Atual Secretário Nacional de Relações Institucionais do PL - e no centro da investigação internacional sobre corrupção quando comandou como general a intervenção federal no Rio de Janeiro, sob o governo golpista de Michel Temer (MDB) - Walter Braga Netto escancara a politização do Exército, que em grande parte atuou junto a Jair Bolsonaro (PL) em uma tentativa fracassada de golpe de Estado em 2022.
A ação da Polícia Federal (PF), provocada por cooperação internacional com a Agência de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations, a HSI), expõe a relação de Braga Netto, que assinou pessoalmente a dispensa de licitação no valor de 9 milhões de dólares, com a empresa CTU Security LLC, empresa estadunidense que atuou diretamente no assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse em julho de 2021.
Te podría interesar
Segundo o jornal The New York Times, Moïse teria sido executado após prometer enviar aos EUA uma lista de pessoas ligadas a uma rede de narcotráfico internacional.
A própria viúva Martin Moïse, que fingiu estar morta durante o crime, admitiu em seu depoimento que, logo após o assassinato, os pistoleiros, em sua maioria colombianos, vasculharam a sala em busca de documentos - que seria a lista com os nomes ligados ao
narcotráfico.
Médico haitiano, residente na Flórida, Christian Emmanuel Sanon foi preso como um dos autores intelectuais do assassinato.
Em viagem ao Haiti um mês antes do crime, Sanon teria contratado milicianos de uma companhia de segurança venezuelana com sede nos Estados Unidos, chamada CTU, para executar Moïse.
Em live dias depois da prisão, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro revelou que a companhia pertence a Antonio Intriago, um venezuelano vinculado à oposição, “amigo pessoal de Juan Guaidó e Leopoldo López”, líderes da oposição.
Ponta do iceberg
A comunicação de crime que partiu de uma investigação conduzida nos EUA, no entanto, é apenas a ponta do iceberg sobre o grupo de militares que atuaram na intervenção no Rio de Janeiro sob o comando de Braga Netto e foram tragados pela bolsonarização do Exército nos anos seguintes.
Segundo a PF, o candidato a vice na chapa de Bolsonaro atuou pessoalmente na dispensa de licitação no valor de US$ 9.451.605,60 (valor global de R$ 40.169.320,80 do câmbio à época) para a aquisição de coletes balísticos, um material de uso exclusivo das Forças Armadas, em um "conluio" com a empresa investigada nos EUA e envolvida no assassinato do presidente do Haiti.
A atuação da organização criminosa, segundo a PF, teria resultado em um sobrepreço de R$ 4.640.159,40 na aquisição dos coletes.
Dois anos antes de entrar para a reserva e atuar como ministro da Casa Civil e da Defesa de Bolsonaro, Braga Netto foi nomeado por Temer comandante da intevenção na segurança pública do Rio de Janeiro em fevereiro de 2018 - um mês antes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Braga Netto exercia "o controle operacional de todos os órgãos estaduais de segurança pública previstos no Art. 144 da Constituição e no Título V da Constituição do Estado do Rio de Janeiro”, incluindo as polícias civis e militares, que já se encontravam sob seu comando.
No comando da intervenção, Braga Netto ignornou a atuação das milícias e poderia solicitar a qualquer momento informações sobre as investigações em curso sobre o assassinato da vereadora – assim como quando esteve à frente da Casa Civil e do Ministério da Defesa.
Mas um pacto de silêncio é mantido por ele e por militares que estiveram a seu lado durante a intervenção. E que foram agraciados com cargos nos últimos anos, quando o fascismo miliciano tomou o poder de assalto no país.
Militares de Braga Netto
Ao custo de R$ 1,2 bilhão somente em recursos federais, a intervenção foi oficialmente encerrada em 31 de dezembro de 2018. Com resultado pífio, que levou principalmente ao fechamento das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) – projeto do governo Lula para aproximar a população de comunidades dos agentes de segurança –, a intervenção seguiu de forma extraoficial durante o governo Bolsonaro, ao custo de mais de R$ 1 milhão ao ano e servindo de cabide para ao menos 13 militares da ativa.
Já os generais que atuaram ao lado de Braga Netto no comando da intervenção ganharam cargos e status durante o aparelhamento militar patrocinado por Bolsonaro.
Subchefe da Secretaria de Intervenção, o general de brigada Paulo Roberto Rodrigues Pimentel assumiu o comando da Academia Militar das Agulhas Negras, a Aman, em 12 de abril de 2022.
A Aman, onde o ex-presidente estudou entre 1974 e 1977, é considerada o berço do bolsonarismo e um dos principais polos políticos de influência de militares ligados a Bolsonaro.
Suspeita de corrupção
Chefe da Secretaria de Administração e Finanças da intervenção, o general de divisão Laélio Soares de Andrade ocupa atualmente a chefia de gabinete da presidência do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ).
Laélio Soares de Andrade foi o responsável, entre outros, por um contrato suspeito de compras de armas Glock no valor de R$ 46 milhões durante a gestão das finanças da intervenção.
A empresa que vendeu as pistolas semiautomáticas ao gabinete comandado por Braga Netto, a Glock America, é representada no Brasil por Franco Giaffone, amigo de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair e um dos principais lobistas da indústria de armamentos.
Outro fato curioso é que a Glock America não fabrica armas. A sede da empresa fica na Áustria. Durante o mandato do pai, Eduardo tentou, sem sucesso, fazer lobby para instalar uma fábrica da indústria austríaca em Goiás.
Subordinados
A operação da Polícia Federal, no entanto, mira outros nomes do Exército, ligados diretamente e subordinados a Braga Netto. São eles: o general da reserva Paulo Roberto Corrêa Assis, e os coronéis Diógenes Dantas Filho e Robson Queiroz.
Os dois coronéis são oriundos do Comando Militar Leste, unidade do Exército que estava sob o comando de Braga Netto, antes dele ser convocado por Temer para liderar a intevenção.
Da unidade da força, localizada no Rio de Janeiro, foi de onde partiu boa parte dos militares brasileiros que atuaram no Haiti sob o comando de Augusto Heleno (2003-2005), Carlos Alberto Santos Cruz (2007-2009), Luiz Eduardo Ramos (2011 - 2013), Edson Pujol (2013-2014) e ao lado de nomes como Tarcísio Gomes de Freitas e Otávio Rêgo Barros.
O que liga todos esses oficiais da cúpula do Exército é o servilismo a Jair Bolsonaro (PL) durante os quatro anos do governo fascista no Brasil.