É inegável que a facada recebida pelo então candidato e hoje ex-presidente inelegível, Jair Bolsonaro (PL), em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de setembro de 2018, foi um episódio central na escalada de popularidade que o líder da extrema direita brasileira viveu naquela campanha eleitoral que o alçou ao Palácio do Planalto. A partir daquele momento, muitos debates acalorados envolvendo o episódio tomaram a imprensa e a sociedade brasileira como um todo. Desde narrativas que duvidavam da veracidade dos fatos, até as diversas versões do caso que foram debatidas na Justiça, quase tudo sobre a facada em Bolsonaro ganhou enorme atenção. Mas um aspecto relativamente importante acabou ficando de fora do radar: seu filho Eduardo Bolsonaro, principal peça que articulou o apoio do setor armamentista ao clã, não parecia estar muito preocupado com o ocorrido. Ele estava, na verdade, em campanha.
A vaidade excessiva pode ser problemática. As pessoas deixam rastros nas redes sociais porque não conseguem se conter. São viciadas em exposição, não conseguem se ver um único dia sem compartilhar nas redes sociais o que estão fazendo. Contam onde estavam, o que estavam fazendo, com quem estavam ligados e quando aconteceu algo em suas vidas. Fazem isso todos os dias, tendo um diário aberto para todos nas redes sociais. E Eduardo, assim como boa parte do clã Bolsonaro, mantêm tais práticas digitais. Esta é uma história rápida que aconteceu em setembro de 2018 e até agora ninguém da mídia brasileira parece ter notado.
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A Revista Fórum foi alertada sobre esse detalhe pela equipe da Graf (Global Researchers Against Fascism), um grupo de pesquisadores radicados nos EUA que se dedica a revelar os vínculos entre a extrema direita global e os setores armamentistas. De acordo com o levantamento dos pesquisadores, Eduardo Bolsonaro, a menos de 24 horas após o esfaqueamento, estava a 500 km de seu pai, agredido em Juiz de Fora, Minas Gerais. Nas redes, ele estava sorridente, fazendo campanha pela sua reeleição ao Congresso Nacional.
Eduardo postou no Instagram que na manhã do dia 7 de setembro estava fazendo “panfletagem”. Seu pai, Jair, havia sido esfaqueado na tarde do dia anterior e chegou às 15h40 ao pronto-socorro do hospital local, onde foi operado após as 17h. A cirurgia durou 2 horas. Jair, segundo boletim médico, teve o intestino perfurado e perdeu dois litros de sangue. Após a cirurgia ele foi levado para a UTI. Na manhã seguinte foi transferido de avião para um grande hospital da cidade de São Paulo. Ele ficou internado por 23 dias e recebeu alta em 29 de setembro.
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Mas apesar do esfaqueamento, Eduardo Bolsonaro manteve sua agenda na manhã seguinte e visitou duas cidades, Arujá e Mogi das Cruzes, no vizinho estado de São Paulo.
Em sua postagem de 7 de setembro, ele nem mencionou o esfaqueamento do pai. Sorridente, ele escreveu “Arujá e Mogi. Panfletagem hoje pela manhã em Arujá. Uma melhor recepção é impossível. Agora estou aqui em Mogi das Cruzes fazendo minha campanha também”.
Vamos ampliar a imagem e tentar encontrar alguma preocupação ou infelicidade no rosto do Eduardo:
Eduardo Bolsonaro viajou de Mogi das Cruzes para Juiz de Fora após panfletar na manhã do dia 7 de setembro. Curiosamente, seu pai já havia saído do hospital em Juiz de Fora às 8h25. Portanto, parece que Eduardo Bolsonaro só viajou a Juiz de Fora para dar continuidade à campanha, desta vez com apoiadores em frente ao hospital. Na publicação pode-se ouvir o gado chamando-o de “mito”. Ele repostou de um usuário que confirmou que esteve em Mogi das Cruzes no dia 7 de setembro.
Com as facadas, a popularidade de Jair disparou. Pouco antes do esfaqueamento, no final de agosto de 2018, as pesquisas mostravam que Jair Bolsonaro provavelmente receberia 19% dos votos. Ele compareceu a apenas um debate na televisão e falhou miseravelmente. 10 dias depois de receber alta hospitalar, e afastado de todos os debates, no dia 9 de outubro, obteve 46% dos votos no primeiro turno das eleições. Eduardo Bolsonaro, por sua vez, foi reeleito para o Congresso Nacional e seu irmão Flávio foi eleito para o Senado.
Talvez Eduardo tenha deixado uma pista do motivo pelo qual não estava nem um pouco preocupado com o estado de saúde do pai. Em seu Instagram, um dia antes do esfaqueamento, ele interagiu com a NRA (National Rifle Association, o lobby pró-armas dos EUA) e com seu colega brasileiro da NRA - e possivelmente o porta-voz da organização no Brasil, Royce Gracie, conforme palavras do próprio Eduardo. Gracie estava com Bene Barbosa, o guru das armas de Bolsonaro, no Clube de Tiro. 38, coincidentemente o estabelecimento onde o esfaqueador Adelio Bispo visitou dois meses antes do esfaqueamento.
A NRA esteve no Brasil, através do olhar de Royce Gracie, acompanhando de perto o esfaqueamento de Jair Bolsonaro. Alguns diriam que tudo estava sob controle.