Pela primeira vez na história do México, duas mulheres devem disputar a presidência do país nas eleições de 2024, marcadas para o dia 2 de junho: Claudia Sheinbaum e Xóchitl Gálvez.
Sem um terceiro candidato no horizonte, tudo indica que a disputa eleitoral entre as duas mulheres será um choque de origens, personalidades e estilos.
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O México é um país assolado pela violência do tráfico de drogas, uma longa tradição machista e uma onda de feminicídios. Em média, dez mulheres são assassinadas diariamente na segunda maior economia da América Latina; a primeira é o Brasil.
Intelectual de esquerda
Claudia Sheinbaum, 61, ex-prefeita da Cidade do México, é filiada ao partido Morena, do atual presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, que representa uma linha política mais à esquerda.
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Conhecida por suas políticas progressistas, especialmente em temas ambientais e sociais, é a favorita desde o início da campanha.
Neta de judeus que migraram da Bulgária e da Lituânia para o México, apresenta um perfil reservado e prudente na política mexicana.
Críticos mexicanos apontam que lhe falta carisma. Mas ela destaca seu compromisso com as lutas sociais e sua distância do antigo partido dominante PRI.
Vinda da burguesia intelectual da capital mexicana, ela promete dar continuidade às políticas do atual presidente López Obrador, limitado a um único mandato de seis anos, segundo a Constituição.
Sheinbaum diz que defenderá os mais pobres, inclusive as comunidades indígenas, e comemora os bons resultados macroeconômicos do atual governo (moeda forte, finanças saudáveis).
Origem indígena e camaleoa política
Já Xóchitl Gálvez, 60, empresária de origem indígena, é filiada ao PAN (Partido de Ação Nacional), um partido de centro-direita, mas frequentemente adere a políticas progressistas em questões sociais, como aborto, políticas sobre drogas e gastos sociais.
Ela se declara liberal e progressista, sintetizando as ideias dos três partidos que a apoiam: o liberalismo econômico do PAN, de direita, o ideal de justiça social do PRD, de esquerda, e a herança institucional do PRI.
Gálvez tem um histórico de envolvimento com vários partidos políticos e coalizões, indicando uma abordagem mais flexível e abrangente em seu espectro político. Foi senadora pelo PAN na legislatura de setembro de 2018 a novembro de 2023.
Lenço colorido
Sheinbaum, a despeito do seu estilo discreto, volta e meia aparece com toques que celebram as cores e as técnicas têxteis mexicanas que ela mescla com terninhos. Em especial lenços coloridos amarrados em volta do pescoço.
A peça que a candidata a presidência do México usa, além de ser um elemento decorativo, remete à tradição e à cultura dos Mestizos. Esse grupo étnico é composto por pessoas de ascendência mista, geralmente europeia (principalmente espanhola) e indígena americana.
O Mestizos emergiram no México durante a era colonial após a invasão dos espanhóis. Esse grupo étnico forma a maior parte da população mexicana e desempenha um papel crucial na formação da identidade e cultura do país, misturando elementos das tradições indígenas e europeias.
Colorido pré-colombiano
Xóchitl é conhecida por incorporar trajes tradicionais mexicanos em seu guarda-roupa, principalmente durante as agendas públicas. Ela frequentemente usa os tradicionais huipiles, uma espécie de túnica, em eventos de campanha.
Huipil é uma tradicional blusa feminina usada em diversas regiões da América Central, incluindo o México. Feita geralmente de algodão ou outros tecidos leves, é caracterizada por seus bordados coloridos e desenhos que variam de acordo com a região e a comunidade indígena.
Cada huipil pode contar uma história, representar a identidade cultural, as crenças e o status social da pessoa que o veste. É uma peça-chave no vestuário tradicional de muitas comunidades indígenas mexicanas.
Legado de Frida Kahlo
Independente de qual das duas candidatas vença a corrida eleitoral rumo ao Palácio Nacional, a eleição de uma mulher para ocupar o cargo mais importante do executivo mexicano remete ao legado feminista marxista de Frida Kahlo (1907-1954).
A pintora mexicana expressou suas experiências pessoais e desafiou as normas de gênero em sua arte e vida. Suas obras refletem temas de dor, sofrimento, identidade e a experiência feminina, muitas vezes abordando questões como aborto, maternidade e infidelidade.
Frida não se conformava com os padrões tradicionais de feminilidade e expressava sua individualidade e independência através de sua arte e estilo pessoal, tornando-se uma figura inspiradora para muitas mulheres e movimentos feministas.
Que as cores e ideias de Frida, por Sheinbaum ou Xóchitl, ocupem o Palácio Nacional e inspirem responsabilidade política para enfrentar a grave epidemia de feminicídios no México.