Ed Motta fez mais uma das suas e afirmou na última quinta-feira (12), em uma live do Instagram, que todos os ouvintes de hip hop são “burros”, sem exceção. A frase do músico é um digno exemplar do mais burro preconceito. Aquele que coloca em uma mesma caixinha tudo o que vem de um mesmo matiz e generaliza. Uma forma de facilitar o raciocínio, de deixar o cérebro em modo descanso. Uma frase digna de uma pessoa burra, sem exceção.
A frase do músico é exatamente esta: "Eu sou preto, mas represento o que a raça tem de mais sofisticado", disse. "Qualquer um que ouve hip hop é burro. Qualquer um, qualquer um. Sem exceção."
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Com a repercussão obviamente negativa, ele ainda acrescentou: "as pessoas estão bravas comigo e acham que vão mudar minha opinião", disse o músico, em inglês, uma outra mania pernóstica que o cantor manifesta vez ou outra.
Na verdade, dá uma pregui??a enorme de rebater essas frases estúpidas que o referido músico costuma dizer para tentar, vez ou outra, sair do anonimato, ganhar alguns cliques. Há não muito tempo, o cidadão resolveu desancar o cantor e compositor Raul Seixas. Acabou pedindo desculpas. Não muito tempo depois disse literalmente que Johnny Cash é “uma merda” e Elvis Presley é um imbecil, um merda, mas canta bem”.
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E assim, de frases idiotas em frases idiotas, Ed Motta chega a esta sobre os ouvintes de hip hop. É com toda a preguiça do mundo que reafirmo considerar, por exemplo, Mano Brown e os Racionais MCs como uma das coisas mais potentes e melhores que surgiram no cenário da nossa canção pop desde há muito. Poderia citar aqui um sem fim de artistas brasileiros e estrangeiros que se dedicam ao gênero e que colaboraram para revigorar a música contemporânea.
Mas não adianta falar e falar e repetir. Assim como os fanáticos religiosos e seus congêneres de extrema direita que empestearam a nossa vida pública, o dito cujo músico também não argumenta. Não é movido por raciocínios “sofisticados”, como ele mesmo se autoproclama. É movido por preconceito mesmo, como disse acima. E, desta vez, de maneira um tanto mais covarde que as anteriores, pois não se refere a nenhum colega de profissão, mas sim ao público de um determinado gênero.
Pois bem. Só pra lembrar, o último álbum de Miles Davis, um dos maiores gênios – senão o maior – do jazz, lançado em 1991, se chama “Doo-Bop” e foi produzido por Easy Mo Bee, um dos grandes produtores de hip hop dos EUA. Nele, participam vários expoentes do gênero.
“Doo-Bop” e diversos outros álbuns de Miles ficaram para a história. São um legado de excelente música e, sobretudo, de uma ampla falta de preconceito, de curiosidade. Um espírito livre e investigativo a respeito de toda e qualquer manifestação musical do planeta. Uma forma de fazer e viver a sua arte, a sua música que é própria dos gênios.
Uma pessoa “burra sem exceção” jamais entenderia mesmo.