A série “Yellowstone”, de Taylor Sheridan, que tem Kevin Costner como produtor executivo e ator principal, chegou ao Brasil, na Netflix, no dia 15 de janeiro e, em menos de duas semanas virou a mais assistida da plataforma.
Nos EUA o fenômeno é ainda maior. A saga da família Dutton está no ar desde 2018 e teve, segundo dados da Nielsen, média de 11,5 milhões de espectadores por episódio no biênio 2022/2023.
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Pra se ter uma ideia, “Succession”, outro grande sucesso, teve como audiência recorde 2,9 milhões de espectadores no dia da exibição de seu último episódio - segundo dados da HBO (via The New York Times).
As duas tem em comum tratarem de famílias ricas, muito ricas. Enquanto “Succession” conta a história da família Roy, dona de um poderoso conglomerado de comunicação, “Yellowstone” trata de uma família em uma fazenda enorme que dá nome à série. Para os padrões americanos, trata-se de um latifúndio.
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John Dutton (Kevin Costner) é o patriarca. Extremamente autoritário e capaz de qualquer coisa para manter as suas terras – e aqui é bom destacar que o ‘qualquer coisa’ não é figura de linguagem – o personagem só consegue manifestar afeto de verdade pelo neto. Todos os outros que o circundam são peças do seu tabuleiro de guerra, inclusive os filhos.
Dutton disputa o poder com outros proprietários de terra, indígenas extremamente organizados e endinheirados e grandes conglomerados econômicos e seus projetos mirabolantes de resorts, cassinos e estações de esqui.
Faroeste contemporâneo
Tudo, ou quase tudo, se resolve na bala, no tapa e na grana. “Yellowstone” é um faroeste contemporâneo com caminhonetes modernas, helicópteros, cavalos de raça, jogos de poder político e econômico. John Dutton, o personagem de Costner, é, ao mesmo tempo, terrível e carismático. Impossível não odiar e amar a figura simultaneamente. O mesmo ocorre com sua esplendorosa propriedade no estado de Montana que, diga-se de passagem, está disponível para hospedagem.
Tudo é lindo e amplo. O dia a dia dos cowboys, o trabalho acompanhado de perto desde o alojamento até os detalhes de como lidar com o gado e os animais, os romances e a vida cotidiana, tudo é deslumbrante.
"Conservadora"
O resultado é que John Dutton, além de virar um sucesso enorme, acabou adotado pela extrema-direita. Republicanos e trumpistas veneram seus métodos e sua forma de vida. Por outro lado, o criador da série Taylor Sheridan, responde às críticas sobre a produção ser conservadora com um certo espanto: "quem diz isso nunca assistiu à série".
“Eu fico tipo, 'sério?' O programa fala sobre o deslocamento dos nativos americanos e a maneira como as mulheres nativas americanas foram tratadas e sobre a ganância corporativa e a gentrificação do ocidente e a apropriação de terras. Isso é uma série vermelha? [em referência ao partido Republicano dos EUA]”, disse ele ao The Atlantic.
Sheridan tem razão. Admirar John Dutton é corroborar com seus princípios, que não são nem um pouco auspiciosos. Mas é impossível não amar Kevin Costner e seus filhos, particularmente Kelly Reilly no papel de Beth Dutton, a filha alcoólatra e desmiolada e, ao mesmo tempo, a mais confiável do clã.
Seja lá para que lado penda a ideologia do espectador, “Yellowstone” traz uma visão magnífica e real da disputa agrária nos EUA. É uma aula de como sopram os ventos da América para longe (ainda) dos grandes centros urbanos industrializados. Trata de um mundo brutal em extinção que insiste em se transformar em algo ainda pior