SIGILO LEVANTADO

Bolsonaro mandou monitorar "encontro" entre Moraes e Mourão: "estava nervoso", disse Cid

Em delação, tenente-coronel diz que Bolsonaro "aloprava" ao receber qualquer informação pelo celular. Moraes ironizou a paranoia do ex-presidente: "Não era mais fácil consultar a agenda dele?"

Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão.Créditos: Reprodução de vídeo / VPR
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Em depoimento direto a Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 22 de março de 2024, após áudios vazados pela revista Veja, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que partiu de Jair Bolsonaro (PL) um pedido de monitoramento de um suposto encontro do ministro da corte com o vice-presidente, general Hamilton Mourão (atual senador pelo PL-RS).

O sigilo à delação de Mauro Cid, negociada pela Polícia Federal (PF), foi levantado nesta quarta-feira (19) pelo ministro, um dia após o Procurador-Geral da República (PGR), Paulo Gonet, denunciar Bolsonaro e outros 33 membros da organização criminosa que tentou um golpe de Estado.

No depoimento a Moraes, Cid contou sobre a articulação que fez entre os "kids pretos" com o general Walter Braga Netto, que resultou na arquitetura do plano Punhal Verde e Amarelo, que tinha como objetivo assassinar o ministro, Lula e Geraldo Alckmin (PSB).

Cid comentou que a facção homicida comandada por Braga Netto começou o monitoramento de Moraes. No entanto, partiu do próprio Bolsonaro uma solicitação para vigiar um suposto encontro que ocorreria em São Paulo.

"A informação era que seria, porque o Senhor iria se encontrar ou com o general Mourão ou alguém do governo dele. E o presidente estava meio nervoso com isso aí. Então ele queria saber. Essa foi a informação que eu recebi. E novamente eu usei o coronel Câmara, eu pedi ao coronel Câmara pra tentar colher essa informação", disse, referindo-se ao tenente-coronel Marcelo Câmara, destacado para monitorar o ex-ministro.

Segundo Cid, Bolsonaro desconfiava que o encontro ocorreria entre 12 e 19 de dezembro de 2022.

Agenda

Mais adiante, Moraes volta ao assunto e chega a ironizar o serviço de "inteligência" de Bolsonaro para monitorar o suposto encontro que teria com Hamilton Mourão.

"Coronel, o senhor já tinha dito no depoimento anterior - e hoje disse novamente - que o pedido do presidente Bolsonaro para me monitorar foi porque ele achou que eu pudesse me encontrar com o vice-presidente general Mourão. Agora, na agenda do general Mourão, do dia 15 até dia 30, ele não estava em São Paulo. Não era mais fácil consultar a agenda dele?", indaga Moraes, com certa ironia.

Cid, então, explica que Bolsonaro recebia uma avalanche de fake news e, como estava "irritado", mandava verificar tudo.

"Ministro, mas eu creio que foi consultado, eu creio que foi consultado também, porque o que acontecia lá, até para explicar a dinâmica como acontece isso, até para o Senhor entender, o presidente recebia muita informação informes, muitos informes pelo celular dele. E pelo perfil dele, já ficava nervoso, irritado e mandava verificar. Então, mas seria. Mas, se era para assim, eu não posso garantir para o senhor, mas foi isso que eu cotejei ali com o coronel Câmara outra finalidade, eu realmente não consigo garantir pro Senhor", respondeu.

Em seguida, Cid diz que a agenda poderia ter sido com o então governador eleito, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), mas que não poderia confirmar, pois Bolsonaro "aloprava" ao receber as informações pelo celular.

"A informação do que gente foi buscar foi ou pro general Mourão ou para outra autoridade ou ministro dele, talvez o Tarcísio, eu não sei. Porque, muitas vezes, ministro, chegava informação de pessoas que diziam - e aconteceu, né? - 'recebemos informação que o Ministro Alexandre de Moraes está reunido com o Tarcísio num prédio em São Paulo', né; que, na época do Rodrigo Maia, 'o deputado Rodrigo Maia está não sei aonde reunido com o Paulo Guedes, está reunido com o Moro'. Então, essas informações chegavam pelo celular do presidente. E, às vezes, ele já aloprava; às vezes, ele ligava para o ministro; às vezes, ele mandava a gente verificar se realmente acontecia", contou Cid.
 

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