Anos depois das reuniões que o clã Bolsonaro fez com o National Rifle Association (NRA), em 2017, ainda de olho na campanha à presidência do ano seguinte, foi a vez da própria representante do lobby armamentista internacional, que financia projetos políticos de extrema direita, visitar a família Bolsonaro. E não foi qualquer visita. Tratou-se da ida em dezembro de 2021 de Johnny Morris, um dos nomes mais importantes da NRA, ao gabinete do então presidente Jair Bolsonaro (PL), no Palácio do Planalto.
Àquela altura o governo de Jair Bolsonaro já havia desmantelado o Estatuto do Desarmamento para facilitar a exportação de armas de fogo para o Brasil e seu filho Eduardo Bolsonaro já tinha obtido sucesso em ajudar na articulação do Pro-Armas, a versão brasileira da NRA que no último ano elegeu 38 representantes para cargos públicos, incluindo deputados federais, senadores e governadores. Em outras palavras, os objetivos do lobby no país já estavam cumpridos ou encaminhados.
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Durante visita ao gabinete do então presidente do Brasil, Morris lhe deu uma jaqueta bordada da Bass Pro Shops, importante rede varejista de venda de armas dos EUA. Bolsonaro, em troca, deu uma medalha a Morris. Não há registro oficial disponível online e nem cobertura da imprensa sobre o encontro entre a dupla que entupiu o Brasil de armas. O que há é um anúncio feito por Eduardo Bolsonaro, o terceiro filho de Jair e principal articulador das relações do clã com a extrema direita internacional, em suas redes sociais. Na sequência do encontro, o “embaixador” publicou imagens.
Após quatro anos de Jair Bolsonaro (PL) à frente do Palácio Planalto, o número de armas registradas por CACs (caçadores, atiradores esportivos e colecionadores) aumentou em 187% e chegou a mais de um milhão em todo o país no fechamento do primeiro semestre de 2022. O arsenal está em mãos de quase 700 mil pessoas e paralelamente a esse aumento de registros, aumentam também os relatos de incidentes correlacionados.
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Por sua vez, a NRA ficou famosa mundialmente durante o mandato do republicano George W Bush (2001-09) quando o cineasta Michael Moore lançou o documentário Tiros em Columbine (Bowling for Columbine, 2002), onde relacionou o looby pró-armas de seu país com os já crescentes casos de massacres em escolas americanas, à época.
No Brasil, armas compradas por CACs foram usadas em assalto na cidade de Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre. Em São Paulo, um CAC matou a ex-esposa e o filho de um ano com um fuzil. Na Paraíba, um CAC foi preso suspeito de alugar armas para assaltantes. Além disso, também foi encontrado um arsenal avaliado em R$ 160 mil em posse de George Washington Oliveira de Sousa, o “Terrorista de Brasília”, preso em flagrante acusado de planejar ataques a bomba no aeroporto da capital contra a posse de Lula. Esses casos são apenas para ilustrar o problema, pois a lista parece ser interminável. O próprio Exército, responsável por emitir as licenças, admitiu a perda do controle.
Quem é a ‘visita’
Johnny Morris é o dono da Bass Pro Shops, uma das maiores varejistas de armas de fogo dos EUA, além de ser um dos mais poderosos membros e apoiadores da NRA. Entre outras ações, ele doou o espaço e financiou a construção do Museu Nacional das Armas Esportivas (NSAM, na sigla em inglês), gerido pela própria NRA. O museu funciona o subsolo da Bass Pro Shops em Springfield, no Missouri. A estimativa é de que a construção custou mais de 300 milhões de dólares.
Morris também financiou reuniões e exposições anuais da NRA, além de ter patrocinado, em nome da sua rede de lojas de armas, famosas corridas de carro como a Nascar. Seu patrimônio gira em torno de 8,1 bilhões de dólares e ele foi ranqueado como a 92º pessoa mais rica dos EUA em 2022 pela revista Forbes.
Além do aporte financeiro à associação armamentista e suas atividades, Morris também ficou conhecido por ter apoiado com grande quantidade de dólares as campanhas presidenciais de Donald Trump em 2016 e em 2020. Ele foi um dos 23 bilionários que fizeram doações de seis dígitos ao comitê de Trump. O líder da extrema direita dos EUA, que agora é acusado de mentor da Invasão do Capitólio, foi amplamente apoiado pela NRA e seus membros.
Passeio com Eduardo
Dias antes da visita ao Palácio do Planalto, Morris fez uma viagem à floresta amazônia e levou o terceiro filho de Jair, Eduardo Bolsonaro, consigo. O “embaixador” do clã para a extrema direita armamentista dos EUA foi agraciado, junto com sua esposa Heloisa e a filha Geórgia, com uma estadia paga pelo magnata da NRA no luxuoso resort montado sobre um barco, chamado The Rio Negro Queen. Ali, os pacotes podem custar mais R$ 30 mil a diária por pessoa.
O dono do resort é a empresa Captain Peacock Yachts and Expeditions e, de acordo com o seu próprio site, tem acordos e negócios com a Bass Pro Shops de Morris.
Heloisa Bolsonaro fez uma série de postagens sobre a viagem no Instagram. Em uma delas, exibiu um boné da Bass Pro Shops com um autógrafo de Morris para a filha. Já Eduardo preferiu gravar um vídeo com o magnata às margens do Rio Negro, onde conversaram sobre pescaria e turismo na floresta.
*Com informações da Global Researchers Against Fascism - GRAF.