OPINIÃO

Jaime Wright herói nacional, porque nem todo evangélico é Dallagnol! – Por pastor Zé Barbosa Jr

Sim, nem todo evangélico é como Dallagnol. Glória a Deus por isso

Reverendo Jaime Wright e o ex-procurador Deltan Dallagnol.Créditos: Reprodução
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Poucos dias antes de o Brasil ser sacudido pela notícia da cassação do agora ex-deputado e ex-procurador da República, o evangélico Deltan Dallagnol, uma das figuras mais emblemáticas na Operação Lava-Jato, uma outra notícia, e esta de suma importância, passou despercebida por muitos órgãos de imprensa: a elevação a Herói da Pátria do Reverendo Presbiteriano Jaime Wright por sua luta incansável pelos Direitos Humanos no Brasil.

No momento em que se sabe que o sucessor de Dallagnol será Itamar Paim, do PL, um também pastor, da Igreja Quadrangular no Paraná, já é de se esperar que seu mandato seja tão pérfido quanto o do ex-procurador. A participação política da Igreja Quadrangular no Brasil sempre foi mercenária e corporativista, a julgar pelo histórico político de uma de suas maiores lideranças nacionais, o também Pastor Josué Bengston, que é tio de ninguém menos que a atual Senadora Damares Alves.

Creio que é de suma importância neste momento resgatarmos essa herança deixada pelo Rev. Wright. Num tempo em que evangélicos são rotulados quase que instantaneamente (e em boa parte com razão, infelizmente) de retrógrados, antidemocráticos e fundamentalistas, a luta e a obra de um pastor protestante que enfrentou bravamente a Ditadura Militar e, em nome do Evangelho, se colocou ao lado da justiça e do povo sofrido e privado de seus direitos é de vital necessidade para que todos saibam que “nem todo evangélico é Dallagnol”.

Permitam-me abrir um parêntese: eu mesmo tenho uma história bem curiosa com o pastor do ex-deputado Deltan. Em 2017, após ter a honra de falar na abertura da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo, onde declarei que “toda forma de amor é abençoada por Deus”, o líder da Igreja Batista do Bacacheri (igreja onde Dallagnol é membro) disse, na Capela do Seminário onde estudei que eu (por conta da minha declaração que se tornou pública e viralizou nas redes) era “uma herança maldita dos batistas para o Brasil”. A julgar que, para ele, o ex-procurador deve ser uma “herança bendita”, até que recebo bem o título de “maldito” vindo de onde vem. Fecho parêntese.

Voltando a falar de Jaime Wright e sua importância na luta democrática contra o Regime Militar ditatorial que comandou o país por mais de 20 anos, o Reverendo Presbiteriano teve seu irmão Paulo Wright desaparecido após uma perseguição dos militares aos “comunistas”. Paulo desapareceu nos porões da ditadura. Jaime assume a luta como poucos e, junto ao Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e o Rabino Henry Sobel constroem uma plataforma de documentação ampla contra o sistema ditatorial, que culmina no Projeto (que virou um livro homônimo) Brasil: Nunca Mais.

Jaime resistiu bravamente às imposições da cúpula da Igreja Presbiteriana do Brasil (que hoje repete sua “queda” pelas ditaduras – foi um dos braços direitos do bolsonarismo), principalmente à perseguição do então líder maior da IPB, o Rev. Boanerges Ribeiro, e participou da fundação de uma entidade dissidente, a FENIP, núcleo do qual originou-se a atual Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. A mesma Igreja presbiteriana deu ao Brasil nomes como Erasmo Braga, Joaquim Beato, João Dias de Araújo, Rubem Alves e Zwinglio Dias. Todos incansáveis na luta contra a Ditadura.

Portanto, trago esta coluna hoje como um memorial em reverência a toda a gama de evangélicos que nunca se curvou aos sistemas perversos e pervertidos que assolam o povo e tiram-lhes Direitos e Dignidade. Que a memória de Jaime Wright e tantos outros reacenda não só o debate sobre a participação evangélica de resistência em momentos cruciais de nossa história, como acenda corações e mentes para que, por uma perspectiva libertária e libertadora do Cristo, que salta aos olhos em uma leitura saudável dos Evangelhos, abandonem os caminhos de ódio e retrocesso aos quais a igreja brasileira, quase majoritariamente, serve neste momento da história.

Sim, nem todo evangélico é como Dallagnol. Glória a Deus por isso!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.