda vez que ela falava em separação, ele a ameaçava de morte”, relatou, em entrevista para A Tribuna.

A situação se agravou depois que Amanda abriu a empresa. “Ele começou a ter crises de ciúmes de todo mundo que se aproximava dela e, o tempo todo, fazia ameaças de morte, dizendo que ia matá-la, matar os (três) filhos e se matar. Ele pensava que estava sendo traído. Depois de alguns minutos, voltava a si, mas, passados alguns dias, tudo se repetia. No final, aconteceu a tragédia que aconteceu”, contou.

Mesmo sendo agredida e ameaçada, segundo o amigo, Amanda nunca denunciou o marido, porque ele não deixava marcas. “Nunca ia dar nada no corpo de delito. Ela chegou a denunciá-lo na corregedoria uns anos atrás. Eu a aconselhei a também ir à Delegacia (de Defesa) da Mulher”, completou.

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