A delação de Mauro Cid trouxe novos elementos sobre o envolvimento de Walter Delgatti, conhecido como "Hacker de Araraquara", com o governo Bolsonaro. De acordo com o ex-ajudante de ordens do ex-presidente, Bolsonaro ordenou pessoalmente que Delgatti fosse levado ao Ministério da Defesa para explicar supostas vulnerabilidades do sistema eleitoral brasileiro. A ida do hacker ao ministério seria parte de um esforço mais amplo do governo para contestar a confiabilidade das urnas eletrônicas e questionar o resultado das eleições presidenciais.
Segundo Cid, a reunião ocorreu no Palácio da Alvorada, na presença da deputada federal Carla Zambelli e do coronel Marcelo Câmara. Durante o encontro, Bolsonaro demonstrou interesse nas alegações de Delgatti sobre a possibilidade de interferência no sistema eleitoral. Após essa conversa, Bolsonaro ordenou que o hacker fosse levado ao Ministério da Defesa para apresentar suas alegações a oficiais e técnicos militares. A recepção foi organizada com a anuência do então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, que designou uma equipe para ouvir Delgatti.
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No Ministério da Defesa, Delgatti foi recebido por um general e por membros da Comissão de Transparência Eleitoral. O grupo tinha como objetivo avaliar possíveis fraudes no processo eleitoral, um tema amplamente promovido por Bolsonaro e aliados. Cid relatou que Bolsonaro questionou Delgatti sobre como ele poderia demonstrar falhas no sistema eletrônico de votação e instruiu que os técnicos militares analisassem as informações fornecidas pelo hacker.
O depoimento de Cid também revelou que Bolsonaro acreditava que Delgatti era o mesmo hacker responsável por uma invasão aos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018. O ex-ajudante de ordens afirmou, no entanto, que desconhecia qualquer pagamento ou promessa de benefícios ao hacker por parte do governo.
A delação detalha ainda que Bolsonaro utilizava sua rede de contatos para explorar qualquer oportunidade que reforçasse a narrativa de vulnerabilidade do sistema eleitoral. Em paralelo, aliados do então presidente, como Carla Zambelli, buscavam criar conexões entre Delgatti e agentes do governo para amplificar as acusações contra o TSE.
A menção a Walter Delgatti na delação de Mauro Cid reforça o esforço do governo Bolsonaro em alimentar narrativas de fraude eleitoral. O hacker já havia sido preso em agosto de 2023 após afirmar que realizou invasões a sistemas do Judiciário a pedido de Zambelli. Segundo Delgatti, sua participação foi parte de um esquema para desestabilizar o processo eleitoral e semear desconfiança entre os eleitores.
Além da questão eleitoral, a delação de Cid também abrange a atuação de grupos organizados dentro do governo para difundir desinformação e atacar instituições democráticas. O ex-ajudante de ordens citou a existência de um núcleo de aliados que buscava formas de enfraquecer a credibilidade da Justiça Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal, promovendo um ambiente de instabilidade política.
Trechos do documento revelam que “o Presidente deu ordem para DELGATTI ir ao Ministério da Defesa em seu próprio nome” e que “o general Paulo Sérgio tinha ciência da visita e delegou a recepção ao seu corpo técnico”. O documento também aponta que “Delgatti chegou ao Palácio da Alvorada acompanhado de Zambelli e foi encaminhado ao ministério sob ordens diretas de Bolsonaro”.
As informações da colaboração premiada de Mauro Cid foram anexadas ao Inquérito 4.874, que investiga a atuação de milícias digitais na disseminação de desinformação. O material agora está sob análise da Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal, que decidirão sobre os próximos passos da investigação. O avanço das apurações pode levar ao aprofundamento das suspeitas sobre o envolvimento de Bolsonaro e sua equipe em tentativas de manipular a opinião pública por meio de informações falsas e instrumentalização de figuras como Walter Delgatti.
Com o depoimento de Cid, cresce a expectativa sobre novos desdobramentos da investigação e eventuais implicações jurídicas para os envolvidos. A relação entre o governo Bolsonaro e Delgatti, embora já conhecida, ganha novos contornos com os detalhes fornecidos pelo ex-ajudante de ordens, aumentando a pressão sobre as autoridades para esclarecer a extensão das ações do governo na tentativa de questionar o sistema eleitoral brasileiro.