Bem, o que pode querer um músico relativamente conhecido no Brasil que vai às redes, uma semana depois de desancar com o legado de Raul Seixas, afirmar que Elvis Presley era um imbecil e Johnny Cash uma merda? É atenção, né?
Imbecil é quem não reconhece a imensidão de Elvis Presley, Jonny Cash e Raul Seixas.
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Não sei qual a régua que Ed Motta usa pra fazer seus julgamentos. Sair disparando contra colegas de profissão dessa maneira já é, de saída, algo extremamente indelicado, pra dizer o mínimo.
Ed Motta tem certo prestígio. É bom músico, já fez álbuns bem interessantes, toca vários instrumentos, enfim, não tem a menor necessidade de dizer essas sandices.
Sim, até porque são sandices mesmo. Sobre Raul, já falei aqui em outro artigo, trata-se de um ótimo e inventivo compositor popular brasileiro.
Ed, no entanto, gostou da repercussão e insistiu, dessa vez com nada mais nada menos do que Elvis Presley e, pasmem, Johnny Cash, um dos mais importantes cantautores dos EUA e, quiçá, do mundo.
Resolveu desancar desta vez dois artistas geniais, nada menos do que isso.
Cash tem dez milhões de ouvintes no Spotify. Elvis treze milhões. Tudo bem, são apenas números, mas não existem tantos milhões de idiotas assim no planeta? Do alto de sua sabedoria infinita, Ed reaparece pra desancar os dois.
É uma merda
Ele diz que já tentou entender “esse negócio de Johnny Cash”. E afirma: “Pensei: ‘o que é? É a letra? As músicas são uma merda. É por que ele se veste de preto?” É uma merda”.
“Johnny Cash cara, se ele estivesse vivo eu esmurrava a cara dele. Esmurrava ele. Eu odeio Johnny Cash. Mais do que o Elvis”, exalta.
E volta ao Rei do Rock: “O Elvis é um imbecil, um merda, mas canta bem. Ele é um idiota, o repertório é uma bosta. Ele não tem importância nenhuma, ele é uma invenção da gravadora igual a tantas coisas que vocês gostam… mas tem uma ‘vozinha’, que dá pra ele cantar num bailezinho”.
Ele completa seu pensamento ressaltado: “Mas o Johnny Cash, é um merda num nível que não tem como falar, cara!”.
Dea Trancoso
Bem, poderia dizer ao Ed que sem os dois, o Século XX seria outro, mais sem graça, com muito menos talento e sabedoria. Quando estava pronto para arregimentar argumentos sobre essa insistente crítica elitista, de que apenas canções com trezentos acordes dissonantes e melodias emaranhadas têm valor, veio um post da ótima cantora brasileira Deia Trancoso que definiu tudo muito melhor do que eu faria:
“Se raul não era músico, eu, então, sou Papai Noel. Deus me livre de tanto rótulo, tanta embalagem, tanto preconceito, tanta prepotência e tanta algema que reduz a música a um logotipo ao qual apenas os corpos virtuoses podem usar. Essa é uma ferradura do mundo patriarcal e capitalista que sanciona leis para enquadrar artistas. Deus me proteja da maldade de gente boa. A casa da minha mãe, Dona Música, tem muitas moradas, amém. Ah, não vadeia, clementina!”, encerra lindamente Deia que, diga-se de passagem, é uma artista de primeira.