OPINIÃO

A Caixa de Pandora no Brasil continua aberta - Por Francisco Fernandes Ladeira

Nessa "Caixa de Pandora brasileira", nada é tão ruim que não possa piorar. Além do bolsonarismo, também saiu de lá o "marçalismo", cujo expoente é ainda mais bolsonarista que o próprio Bolsonaro

Pablo Marçal com Bolsonaro e em seus cursos de coach tempos atrás.Créditos: Facebook e Instagram / Pablo Marçal
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Na mitologia grega, o termo "Caixa de Pandora" se refere a um objeto onde os deuses colocaram todas as mazelas do mundo, como a discórdia, a guerra e os diferentes tipos de doenças.

Uma vez aberta a caixa (ou jarro, dependendo da versão), foram liberados todos os males. Exceto um: a esperança.

No Brasil da década passada, três acontecimentos contribuíram substancialmente para a abertura da Caixa de Pandora: a apropriação das jornadas de junho de 2013 pelos setores conservadores, as manifestações pelo golpe contra Dilma Rousseff e a ascensão do bolsonarismo (culminando com a primeira eleição de um presidente de extrema direita no país).

Assim, todo tipo de obscurantismo veio à tona, e muitos indivíduos não se intimidaram mais em demonstrar seus preconceitos e aspectos controversos de suas personalidades (aquilo que Jung se referia como "sombra"). Lembrando Brecht, para morder o PT, a cadela do fascismo, sempre no cio, foi retirada da coleira (e não voltou). 

Mesmo com Bolsonaro fora do poder há um ano e meio, a Caixa de Pandora continua aberta por aqui.

Basta lembrarmos alguns fatos de 2024 para comprovarmos isso, pois os bolsonaristas continuam colocando em prática seus diversos tipos de ódio, seja compartilhando fake news em grupos de WhatsApp, no Congresso mais conservador da história, agredindo (verbal e fisicamente) entregadores de aplicativos ou associando as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul à ira divina (por causa da grande presença de terreiros no estado). 

Mas, nessa "Caixa de Pandora brasileira", nada é tão ruim que não possa piorar. Além do bolsonarismo, também saiu de lá o "marçalismo", cujo expoente é ainda mais bolsonarista que o próprio Bolsonaro. 

Agora sim, a extrema direita tem um nome realmente outsider, Pablo Marçal, que coloca em prática o nefasto lema "liberal na economia, conservador nos costumes". 

Embora o histórico de agressões ao meio ambiente feito pelo agronegócio seja de conhecimento público, nas últimas semanas temos assistido atônitos à maior série de queimadas da história do Brasil. Se, no mito grego que dá título a este texto, havia o "fogo dos deuses", por aqui, há o "fogo do agro".

Mas não devemos nos iludir. Com a Caixa de Pandora aberta (e sem indícios que será fechada tão cedo), mais obscurantismo no aguarda. O que virá pela frente? Uma ditadura neopentecostal? Um completo desmonte do Estado pelas políticas neoliberais? Pablo Marçal (ou algum outro nome da extrema direita) eleito presidente da República?

Nem as mais espetaculares mitologias (e distopias) imaginariam este Brasil do século XXI. E não há esperança que dê jeito. 

Antes o "gigante" não tivesse acordado em 2013. Agora todos nós aguentamos as consequências.