FOLHA SANTISTA

Evento com Padre Julio e Eliane Dias cria Carta Aberta sobre pessoas em situação de rua

Promovido pelo Instituto Telma de Souza, seminário reuniu mais de 500 pessoas; próximo passo é formulação de documento com propostas

Escrito em SP el
Jornalista e redator da Revista Fórum.
Evento com Padre Julio e Eliane Dias cria Carta Aberta sobre pessoas em situação de rua
Seminário atraiu mais de 500 pessoas. Instituto Telma de Souza

Participação massiva e resultados concretos. É dessa forma que pode ser resumido o “Seminário Regional Políticas Públicas para a População em Situação de Rua - Diagnósticos, Experiências e Garantia de Direitos”, realizado em Santos, no litoral paulista.

A elaboração da Carta Aberta para a humanização no acolhimento à população em situação de rua será a concretização das propostas formuladas por mais de 500 participantes do evento.

Realizado pelo Instituto Telma de Souza (ITS), o encontro, na Universidade Santa Cecília, foi coroado com a participação do padre Julio Lancellotti. O discurso potente do religioso comtagiou o público.

A Carta Aberta será entregue aos prefeitos e câmaras municipais das cidades da Baixada Santista. A partir dos próximos dias, o Instituto Telma de Souza analisará as propostas recebidas no Seminário para definir uma síntese e elaborar o documento, escrito coletivamente para aprimorar as políticas públicas direcionadas à população em situação de rua.

O evento reuniu autoridades regionais e mais de 500 pessoas da sociedade civil. “Nosso objetivo é dar protagonismo a um dos temas mais sensíveis da atualidade, abordando humanização, garantia de direitos, acolhimento, escuta e, principalmente, solidariedade. Queremos também valorizar histórias inspiradoras”, ressaltou a presidente de honra do Instituto, ex-prefeita de Santos, Telma de Souza.

“Temos um histórico de desigualdade social na Baixada Santista e a população em situação de rua precisa da nossa retaguarda. Tenho a honra de estar aqui, ao lado do queridíssimo padre Julio Lancellotti e todos vocês, que são meus companheiros de jornada”, destacou Telma, que presidiu a mesa de autoridades.

Eliane Dias: ativismo e empoderamento

A advogada, ativista e cofundadora da Produtora Boggie Naipe, do Grupo de Rap Racionais MC's, Eliane Dias, também palestrou no evento. Ela relatou que nasceu nas ruas e, posteriormente, foi criada na periferia.

“Precisamos de políticas públicas eficazes, educação, treinamento e parcerias comunitárias para enfrentar a pobreza, a desigualdade econômica, o desemprego, a falta de moradia, as questões de saúde mental e outros fatores que levam pessoas a ficar em situação de rua”, afirmou.

A realidade periférica paulistana, com um cenário de violência institucional, também foi citada pela ativista. “Em São Paulo é difícil ter população de rua na periferia, porque na periferia não se dá alimento para ninguém, dá porrada”, disse a advogada.

Eliane finalizou com questionamentos para a reflexão individual: “Por que vocês estão aqui? Estão preocupados com a população em situação de rua ou em como se livrar dessa população? Ou por que a gente tem um grande homem (padre Julio Lancellotti)? Cada um responda para si mesmo”.

Algumas respostas vieram da condução do presidente do Instituto Telma de Souza, Fernando Alberto Júnior, que  convidou os representantes regionais Laureci Dias (Movimento Nacional de Lutas em Defesa da População em Situação de Rua); Priscylla Coutinho (Associação Donnas da Rua); Luciana Surjus (Div3rso/Universidade Federal de São Paulo - Unifesp); e Fernanda Gouveia (Associação de Desenvolvimento Social às Famílias - Adesaf) para exporem suas experiências.

Perde Julio no seminário - Foto: Instituto Telma de Souza

Padre Julio Lancellotti

Com uma fala provocadora, o padre Julio Lancellotti, vigário episcopal da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, conduziu mais de 500 participantes à reflexão, partilhando suas vivências e despertando o senso crítico da plateia sobre as ações do poder público e da sociedade civil com o povo da rua.

“Li uma notícia que 60 sugestões foram enviadas para reformular o Código de Posturas de Santos, que é de 1968. Por que nós não enviamos?”, indagou.

Uma das sugestões pede a proibição de moradores em situação de rua no transporte público. Indignado, o vigário salientou que “devemos fazer uma passeata, na qual cada um que está aqui pague a passagem de um morador de rua para andar de ônibus. Sugerem que a presença de travestis, trabalhadoras do sexo e pessoas trans em vias públicas seja ato obsceno. Já dizia Saramago: obscena é a fome”, apontou o sacerdote.

Sob os gritos de “Palestina, livre”, padre Julio alinhavou os temas, pontuando que estão interligados por serem o resultado de um sistema opressor.

“Quem defende o povo da rua não fica encapsulado, isolado. Vivemos uma ordem injusta e a desigualdade mata. Quem defende o povo da rua deve defender os direitos do povo palestino, dos indígenas, combater o racismo e a LGBTfobia, lutar por todas as minorias. Cada luta tem sua especificidade, mas todas têm sua fraternidade. Sejam corajosos, questionem. Sejam amigos dos pobres. Defendam os indesejáveis. Não tenham medo de transgredir”, enfatizou.

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