TRAGÉDIA NO SUL

Tarso Genro: responsabilidade de governantes atuais é imensa na tragédia do RS

Para Genro, duas questões "evidentes e comprovadas" sobre Eduardo Leite e Sebastião Melo são preliminares fáticas da maior catástrofe climática ocorrida no Brasil: negacionismo e sucateamento do sistema antienchente.

Tarso Genro.Créditos: Instagram / Tarso Genro
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Ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-prefeito de Porto Alegre por dois mandatos, Tarso Genro (PT) afirmou que Eduardo Leite (PSDB) e Sebastião Melo (MDB), atuais mandatários do estado e da cidade, têm uma responsabilidade enorme na tragédia climática que já deixou 149 mortos, 108 desaparecidos e afetou mais de 2 milhões de gaúchos.

"A responsabilidade dos governantes atuais não é pela catástrofe que aconteceu - essa vem de longe. É pelo fato de que as medidas que eles poderiam ter tomado, que estavam ao alcance, não foram tomadas porque tinham uma visão negacionista da questão climática", disse Genro nesta quarta-feira (15) em entrevista a Renato Rovai e Dri Delorenzo no Fórum Onze e Meia

"É isso que vai ser a discussão política, que se vai fazer de maneira intensa na cidade", emendou ele, que também foi ministro da Justiça, de Relações Institucionais e da Educação nos dois primeiros mandatos de Lula, além de deputado federal.

Para Genro, duas questões "evidentes e comprovadas" sobre o governador tucano e o prefeito emedebista são preliminares fáticas da maior catástrofe climática ocorrida no Brasil: o negacionismo científico, que resultou no sucateamento do sistema antienchente construído na capital gaúcha nos anos 1970 após cheia história, que elevou o nível do Guaíba a 4,76 metros, em 1941.

"Tanto o prefeito da cidade, quanto o governador, têm um postura negacionista em relação à questão climática. Qual é a consequência dessa postura? O governador se tornou propagandista da queda do muro [de contenção de enchentes no rio Guaíba]. Tem vídeos circulando lembrando essa atitude dele. A palavra do governador tem influência na conduta das pessoas, da máquina pública e da própria especulação imobiliária, que é muita intensa e sempre olhou o muro de forma antipática", afirmou o petista.

Em seguida, Genro lembrou o projeto criado por Melo para homenagear empresários da cidade com fotos impressas no chamado Muro da Mauá, que faz a contenção das enchentes e onde estão instaladas as comportas que foram sucateadas - uma delas chegou a romper no dia 5 de maio.

"Vamos para a prefeitura que, ao invês de cuidar do muro, transformou numa exposição de pinturas homenageando grandes empresários da cidade. Nós chegamos a pensar que esses empresários iriam financiar algum tipo de trabalho de contenção, sobre as comportas, na proteção da cidade. Mas, não. Foi apenas uma homenagem que o prefeito fez certamente àquelas pessoas que, certamente, são seus simpatizantes políticos", disse.

"Qual foi a consequência dessa política? Não ocorreu nenhum trabalho de manutenção. Nem no muro, nem nas comportas, nem no sistema de drenagem e nenhuma ação educativa na cidade de como se comportar em caso de evento climático dessa natureza que foi brutal", emendou o ex-prefeito e ex-governador.

Vice de Olívio Dutra, outro petista que também governou a capital e o estado, Genro lembrou que os picos de investimentos no sistema antienchente ocorreu justamente nas gestões da legenda, que passaram a ser usados como armas políticas pela oposição neoliberal, capitaneada por Leite.

"Quando Olívio Dutra assumiu a prefeitura [em 1989], e eu era vice dele, começou um trabalho de investimento na revisão das comportas e de todo o sistema de proteção às cheias, em que o muro é um dos aspectos. Depois entro eu. Nos dois governos instalou-se o pico [de investimentos no sistema antienchente]. Depois disso cai, quando vêm os governantes neoliberais. E com essa cultura de ataques ao muro cai vertiginosamente".

Genro lembra que a ação dos opositores contra o sistema antienchenten foi retomada com Leite, que fez da questão sua principal plataforma política.

O ex-ministro lembra que chegou a fazer um seminário internacional, com autoridades da Holanda, para esclarecer sobre a importância do sistema de contenção das águas na capital gaúcha.

"Mas, a campanha reiniciou com o ativismo do governador [Eduardo Leite], que é uma pessoa que eu respeito, não é um sectário, não é um fascista. É um neoliberal radical. E ele aparece fazendo a campanha pela queda do muro. E ele vem com o apoio das grandes redes de comunicação da cidade", diz Genro.

Segundo ele, a postura do governador de querer derrubar o muro combinado com o negacionismo científico do prefeito aliado de Jair Bolsonaro são motivos imediatos dessa tragédia. 

"Não é que não teria uma catástrofe. Seria uma catástrofe, porque decorre de uma degradação da visão climática, mas seria muito menor. Os danos na cidade seriam muito menores, vidas seriam poupadas".

Assista a entrevista na íntegra no Fórum Onze e Meia