EDU LOBO

Edu Lobo, o grande compositor brasileiro que abriu mão do sucesso, chega aos 80 anos

Parceiro de Chico Buarque no Grande Circo Místico, deixou o Brasil no final dos anos 60, assim que se transformou em um pop star

Edu Lobo.Créditos: Nana Moraes_Divulgacao
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O cantor e compositor Edu Lobo chega nesta terça-feira (29), aos 80 anos. Edu foi o primeiro grande astro da nova música popular brasileira da era da televisão. Claro que já existiam outros, sobretudo Roberto Carlos e seus colegas da Jovem Guarda, mas que faziam MPB – termo que ele é considerado o inventor – ele é o pioneiro.

Quando venceu o Festival de Música Popular Brasileira de 1967, da TV Record, com a canção “Ponteio”, em parceria com José Carlos Capinam, e interpretada ao lado da cantora Marília Medalha, Edu não podia mais colocar a cara na rua. Era capa de revistas populares, alvo de fofocas entre outras mazelas que atingem os mega astros.

Aquilo tudo era demais para o tímido e compenetrado compositor, que resolveu partir para os Estados Unidos. Entre 1969 e 1971, Edu morou em Los Angeles. Lá estudou durante alguns meses com o compositor de trilhas para cinema Lalo Schifrin, cujas aulas, admite, não foram bem aproveitadas: “Eu não estava preparado para aquele curso”. A residência de dois anos nos Estados Unidos rendeu, no entanto, outros frutos. Além de aulas de orquestração com Albert Harris (1916-2005), participou do disco From the hot afternoon (1969), do saxofonista Paul Desmond, em Nova York.

Assim que foi, ele avisou: “eu vou viajar cantor e voltar compositor”. Além de aprimorar a técnica da composição, Edu se tornou arranjador e orquestrador. É este artista transformado que aparece no disco lançado em 1973 com seu nome no título, mas que ficou mais conhecido como “Missa breve”. O lado B do LP era uma missa, mas não clerical, e sim com liberdades de autor popular. No lado A, canções marcantes com parceiros variados, como “Viola fora de Moda”, com Capinam e “Vento Bravo”, com Paulo César Pinheiro.

Antes disso, ainda nos EUA, gravou “Sérgio Mendes presentes Edu”, com o brasileiro Sérgio Mendes, e “Cantiga de Longe”, com arranjos de Hermeto Paschoal. Em sua volta ao Brasil, logo após o álbum da missa, lançou uma série de outros como “Limite das Águas”, “Tempo Presente” e “Camaleão”, que traz o sucesso “Lero-Lero”, com Cacaso, além de uma versão letrada por Ferreira Gullar para “O Trenzinho do Caipira”, trecho das Bachianas Brasileiras, de Villa-Lobos. Este disco tem como curiosidade a estreia em gravações do grupo Boca Livre.

A seguir, em 1981, fez um disco com Tom Jobim. No mesmo ano, gravou a trilha “Jogos de Dança”, para o Balé Guaíra. A colaboração com a companhia de dança foi profícua e acabou rendendo o álbum que, para muitos, é considerada a sua obra-prima: “O Grande Circo Místico”, feito em parceria com Chico Buarque.

Nele, entre tantas canções maravilhosas, o destaque para “Beatriz”, com interpretação de Milton Nascimento, que se tornou um dos maiores clássicos de todos os tempos da nossa música.

Edu continuou gravando, fez duas outras trilhas com Chico Buarque: “Dança da Meia-Lua”, de 1988, também para o Balé Guaíra, e a trilha da peça "Cambaio”, de 2001, para o espetáculo de João e Adriana Falcão.

Gravou vários outros discos e lançou ainda um álbum e songbook para a série de Almir Chediak com uma peculiaridade reveladora de todo o seu detalhismo e capricho. Suas partituras, a contrário de todos os anteriores da série, foi totalmente manuscrito por ele.

Aos 80 anos, Edu Lobo, que é considerado por muitos como um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos, continua se apresentando e gravando. Deixou até aqui, e espera-se muito mais, uma obra definitiva e emblemática de uma fase de outro da nossa canção.