Com faixa cínica, Nunes tenta fingir que não é responsável pela Segurança Viária de SP
Prefeito Ricardo Nunes tenta esconder que as mortes de trânsito, inclusive de motociclistas, dispararam 40% no seu governo, e que ele coleciona erros e atrasos
Na terça-feira (26), a cidade de São Paulo presenciou a primeira morte em consequência de uma ocorrência de trânsito envolvendo o serviço de motos por aplicativo. A jovem Larissa Torres, de 22 anos, foi mais uma das centenas de vítimas de trânsito que circulavam por motocicleta na capital. Com a diferença de estar usando um serviço por aplicativo, atividade que o prefeito Ricardo Nunes resolveu se opor. Por isso, ele aproveitou essa tragédia para criar uma cortina de fumaça e desviar a atenção de seus próprios erros.
Em primeiro lugar, esse colunista que atua em defesa da segurança no trânsito há mais de uma década, solidariza-se com familiares e amigos da jovem de Guarulhos. No entanto, é preciso usar esse fato para expor a desfaçatez do Nunes em tentar ocultar a sua incapacidade. Também não podemos atribuir toda a causa da ocorrência à abertura equivocada da porta. Uma colisão tem vários fatores agravantes, como pode ser a velocidade ou um eventual cansaço do motociclista por jornada excessiva imposta pela empresa.
É evidente que as empresas de transporte por aplicativo têm práticas questionáveis, com um imenso lobby jurídico e midiático para mascarar as brechas legais que exploram e a relação abusiva que impõem a motoristas e motociclistas. Mas, isso não isenta o prefeito Ricardo Nunes de ter abandonado ações de segurança viária e até atuar para aumentar a insegurança nas vias.
Em outras palavras, dizer que o prefeito do MDB não fez nada para a segurança viária é pouco, na realidade, ele piorou a situação! Exemplo disso foi a suspensão de uma contratação de radares já autorizada pela CET.
Ricardo Nunes ainda: freou a expansão do programa de acalmamento de tráfego, ignorou a ampliação o projeto de redução de velocidades, suspendeu o levantamento anual de dados sobre ocorrências de trânsito da CET, congelou a consultoria da prefeitura com a Bloomberg Philanthropies, esvaziou a equipe da CET, inclusive a área de educação no trânsito, desacelerou a expansão de ciclovias e, por fim, abandonou qualquer programa destinado à pedestres, que junto com os motociclistas são as maiores vítimas do trânsito paulistano.
Não à toa, após anos em tendência de queda, as mortes no trânsito aumentaram 40% durante seu mandato, incluindo motociclistas, muito antes das empresas de aplicativo forçarem seu retorno, em janeiro deste ano. As mortes no trânsito voltaram a subir exatamente em 2021, ano em que ele assumiu a prefeitura.
A única política de segurança viária mencionada pela prefeitura é a ‘Faixas Azul’, que efetivamente ainda não se provou eficaz. Os próprios relatórios da CET, enviados frequentemente à Secretaria Nacional de Trânsito, afirmam que os resultados são inconclusivos, contrariando o marketing da prefeitura, que já celebra a vitória. Inclusive pelas poucas filmagens da ocorrência na Avenida Tiradentes, precisaria ser investigado se o MotoApp não estava transitando pela motofaixa, o que permitiria alta velocidade entre os carros parados.
Esse cenário de abandono com a segurança viária e o aumento de mortes anos antes da volta dos aplicativos deixam claro que a iniciativa de Nunes - colocar uma faixa no local da morte na Avenida Tiradentes - é oportunista e cínica.
Se o prefeito tem algum argumento contra o serviço de MotoApp, é assumir que não tem capacidade ou coragem de adotar as ações de segurança necessárias. Mas, na verdade, ele deveria lutar também para que os aplicativos de entrega, e até motoristas de carros, parassem de circular enquanto estiver no comando! Se deslocar numa cidade governada por Nunes é realmente perigoso.
Com a repercussão da morte, São Paulo e o governo Nunes só servem para ampliar a visibilidade de um problema que afeta outras cidades brasileiras de forma similar. Pouquíssimos municípios tem um projeto minimamente aceitável de segurança viária. E a reação já começa a surgir, com projetos para melhorar as condições de trabalho aos motociclistas, como o apresentado na semana passada por 14 deputados federais, liderados por Guilherme Boulos, e outro projeto para a capital em desenvolvimento pela bancada progressista na Câmara Municipal.