CRÔNICA

Uma distopia chamada Brazil: Parte 3 - Por Francisco Fernandes Ladeira

Aldous Huxley, George Orwell ou Ray Bradbury teriam dificuldades para imaginar uma realidade tão deplorável

Silas Malafaia faz Bolsonaro chorar em ato no Rio de Janeiro.Créditos: Reprodução/Youtube
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Este texto encerra a trilogia que aborda uma sociedade distópica, chamada “Brazil”, governada durante quatro (trágicos) anos pelo “minto”, que, ao invés de cumprir seu mandato, passava o dia nas redes sociais, compartilhando fake news.

Resultado desse (des)governo: o “minto” perdeu a eleição presidencial para seu maior rival, a quem ele considera “comunista”; responsável por fraudar urnas eletrônicas, queimar igrejas e distribuir kit gays nas escolas. Todas as acusações sem qualquer tipo de prova, evidentemente.

No entanto, mesmo com o “minto” fora do poder, seus fiéis seguidores – os distopiclovers –, infelizmente, continuam “honrando” seu legado, protagonizando situações patéticas e bizarras; seja jogando livros em latas de lixo, insultando homossexuais, rezando para pneus, humilhando entregadores de aplicativo e (é claro) compartilhando todas as fake news possíveis.

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Além dos distopiclovers – também conhecidos como “gado” –, a “obra” do “minto” é defendida pela “bancada distópica” no Congresso Nacional do Brazil. Por lá, estes parlamentares, visando sabotar o presidente “comunista”, tentam aprovar projetos de lei que favorecem estupradores, criminalizam mulheres e legalizam o trabalho infantil.

Os dois primeiros projetos propostos pela “bancada distópica” citados acima buscam equiparar a interrupção da gravidez a partir da 22ª semana de gestação (mesmo em casos de estupro) ao crime de homicídio. Isso significa que as mulheres violentadas sexualmente deverão ter penas maiores do que seus algozes. Quem mandou nascer de uma fraquejada?

Para sustentar seus “argumentos” sobre o “PL do Estupro”, a “bancada distópica” contratou uma atriz, que fez uma apresentação grotesca no Senado do Brazil, simulando um bebê desesperado para não ser abortado.

Porém, tanto “bancada distópica”, quanto “minto” e distopiclovers, só (supostamente) defendem crianças pobres antes do nascimento. Depois, elas passam a ser bandidas em potencial ou futuras prostitutas. Indivíduos que irão importunar a ordem e os bons costumes. “Direitos humanos para humanos direitos”, costumam dizer.

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Segundo o pensamento distópico, a mulher não pode tomar decisões sobre seu próprio corpo. A única liberdade que defendem sobre esta questão é a liberdade de ser negacionista, de não ser vacinado contra determinadas doenças transmitidas por vírus, e assim contaminar o maior número de pessoas possível (como ocorreu na época do governo do “minto”).

Mas a bancada distópica não dirige seu ódio apenas às mulheres. Para eles, crianças, a partir dos 14 anos, não podem ter direito à infância; devem trabalhar. Filho de pobre não pode pensar em estudo (uma “extravagância”); desde cedo deve “pegar no pesado”. Aliás, o próprio “minto” já deu o exemplo, pois, segundo suas palavras, ele começou a trabalhar precocemente, aos 12 anos.

Pelo andar da carruagem, os próximos passos da “bancada distópica” serão a revogação da lei que extinguiu a escravidão no Brazil e as criminalizações da heterofobia, da misandria, da cristofobia, do racismo reverso e do preconceito contra ricos. Afinal de contas, como diz o “minto”: minorias sociais devem se curvar para as maiorias.

Aldous Huxley, George Orwell ou Ray Bradbury teriam dificuldades para imaginar uma realidade tão deplorável.

*Francisco Fernandes Ladeira é doutorando em Geografia pela Unicamp

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.