Pablo Marçal incorporou o pior estilo do ex-presidente Jair Bolsonaro e aplicou os ensinamentos da cartilha bolsonarista e da extrema direita em geral no trato com jornalistas durante debate entre candidatos e candidata à Prefeitura de São Paulo neste domingo (1).
O ex-coach, condenado por integrar uma quadrilha de fraude bancária e enrolado com denúncias de envolvimento entre pessoas do seu partido, o PRTB, e o PCC, Primeiro Comando da Capital, maior organização criminosa do Brasil, atacou o jornalista Josias de Souza, da TV Gazeta/UOL.
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Ao ser questionado por Souza sobre uma declaração de Marçal durante o podcast Flow, em que ele afirmou a necessidade de ser "idiota" no processo eleitoral. Ao invés de responder, Marçal fez crítica ao jornalismo e acusou a imprensa de parcialidade e de agir com militância.
"O que a militância poderosa do jornalismo tem feito é produzir, ao invés de uma imprensa imparcial, esse nível de idiotice.[...] Quando os (oponentes) me atacam, me xingam, dizem que mudaram a estratégia. Vocês tratam as pessoas como idiotas. As pessoas na rua falam para mim: 'você falam que a gente pensa'”, disse.
Está na cartilha da extrema direita atacar a imprensa
Políticos de extrema direita como Pablo Marçal, Jair Bolsonaro, Javier Milei e Donald Trump vivem atacando a imprensa porque isso faz parte da estratégia política deles para difundir sua ideologia autoritária.
Atacar a imprensa é uma tática para descredibilizar críticas e reportagens negativas. Ao criticar jornalistas, os ultradireitistas promovem suas próprias narrativas por meio de seus próprios canais nas redes sociais, mobilizando seus apoiadores, criando um senso de "nós contra eles".
Relembre alguns ataques de Bolsonaro contra jornalistas
Ao longo de seu mandato, Bolsonaro atacou reiteradamente jornalistas. Além de críticas, o hoje inelegível recebeu condenações judiciais. Em outubro de 2023, Bolsonaro foi condenado em definitivo a pagar uma indenização coletiva por danos morais de R$ 50 mil por uma série de ataques proferidos a jornalistas durante seu mandato.
Em abril de 2021, o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo entrou com ação contra Bolsonaro, relacionando 175 ataques feitos pelo ex-presidente apenas em 2020. A entidade avalia que a postura do então mandatário incentivou seus apoiadores a hostilizarem a imprensa.
"Casada com quem vota em mim"
Durante a campanha de 2022, em uma sabatina transmitida pela Jovem Pan em 6 de setembro daquele ano, o então presidente, ao ser questionado pela jornalista Amanda Klein sobre suspeitas envolvendo sua família. Referindo-se ao marido da jornalista, o presidente disse: "Ô, Amanda, você é casada com uma pessoa que vota em mim. Eu não sei como é teu convívio na tua casa com ele."
Klein prontamente respondeu que sua vida particular não estava em discussão, ao que o presidente retrucou questionando por que sua própria vida particular estava sendo abordada. A interação ocorreu enquanto ele era questionado em sua capacidade como chefe de Estado e candidato à reeleição.
"Quadrúpede"
Em 1º de junho de 2021, ao falar com apoiadores nos jardins do Palácio da Alvorada, Bolsonaro atacou a jornalista Daniela Lima, então na CNN, que teve uma declaração tirada de contexto por apoiadores do presidente.
A apresentadora havia dito, durante o jornal CNN360º, a seguinte frase: "Não saia daí porque agora, infelizmente, a gente vai falar de notícia boa, mas com valores não tão expressivos", em referência a números sobre o mercado de trabalho. Bolsonaristas compartilharam então apenas o trecho "infelizmente, a gente vai falar de notícia boa", sem a conclusão do raciocínio.
Sem citar nominalmente a profissional, o presidente disparou: "'Infelizmente, somos obrigados a dar uma boa notícia, mas não é tão boa assim não'. É uma quadrúpede."
"Cala a boca"
Poucas semanas depois, Bolsonaro atacou a jornalista Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo em São José dos Campos (SP), ao ser indagado por ter chegado a um evento sem usar a máscara.
"Eu cuido da minha vida", afirmou Bolsonaro. E após tirar a máscara, esbravejou: "Essa Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa."
A jornalista tentou interpelá-lo, mas foi cortada rispidamente pelo presidente, que disparou: "Cala a boca!"
Dar um furo
Em fevereiro de 2020, Bolsonaro fez uma insinuação sexual ao se referir à jornalista Patricia Campos Mello, autora de uma série de reportagens para o jornal Folha de S.Paulo que revelaram disparos em massa de notícias falsas pelo WhatsApp em benefício do então candidato durante as eleições de 2018. No final de junho deste ano, ele foi condenado a indenizar a jornalista em R$ 35 mil.
Ao falar com jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro, cercado da sua tradicional claque de apoiadores, disse, intercalando risadas, que a repórter "queria dar o furo a qualquer preço contra mim". No jargão do jornalismo, furo é um termo usado para designar a obtenção e divulgação de uma notícia exclusiva. Mas, no contexto usado pelo presidente, o termo acabou sendo instrumentalizado por Bolsonaro como um insulto sexual.
O debate
O debate deste domingo foi o quarto deste período eleitoral, teve cerca de duas horas de duração e foi transmitido pela TV Gazeta, além dos canais do My News e do Jornal da Gazeta no YouTube.
Participaram do debate Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB), Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB).
Este foi o primeiro debate na cidade desde o ocorrido em 19 de setembro, organizado pela revista Veja, que contou com a participação de apenas três candidatos. A ausência de Nunes, Boulos e Datena no último encontro foi atribuída ao desconforto gerado pelas táticas de Pablo Marçal, que envolviam publicar vídeos editados com ataques aos adversários nas redes sociais.