JOSÉ LUIZ TAHAN

As intrépidas histórias de um livreiro que virou escritor chegam ao público

José Luiz Tahan, que é editor, dono de livraria, promotor de uma das grandes feiras literárias do país, acaba de lançar “Um intrépido livreiro nos trópicos”

O escritor e editor José Luiz Tahan.Créditos: Redes Sociais
Escrito en OPINIÃO el

José Luiz Tahan tinha apenas 18 anos e sonhava em ser desenhista. Inventava lindos traços a nanquim e mostrava entre acabrunhado e orgulhoso na saudosa livraria Iporanga, local em que trabalhava.

Ele talvez não imaginasse na época, mas aquele emprego de ocasião virou sua vida do avesso. Os livros desmoronaram sobre ele. Em poucos anos virou sócio da livraria e, logo mais adiante, acabou montando a sua própria, a Realejo, que é uma referência em Santos, litoral de São Paulo. Uma livraria de rua que é ponto de encontro, espaço de pequenos shows e local que ajuda a cidade a respirar.

A capa de “Um intrépido livreiro nos trópicos”

Mas, como Santos é boa de viver, mas pequena de sonhar, sua loja virou também o endereço de uma editora, a Realejo Livros. E ele acabou editando centenas de volumes de autores de todo o país.

Tahan, no entanto, não parou. O inquieto livreiro criou a Tarrafa Literária, um dos maiores e mais divertidos eventos literários do Brasil que, diga-se de passagem, também traz autores de outras partes do planeta, sobretudo os lusófonos.

O resultado de tantas empreitas é um acúmulo astronômico de pequenas/grandes histórias envolvendo anônimos e famosos em habilidosas invenções narrativas que, até então, apenas poucos privilegiados que costumam parar na Realejo para jogar conversa fora conheciam.

Como no caso dele, na casa de ferreiro o espeto também é de ferro, Tahan passou a registrar seus causos, crônicas e resmungos (sim, ele é um grande resmungão!).

O livro

O resultado é o livro “Um intrépido livreiro nos trópicos”, uma sucessão hilária de histórias cujos personagens são algumas das pessoas mais luminosas do país (e do mundo, conforme relatei acima), escritas em um tempo de trevas, como bem lembra o escritor Xico Sá em uma das três orelhas. Outras são de Milton Hatoum e José Roberto Torero. O monstro de Tahan é daqueles que, com suas mais de 400 páginas, fica em pé sozinho e é muito chique, cercado por dentro e por fora de craques.

Mas, enfim, vamos ao texto. O autor não é, nem de longe, o moleque dono da bolsa, dono do jogo de camisas, que pega a 10 pra ele e pronto. Tanto é que, seu belo volume foi feito em outra casa, a Vento Leste, com linda capa que traz a ótima ilustração de Larissa Cruz, que bem poderia ser dele, mas como todo bom médico, Tahan foi se tratar em outro consultório.

Detalhes relevantes à parte, o melhor de tudo é que ele é, de fato, um ótimo cronista. Toda a sua verve sarcástica (nada nem ninguém escapam de suas troças) está nos seus textos de maneira fluida, divertida, carregada de fatos e cultura geral.

Os resmungos

Além das histórias maiores, Tahan descreve também sua perplexidade diante de toda a sorte de sandices que ouve de clientes e curiosos em sua loja. Impossível não imaginar a reação de alguns desses personagens ao saberem que foram resgatados para a eternidade pelo autor em forma de chacota.

Não conto mais nada. José Luiz Tahan que fale por si próprio em seu ótimo “Um intrépido livreiro nos trópicos”, que chega ao público neste sábado (25), do jeito que ele gosta. Lá na Realejo, cercado de amigos, cerveja, batucada e, é claro, livros, muitos livros.

Os que não puderem estar em Santos podem encontrar com o livro por aí, tanto nas redes quanto nas melhores casas do ramo.