CONFLITO INTERNO

Um novo país na América do Norte? Movimento separatista ganha força no Canadá

Metas climáticas mais rígidas incomodam parte da população de um território que tem negócios na área petrolífera; entenda

Imagem do centro de Edmonton, capital da província canadense de Alberta
Imagem do centro de Edmonton, capital da província canadense de AlbertaCréditos: awmcphee/CC BY-SA 4.0
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A visita do Rei Charles III em Ottawa, no Canadá, reuniu diversos políticos canadenses, mas a ausência da primeira-ministra* da província de Alberta, Danielle Smith, chamou a atenção.

Como destaca o site canadense Gzero, Smith já vinha demonstrando descontentamento com o governo federal e aproveitou a ocasião para fazer exigências relacionadas à indústria de petróleo e gás de Alberta.

Entre as demandas estavam a construção de um novo oleoduto, a flexibilização de regulamentações ambientais e o fim de restrições à exportação de petróleo. Ela deixou evidente que espera respostas rápidas, insinuando que a falta de ação poderia alimentar as discussões sobre a independência de Alberta, uma possibilidade que tem ganhado força na província.

Separatismo

Levantamento divulgado pela CBC News em maio mostra que 67% discordaram da separação em relação ao Canadá, enquanto 30% concordaram. O resultado foi quase idêntico ao de uma pesquisa semelhante que fez a mesma pergunta cinco anos antes, contudo, a força do apoio entre os separatistas de Alberta aumentou. Em maio de 2020, apenas 12% concordavam "fortemente", já em maio de 2025, esse número havia aumentado para 17%.

Apesar de pesquisas locais indicarem que a maioria dos habitantes de Alberta ainda prefere ser canadense, o movimento separatista tem ganhado terreno politicamente. E a premiê apresentou uma lei que facilitou a convocação de um referendo, reduzindo em centenas de milhares o número de assinaturas necessárias.

Com a mudança, o Alberta Prosperity Project, um grupo que planejava uma petição para um referendo sobre soberania, afirma ter agora um número suficiente de pessoas registradas online para atingir o novo limite. 

Conflito interno

O primeiro-ministro do país, Mark Carney, eleito em março, enfrenta a difícil tarefa de equilibrar os interesses regionais de Alberta com os nacionais, especialmente em questões energéticas e ambientais. Ele prometeu agilizar aprovações regulatórias e ajudar a indústria de petróleo a acessar novos mercados, mas enfrenta resistência de outras províncias e de eleitores preocupados com as mudanças climáticas.

Por trás do movimento separatista está a ideia de que o lado ocidental canadense seria um motor econômico fundamental para o resto do país e estaria contribuindo mais do que recebe em troca. Smith e outros líderes de Alberta também afirmam que as metas climáticas dos liberais são ruins para os negócios na área petrolífera. 

Um dos cenários propostos é a saída de Alberta para se tornar um país independente. Outro cenário inclui Saskatchewan, outra província que, junto com Alberta, votou majoritariamente nos conservadores nas eleições. O novo país poderia incluir ainda o norte rural da Colúmbia Britânica, segundo o site CBC.

Além do impasse interno, o movimento separatista de Alberta desperta preocupações geopolíticas, com Donald Trump frequentemente mencionando a possibilidade de anexação do Canadá, hipótese defendida por uma parte minoritária da classe política de Alberta.

* O sistema político do Canadá é federalista e cada província e território tem sua própria estrutura governamental e um chefe de governo chamado primeiro-ministro provincial (em inglês, “premier”). O cargo é semelhante ao que faz primeiro-ministro em nível nacional.

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