Outro dia, estava eu em uma barbearia, no interior de Minas Gerais, quando um dos "colaboradores" do estabelecimento disse que os conteúdos estudados na escola não têm utilidade na vida prática. Em sequência, outro barbeiro disse que, para resolver este problema, duas disciplinas deveriam ser incluídas na matriz curricular: "Gestão de pessoas" e "Educação financeira".
O que poderia ser mera conversação cotidiana, algo banal para muitos, ilustra bem esses tempos em que a chamada racionalidade neoliberal está cada vez mais entranhada nos mais diferentes espaços. Ou seja, a premissa de que todos os âmbitos sociais devem ser "geridos" segundo a lógica empresarial. Aliás, escrevi a palavra colaborador entre aspas, justamente porque os funcionários da barbearia em questão não se percebem como "trabalhadores".
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Incluir "Gestão de pessoas" e "Educação financeira" nas escolas significa contribuir para formar cidadãos prontos para a exploração do capital e bem instruídos sobre como sobreviver com baixos salários.
Não por acaso, políticas educacionais pós-golpe de 2016 - como a versão final da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Novo Ensino Médio -, ao privilegiar um ensino tecnicista, estão completamente alinhadas aos preceitos do mercado.
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Conforme denuncia o professor Viaro, no livro “Anticoach: a gênese do caos”, por meio de disciplinas como “Inteligência emocional”, “Projeto de vida” e “Empreendedorismo” - introduzidas no currículo da educação básica pós-golpe -, as ideias neoliberais adentram o ambiente escolar, sob o verniz "itinerário formativo".
A racionalidade neoliberal também se fez presente na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com uma das questões destacando a pressão do setor empresarial como fator importante para que o Estado brasileiro assumisse o compromisso de reduzir suas emissões de gases do efeito estufa. Em outros termos, o setor privado foi elevado a paladino do meio ambiente.
Mas, sem dúvida, o maior símbolo da atual ofensiva neoliberal na educação é o governo de Tarcísio de Freitas em São Paulo, mais conhecido como "bolsonarista moderado".
Seu secretário de educação é nada menos do que Renato Feder, conhecido empresário do setor de informática, muito interessado em vender produtos educacionais para as escolas.
Nessa lógica, no ano passado, aproveitando a tecnofilia pós-Ensino Remoto Emergencial, o governo paulista tentou emplacar um projeto de utilizar 100% de material digital no ensino fundamental 2. Não deu certo! Mas, como temos acompanhado nos noticiários, Tarcísio segue firme com seu plano de privatizar construções de escolas em São Paulo.
Além disso, políticas similares também têm sido propostas por Romeu Zema, em Minas Gerais, e Ratinho Júnior, no Paraná. Como nada é tão ruim que não possa piorar, ainda há chamada "Bancada Lemann", cujo maior expoente é Tabata Amaral, sempre pronta para agir em favor dos interesses de um dos mais homens mais ricos do Brasil.
Em suma, a partir do que foi exposto nos parágrafos acima, parece que as investidas neoliberais na educação, infelizmente, ficarão cada vez mais intensas.
Isto posto, diante dessa realidade, sempre é importante lembrar: educação não é "gasto", "investimento" ou "negócio" para atender as (insaciáveis) demandas do mercado. Educação é um direito inalienável do ser humano. E, como tal, jamais deve ser concebida numa lógica mercantil.