APOCALIPSE

"O Mundo Depois de Nós", novo filme da Netflix, confirma o óbvio: a barbárie somos nós

Nova produção da plataforma de streaming acompanha duas famílias durante o início do fim do mundo

"O Mundo Depois de Nós", novo filme da Netflix, confirma o óbvio: a barbárie somos nós.Créditos: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

Se a morte, como diz o bom e velho ditado, é a única certeza que temos desde o momento em que iniciamos a construção de nossa consciência crítica, como será o fim do planeta Terra também é uma questão que permeia o nosso imaginário. Prova disso é que milhares de obras artísticas, que versam sobre o fim dos tempos, já foram produzidas.

"O Mundo Depois de Nós", novo filme da Netflix que adapta livro que leva o mesmo nome, escrito por Rumaan Alam, trata do fim, não necessariamente da Terra, mas sim da nossa extinção. Ou também pode ser o fim de ambos; tudo vai depender da maneira como cada pessoa vai interpretar os vários fragmentos apocalípticos que o diretor e roteirista Sam Esmail, responsável pela excelente série "Mr. Robot" (Prime Video), lança ao longo da produção. 

Os primeiros sinais

A trama inicia com uma família em início de férias que se dirige para uma casa alugada. Hospedados, todos começam a curtir o tão esperado descanso, mas, na primeira noite longe dos afazeres cotidianos, a paz é interrompida com a chegada de um pai e sua filha, que alegam serem os donos da casa. Isolados, os hóspedes não entendem por que eles foram para lá, e aqui começa o fim: todo tipo de comunicação caiu, inclusive as realizadas por satélite.

Sem comunicação e acesso à informação, só resta a paranoia e pessoas estranhas que terão de construir algum laço de confiança para lidar com a situação. Mas, o que está acontecendo? É a partir deste vácuo que toda sorte de delírio começa a tomar conta de todos os presentes na casa de veraneio.

O inimigo externo

Se não há como estabelecer qualquer tipo de comunicação - rádio, TV e internet caíram - resta se fiar em todo tipo de informação que consumimos até o momento do suposto ataque hacker. Portanto, quem é o responsável pela derrubada dos meios de comunicação? Os russos? A Coreia do Norte? O Irã? Não há resposta.

O roteiro do filme trabalha de maneira muito interessante a maneira como toda essa batalha ideológica e comunicacional pode ter - e tem - um papel fundamental na construção das inimizades internas e de um "inimigo externo" pronto para assumir lugar nas vozes da nossa cabeça.

A partir de então, uma série de diálogos e desconfianças são travados entre os personagens. Nestes embates estão presentes as questões de classe, raça e uma profunda dependência digital na qual estamos imersos.

Ainda que hoje existam canais de televisão e portais que produzem notícias fora do esquema das corporações, o fato é que boa parte da nossa atual interação comunicacional/social se dá a partir do controle de três grandes empresas: Meta (Facebook e Instagram), Alphabet (Google e YouTube) e ByteDance (TikTok).

Além do controle mundial de conteúdo e comunicação exercido por apenas três empresas, o mundo está imerso numa disputa entre fascismo e progressismo (com ares socialistas), tragédias ambientais que afundam cidades inteiras e com efeitos climáticos que alertam sobre o que está por vir.

Da pior maneira possível, os personagens vão descobrir que não há ameaça externa, nem comunistas ou alguma guerrilha islâmica a invadir os EUA, e que, para além do território em questão, mas também por toda a Terra, o fim é representado por nós, a barbárie chamada homo sapiens e que o absurdo nos governa há centenas de anos. 
 

 

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