MODA E POLÍTICA

Duelo de estilos e de ideias: duas mulheres na disputa pela presidência do México

Claudia Sheinbaum, do partido do atual presidente, López Obrador, é uma intelectual de esquerda; Xóchitl Gálvez, da frente de oposição, é de origem indígena e de centro-direita

Créditos: Wikimedia Commons - Claudia Sheinbaum e Xóchitl Gálvez, uma delas pode ser a próxima presidente do México
Escrito en OPINIÃO el

Pela primeira vez na história do México, duas mulheres devem disputar a presidência do país nas eleições de 2024, marcadas para o dia 2 de junho: Claudia Sheinbaum e Xóchitl Gálvez.

Sem um terceiro candidato no horizonte, tudo indica que a disputa eleitoral entre as duas mulheres será um choque de origens, personalidades e estilos.

O México é um país assolado pela violência do tráfico de drogas, uma longa tradição machista e uma onda de feminicídios. Em média, dez mulheres são assassinadas diariamente na segunda maior economia da América Latina; a primeira é o Brasil.

Intelectual de esquerda 

Getty Images - Claudia Sheinbaum

Claudia Sheinbaum, 61, ex-prefeita da Cidade do México, é filiada ao partido Morena, do atual presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, que representa uma linha política mais à esquerda. 

Conhecida por suas políticas progressistas, especialmente em temas ambientais e sociais, é a favorita desde o início da campanha.

Neta de judeus que migraram da Bulgária e da Lituânia para o México, apresenta um perfil reservado e prudente na política mexicana. 

Críticos mexicanos apontam que lhe falta carisma. Mas ela destaca seu compromisso com as lutas sociais e sua distância do antigo partido dominante PRI. 

Vinda da burguesia intelectual da capital mexicana, ela promete dar continuidade às políticas do atual presidente López Obrador, limitado a um único mandato de seis anos, segundo a Constituição.

Sheinbaum diz que defenderá os mais pobres, inclusive as comunidades indígenas, e comemora os bons resultados macroeconômicos do atual governo (moeda forte, finanças saudáveis).

Origem indígena e camaleoa política

Getty Images - Xóchitl Gálvez

Já Xóchitl Gálvez, 60, empresária de origem indígena, é filiada ao PAN (Partido de Ação Nacional), um partido de centro-direita, mas frequentemente adere a políticas progressistas em questões sociais, como aborto, políticas sobre drogas e gastos sociais. 

Ela se declara liberal e progressista, sintetizando as ideias dos três partidos que a apoiam: o liberalismo econômico do PAN, de direita, o ideal de justiça social do PRD, de esquerda, e a herança institucional do PRI.

Gálvez  tem um histórico de envolvimento com vários partidos políticos e coalizões, indicando uma abordagem mais flexível e abrangente em seu espectro político. Foi senadora pelo PAN na legislatura de setembro de 2018 a novembro de 2023.

Lenço colorido

Sheinbaum, a despeito do seu estilo discreto, volta e meia aparece com toques que celebram as cores e as técnicas têxteis mexicanas que ela mescla com terninhos. Em especial lenços coloridos amarrados em volta do pescoço.

A peça que a candidata a presidência do México usa, além de ser um elemento decorativo, remete à tradição e à cultura dos Mestizos. Esse grupo étnico é composto por pessoas de ascendência mista, geralmente europeia (principalmente espanhola) e indígena americana.

O Mestizos emergiram no México durante a era colonial após a invasão dos espanhóis. Esse grupo étnico forma a maior parte da população mexicana e desempenha um papel crucial na formação da identidade e cultura do país, misturando elementos das tradições indígenas e europeias.

Getty Images (Pedro Martin Gonzalez Castillo) - O presidente do México, Lopez Obrador e Claudia Sheinbaum, durante uma cerimônia em julho de 2019 
Wikimedia Commons - Claudia Sheinbaum usa muitos lenços com cores vibrantes

Colorido pré-colombiano

Xóchitl é conhecida por incorporar trajes tradicionais mexicanos em seu guarda-roupa, principalmente durante as agendas públicas. Ela frequentemente usa os tradicionais huipiles, uma espécie de túnica, em eventos de campanha.

Huipil é uma tradicional blusa feminina usada em diversas regiões da América Central, incluindo o México. Feita geralmente de algodão ou outros tecidos leves, é caracterizada por seus bordados coloridos e desenhos que variam de acordo com a região e a comunidade indígena.

Cada huipil pode contar uma história, representar a identidade cultural, as crenças e o status social da pessoa que o veste. É uma peça-chave no vestuário tradicional de muitas comunidades indígenas mexicanas.

Getty Images - Xóchitl Gálvez teve o nome indicado pela frente de partidos de oposição
Getty Images - Xóchitl Gálvez e seus huipiles

Legado de Frida Kahlo

Wikimedia Commons - Frida Kahlo é um ícone de estilo de luta das mulheres

Independente de qual das duas candidatas vença a corrida eleitoral rumo ao Palácio Nacional, a eleição de uma mulher para ocupar o cargo mais importante do executivo mexicano remete ao legado feminista marxista de Frida Kahlo (1907-1954).

A pintora mexicana expressou suas experiências pessoais e desafiou as normas de gênero em sua arte e vida. Suas obras refletem temas de dor, sofrimento, identidade e a experiência feminina, muitas vezes abordando questões como aborto, maternidade e infidelidade.

Frida não se conformava com os padrões tradicionais de feminilidade e expressava sua individualidade e independência através de sua arte e estilo pessoal, tornando-se uma figura inspiradora para muitas mulheres e movimentos feministas.

Que as cores e ideias de Frida, por Sheinbaum ou Xóchitl, ocupem o Palácio Nacional e inspirem responsabilidade política para enfrentar a grave epidemia de feminicídios no México.